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Black Power! Mais que um penteado, a representação do povo negro

Após contornarem episódio de racismo, friburguenses contam com orgulho o motivo de terem cultivado os cabelões

Por Luisa Machado
05/12/19 - 09:33
Black Power! Mais que um penteado, a representação do povo negro Penteado pode representar a luta de gerações de povos africanos | Foto: Reprodução/Maiara Felicio

“Ele falou num tom de piada que o meu cabelo parecia casa de piolho, e depois riu. Naquele momento, eu poderia ter levado na brincadeira também e deixado para lá, mas eu preferi educar aquele rapaz.”

Esse relato é da Maiara Felício, fotógrafa de 25 anos e moradora de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio. Ela sofreu um caso de racismo enquanto trabalhava numa sessão de fotos num colégio da cidade e escolheu não se calar frente ao comentário preconceituoso.

“Na hora, eu desafiei que ele tivesse um cabelo tão cheiroso quanto o meu, e acabei deixando o rapaz constrangido. A gente chama isso de racismo recreativo, porque o povo se acostumou a pegar a nossa identidade preta e fazer piada em cima disso”, conta a fotógrafa.

Maiara optou pelo black power pela representatividade do penteadoMaiara optou pelo black power pela representatividade do penteado | Foto: Reprodução/Redes Sociais

Por mais que muitos tentem disfarçar, o racismo existe e, de acordo com o Atlas da Violência, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no Brasil, a cada 100 pessoas assassinadas, 71 são negras.

Atualmente, por lei, existem o crime de racismo, que é quando atenta contra um grupo de pessoas de outra raça ou etnia, e também o crime de injúria racial, que inclui qualquer tipo de xingamento, comentário ou ofensa feita a qualquer pessoa por causa de sua cor, raça ou característica racial.

Em qualquer um dos casos, é necessário que o ofendido vá à delegacia e abra um boletim de ocorrência. Quando confirmado, o Ministério Público local assume o caso e abre uma denúncia contra o ofensor. Por isso, o registro é a melhor forma de punir e diminuir a ocorrência de situações de racismo.

A advogada e presidente da Comissão das Colônias da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Nova Friburgo, Dayviane Garcia, explica a importância do registro da ocorrência.

“A cada 10 pessoas que sofrem de injúria racial, apenas uma registra o caso na polícia. Isso porque muita gente tem medo de não ser escutada, ou de não dar em nada, mas é totalmente necessário o controle dos casos para que o Ministério Público possa agir”, explica a advogada.

Muitas vezes, como foi o caso da Maiara, o preconceito vem embutido em piadas e comentários que parecem ser engraçados, e também ligados a traços da identidade do povo negro, como por exemplo, o penteado black power (poder negro).

O penteado, hoje identificado como uma das maiores marcas dessa população, ganhou o nome por conta de um movimento social que se iniciou nos Estados Unidos, nos anos de 1920, mas que ganhou força na década de 60 durante uma série de manifestações sociais pela igualdade racial.

Black Power, além de dar nome ao penteado, é também um movimento socialBlack Power, além de dar nome ao penteado, é também um movimento social | Foto: Reprodução/Maiara Felício

Por conta dessa representatividade vinda do povo negro africano, o modelo friburguense Nattan Coutinho também escolheu deixar as madeixas crescerem. Para ele, exibir o black power pelas ruas é uma conquista de gerações.

“Dá vontade de chorar porque parece que não vou sobreviver às manifestações preconceituosas que acontecem, mas ao mesmo tempo não tenho vontade de desistir. O meu cabelo crespo é um manifesto silencioso e faço isso pelas pessoas que vieram antes de mim, que lutaram e conquistaram e deram a sua vida pra que eu tivesse liberdade de expressão e de ser quem eu quero ser, hoje”, explica.

Maiara complementa fazendo uma ligação entre o penteado e a história do povo negro.

“Esse cabelo não é simplesmente um cabelo, esse cabelo é o traço de um povo que foi soberano por séculos dentro da África. Esse cabelo aqui, muitas vezes, representava majestades em reinados. Ele representa um povo que sofreu e aprendeu a sorrir. Que enquanto era açoitado, aprendeu a cantar, e esse é o meu povo”, diz.


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