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Sobre conflitos e confrontos

Por Ricardo Lengruber
16/09/19 - 10:17

Quem viveu num tempo em que ainda não havia internet nem redes sociais deve se recordar das expectativas que havia sobre as múltiplas possibilidades e potencialidades que a rede mundial de computadores nos traria.

Havia a esperança de que trabalharíamos menos e que nos sobraria mais tempo e recursos para curtir dignamente a vida. Havia a promessa, ainda, que as redes nos aproximariam uns dos outros, de tal modo que conseguiríamos superar conflitos que há séculos têm nos afastado e nos feito litigar o tempo todo.

Não foi isso, todavia, que ocorreu. Não é isso que temos experimentado. Temos produzido mais, sim; em menos tempo, inclusive. Mas isso não tem significado menos tempo de trabalho, entretanto. Temos feito mais e, com isso, assumimos cada vez mais afazeres e, portanto, temos nos tornado cada vez mais escravizados pela rotina, pela agenda e pelas exigências cada vez mais cruéis de produtividade e performance. Além disso, conseguimos, sim, estabelecer redes sociais de alcance planetário. Mas, a despeito do que isso parecia prometer, nossa convivência social tem sido, sensivelmente, mais permeada de ódio, intolerância e grupos cada vez mais ensimesmados. Os algoritmos estão nos escravizando por meio da intensificação e do reforço dos discursos.

O que prometia menos trabalho e mais desfrute dos resultados do trabalho tem se mostrado como reprodução da clássica exploração do trabalho. O que prometia mais diálogo e encontro tem se revelado como a clássica relação de poder exercida pelo discurso e pela informação manipulada.

Por outro lado, entretanto, é possível ponderar sobre o quanto as redes sociais virtuais podem nos ensinar a dialogar de forma mais madura. Primeiro porque é um exercício de expressão de ideias e opiniões que exige muita cautela: aprender a se posicionar de modo que a minha opinião não seja ofensiva a ninguém. Depois, porque requer muita atenção ao que está sendo dito pelo outro; demanda um esforço especial para se colocar no lugar do outro e tentar compreender sua perspectiva. É uma arena que demanda, ao mesmo tempo, falar e ouvir; posicionamento e respeito; partido e empatia.

Contudo, como já indicado, essas mesmas redes têm potencializado também muito rancor e agressividade. Não são raras as vezes em que a falta de cuidado com o pensamento alheio é uma verdadeira arma travestida de palavras.

Duas coisas, em particular, têm me chamado à atenção: de um lado, a falta de atenção; de outro, o excesso dessa mesma atenção. De um lado, gente que não lê e opina. Ou, quando lê, não consegue compreender a distinção entre as funções conotativa e denotativa da linguagem, por exemplo. Não sabe o que é ironia, metáfora, hipérbole e analogias. De outro, gente que ignora o cerne e foca no detalhe; e, quase sempre, no detalhe em que há um problema. No detalhe que afasta; que separa; que cria contenda. Pelo em ovo. É uma mistura explosiva de falta de interpretação de texto com mau-caratismo mesmo.

Por isso, mais do que nunca, é indispensável haja cada vez mais gente interessada em ouvir e em mediar essa onda inédita de confrontos. Não é simplesmente assumir o lugar de quem avalia e julga uma disputa do alto de sua prepotência pessoal, tampouco simplesmente desde a cátedra de um juiz autorizado pelo Estado a sentenciar sobre os mil e um litígios que são apresentados no sistema judiciário.

O que se espera e se necessita, nesse momento tão delicado da civilização, é que haja uma escuta efetivamente ativa; que quem fala se sinta respeitosamente ouvido e considerado. Que a relação entre quem fala e quem ouve seja baseada na lógica da empatia, na capacidade de se colocar no lugar do outro e considerá-lo como alguém que deve ter sua dignidade preservada. Que haja boa vontade das partes envolvidas para que as falas sejam interpretadas e reelaboradas sempre com vistas à compreensão e não à disputa. Para ouvir, igualmente com o que ocorre quando se fala, é importante haver criatividade; inventividade e boa vontade para ouvir o que não está sendo dito às claras e que pode promover a superação do confronto.

Conflitos sempre há; a vida é marcada pelas idas e vindas, pelos altos e baixos. Confrontos, por outro lado, são radicalizações voluntárias dos conflitos; são exacerbações deles; são, às vezes, direcionamento mal-intencionado e indisponível à conciliações. Os confrontos precisam ser evitados. Os conflitos, superados com a geração de novas e ricas oportunidades.

Inteligência e tecnologia para isso já temos. Falta agora boa vontade.


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