Julgamento de tabelião acusado de matar esposa grávida e sogros em Friburgo é adiado; nova audiência já foi marcada
"Aquele júri foi totalmente dissolvido, vai começar tudo de novo", diz advogado de irmã da vítima
Réu chegou ao Fórum de Nova Friburgo sob escolta policial
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Foto: Reprodução/Rede Social e Portal Multiplix
Após dois dias de julgamento, o júri popular do tabelião Ricardo Pinheiro Jucá Vasconcelos — acusado de matar a esposa grávida, Nahaty Gomes Mello, 33 anos, a sogra, Rosemary Gomes, 67, e o sogro, Wellington Gomes Mello, 75 — foi adiado.
A decisão foi proferida pela Justiça após o réu ter destituído seu defensor público, na tarde da última quarta-feira, dia 10.
Ele recebeu um prazo de cinco dias para constituir um novo advogado.
No site do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), consta uma audiência de instrução e julgamento marcada para o dia 28 de abril de 2026, a partir das 11h.
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Sérgio Luiz Rosmaninho, advogado de Saliha Gomes Mello (irmã de Nahaty e filha das outras duas vítimas), conversou com a reportagem na manhã desta quinta-feira, 11, e disse que "será uma nova sessão de julgamento, uma nova sessão em plenário, com novos jurados e [vai] começar tudo de novo" e acrescentou que "a juíza ainda vai deliberar se vai preservar ou não os depoimentos que foram tomados".
O julgamento de Ricardo Pinheiro Jucá Vasconcelos teve início na manhã da última terça-feira, 9, na 1ª Vara Criminal de Nova Friburgo, Região Serrana do Rio, cidade onde o caso aconteceu.
Julgamento de Ricardo Pinheiro Jucá Vasconcelos teve início na última terça-feira, 9 | Foto: Reprodução/Portal Multiplix
Veja como foi
Rosmaninho disse à reportagem que, no primeiro dia de julgamento, foram ouvidas todas as testemunhas, tanto as de acusação, quanto de defesa.
Foi um dia longo de trabalho, que começou às 11h de terça-feira e terminou às 3h da madrugada de quarta feira.
Já na quarta-feira, 10, segundo dia de audiência, assim que foram retomados os trabalhos, foi exibido um vídeo de uma testemunha relacionada pela defesa do réu. Em seguida, seria feito o interrogatório dele e depois iniciados os debates orais entre as partes de acusação e defesa.
No entanto, no início do interrogatório, "o réu resolveu desconstituir a Defensoria Pública, alegando uma divergência de tese defensiva. Com essa medida, e considerando que o réu não poderia ficar indefeso, a partir daquele momento a meritíssima juíza que presidia a sessão se viu obrigada a dissolver o Conselho de Sentença e a dar o prazo de cinco dias para que o réu nomeie um novo patrono [advogado]".
Com isso, a pedido do Ministério Público, foi aplicada uma multa pela prática de "ato atentatório à dignidade da Justiça".
Segundo o advogado, a "multa consiste em que o acusado pague todas as despesas do júri, consistentes em alimentação e hospedagem dos jurados, custos com segurança, etc".
O representante da irmã e filha das vítimas diz que ficou muito evidente se tratar de uma medida procrastinatória do réu:
Mais do que um caráter protelatório, visa impor a ela que se mantenha presa a essa causa por tempo indeterminado, impedindo que vire essa página e que possa prosseguir a vida livre dos assombros que esse processo carrega em si. Evidencia, mais uma vez, a ausência de qualquer arrependimento e que ele continua se esforçando para perpetuar todo o mal que causou quando ceifou a vida de uma família que nutria por ele muito carinho e afeto.
O escritório Lugon Advogados, que representa Gustavo de Freitas Mello, irmão de Nahaty e filho de Wellington, afirmou à reportagem que não vai se manifestar no momento.
Ricardo é acusado de matar a sogra e o sogro, depois de alvejar a esposa Nahaty, na época, grávida de 6 meses | Foto: Reprodução/Arquivo pessoal e Internet
"Má-fé na litigância"
Em resposta ao Portal Multiplix, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) classificou a atitude do réu como uma "manobra" e reiterou que o intuito dele é meramente "protelatório".
Veja a nota do MPRJ na íntegra:
"A 2ª Promotoria de Justiça Criminal de Nova Friburgo esclarece que, após acompanhar todos os depoimentos prestados até as 03h de 10/12/2025, e de ter, com a retomada dos trabalhos na tarde desta quarta-feira, assistido ao vídeo do depoimento prestado por sua irmã na primeira fase do procedimento, o réu, no momento do seu interrogatório, desconstituiu a defesa técnica.
A manobra se demonstra claramente protelatória, com o evidente intuito de postergar o seu julgamento, atentando contra a dignidade da Justiça e da vítima indireta dos crimes, a qual prestara corajoso depoimento na véspera.
A magistrada responsável pelo júri entendeu por dissolver o Conselho de Sentença. O Ministério Público, diante desse quadro e em decorrência da má-fé na litigância, requereu o ressarcimento das despesas com alimentação e estadia dos jurados, transporte e segurança, bem como dos valores correspondentes ao deslocamento e às diárias dos profissionais que, ao longo do ato, estiveram à disposição da Justiça - quantia ainda a ser calculada.
O MPRJ pleiteou também que, em proteção à dignidade da vítima e a fim de evitar revitimização, toda a prova produzida até o momento da dissolução seja reaproveitada na sessão de julgamento a ser designada.
O acusado, único responsável pela não realização do julgamento, segue preso preventivamente e assim deverá permanecer."
O crime
As investigações apontam que, em 13 de agosto de 2021, o réu, com 43 anos, teria atirado contra a própria esposa, Nahaty.
A vítima era juíza de paz e estava com seis meses de gestação na ocasião do crime.
Em seguida, ele também teria atirado contra a sogra, Rosemary, de 67 anos.
As duas mulheres morreram no local.
O sogro, Wellington, de 75 anos, foi a última vítima a ser alvejada.
Ele chegou a ser internado em um hospital, mas morreu no dia 1º de setembro de 2021.
Defesa do réu
Em julho deste ano, a advogada Daniela Grégio, que atuava como defesa de Ricardo Jucá, disse ao Portal Multiplix que o réu tem um laudo emitido pelo Instituto Heitor Carrilho, instituição psiquiátrica do estado do Rio, que atesta que ele não teria condições mentais de discernir o certo do errado, no momento do crime.
E, segundo Daniela, por esta razão, ele seria inimputável.
A tese de surto psicótico, foi rejeitada pelo TJRJ, que manteve as qualificadoras de triplo homicídio qualificado e aborto provocado.
Ricardo permanece preso na Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, conhecida como Bangu 8, no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio.
Segundo informado, na época, pela advogada, ele "divide cela com outros detentos e encontra-se em estado normal de saúde".
A reportagem também fez contato com o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), que confirmou a data da próxima audiência.
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