Filme ‘Os moitas de Rio Bonito de Cima’ mostra tradição de localidade em Nova Friburgo
O projeto é resultado de uma pesquisa de doutorado e acompanha o processo de uma manifestação popular inusitada
Pedro Urano não imaginou que de sua pesquisa de doutorado viesse uma inspiração para fazer um filme.
Mas quando ele se aprofundou na história do Carnaval dos moitas, em Rio Bonito, localidade de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, foi inevitável fazer um registro audiovisual daquela tradição de décadas – famosa para alguns e desconhecida para muitos.
"O filme se articula com minha pesquisa de doutorado, mas também é uma produção independente”, explica Pedro Urano.
Carnaval dos moitas atrai turistas para a região | Foto: Divulgação/Pedro Urano
Parte da equipe da produção do filme é composta por colegas de doutorado, mas que já possuem carreira no audiovisual.
“Dito de outro jeito, o filme se vale de pesquisas e artigos desenvolvidos no doutorado, mas foi realizado de maneira independente, com recursos da Lei Aldir Blanc. Foi um encontro de dois universos nos quais atuo: o cinema e a academia”, afirmou Urano.
No documentário ‘Os moitas de Rio Bonito de Cima’, está todo o processo dessa inusitada manifestação popular da Região Serrana – a coleta das plantas na mata, a confecção dos trajes vegetais e a performance noturna.
A pergunta sobre a origem da tradição dos moitas de Rio Bonito assombra a narrativa.
A tradição acontece na Serra do Macaé, em uma pequena vila, onde todo o ano, durante o Carnaval, os moradores locais adentram a mata para colher folhagens.
Filme mostra a tradição na serra de Friburgo | Fotos: Divulgação/Pedro Urano
As folhas são costuradas com barbante numa roupa que serve de estrutura. Cada fantasia é produzida com apenas um tipo de vegetal, sublinhando a percepção da espécie escolhida.
E Pedro Urano explica melhor a técnica:
É a estratégia de agrupamento e acumulação, muito utilizada por Burle-Marx em seus jardins. O procedimento evoca estratégias minimalistas, revelando uma maneira de pensar típica da arte contemporânea.
Os moradores se vestem de folhas e não há desfile ou qualquer tipo de performance formalizada.
Os brincantes passeiam incógnitos pelo centro da vila, à noite, com canudos presos ao rosto oculto, para beber nos copos de outras pessoas.
São conhecidos como ‘moitas’: estranhos personagens, um híbrido de humano e vegetal, e que, depois de entrar na pesquisa de Pedro Urano, se tornaram estrelas do filme lançado esse mês.
A minha pesquisa é sobre a relação sobre imagem e ambiente, imagem e natureza. Essas questões me acompanham um tempo e quando encontrei os moitas, há uns dez anos, eles se apresentaram como uma questão animada sobre essa questão. É uma figura paradoxal porque o que caracteriza o vegetal é a imobilidade e o moita é um vegetal animado, que anda.
Ninguém sabe ao certo a origem das fantasias | Foto: Divulgação/Pedro Urano
Pedro Urano contou que na produção do filme sobre os moitas, passou a observar a natureza com outros olhos, observando a vegetação e os pássaros.
“Em Rio Bonito, os moradores têm um costume de chamar todo mundo de ‘amigo’ e o filme tem esse componente de amizade. A relação com os moitas é resultado disso e o trabalho é também uma celebração de amizade entre humanos e outras espécies, como as inúmeras espécies vegetais”.
O documentário foi exibido apenas para os moradores de Rio Bonito no dia 20 de maio e, em breve, está disponível através da internet. Pedro vai avisar através de suas redes sociais.
Quem quiser ficar ligado, é só conferir o perfil do Pedro Urano no Instagram.
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