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Aproveitar o momento especial ou só fazer o registro digital? Profissionais avaliam esses comportamentos

Cada vez mais, as pessoas priorizam o compartilhamento de acontecimentos nas redes sociais; vício ou sinais da atual geração?

Por Nai Frossard
30/01/23 - 12:56
Aproveitar o momento especial ou só fazer o registro digital? Profissionais avaliam esses comportamentos Celulares trouxeram uma revolução tecnológica e mudanças de comportamento | Foto: Reprodução/Portal Multiplix

O que tem em comum entre uma psicóloga, um fotógrafo e um professor de ioga? Os três são observadores de pessoas, estudam o comportamento humano e analisam essa tendência do mundo contemporâneo, em que o celular é praticamente onipresente e as relações sociais se limitam ao mundo virtual.

No início do ano, um vídeo que registrava a noite de Réveillon em Paris viralizou na internet. As imagens mostram que as pessoas não se abraçavam nem interagiam na hora da virada.

Todos estavam com os celulares apontados para os fogos de artifício no Arco do Triunfo, na capital francesa.

A imagem foi compartilhada nas redes sociais, gerou críticas sobre o comportamento dessa geração e levantou uma pergunta: o celular se tornou mais importante do que a interação com a pessoa que está ao lado?

Para a psicóloga clínica e professora universitária, Maria Clara Rebel, esse acontecimento pode ser analisado por dois aspectos: tem um lado que a leitura pode ser feita como um fenômeno da contemporaneidade e outro, que é motivo de preocupação, pelo impacto que isso possa causar nas emoções, no pensamento e na vida social.

Vivemos um momento em que a gente está meio que inebriado, meio que bestificado, estarrecido com essa ferramenta, que são os smartphones que transmitem em tempo real o que está acontecendo.

O fotógrafo André Valentim conta que lembra quando surgiram as primeiras câmeras digitais e os primeiros celulares, em 2001. Para ele, a nova tecnologia trouxe agilidade e muitos benefícios para a comunicação de uma maneira geral, mas a produção e o 'consumo' de imagens aumentou consideravelmente.

Com as redes sociais, as imagens foram 'banalizadas', avalia André. “Hoje em dia, o mundo virtual anda junto com o mundo real e o imediatismo parece ser o normal. Uma nova geração cresceu vendo o mundo através de uma tela, ou de algumas telas”, observa.

Ilusoriamente, as curtidas 'nutrem' as pessoas de alguma forma e momentaneamente. Por isso, existe uma necessidade de manter este processo que parece não ter fim, como se fosse um 'looping'.

O professor de ioga, Igor Fonseca, também avalia o fenômeno e afirma que fazer fotos, na forma original, é um jeito de relembrar algo marcante.

Acho que é uma maneira muito genuína de eternizar um momento, apesar de eu acreditar que a lembrança - esses fragmentos que a mente mantém na memória, é que produzem as boas sensações.

Mas ele acredita que a ordem foi invertida: ao invés de usar uma foto ou um vídeo para marcar um momento especial, as pessoas acabam procurando momentos especiais para ter 'conteúdo de engajamento'. Igor questiona:

Às vezes, eu me pergunto se a gente está vivendo ou apenas produzindo conteúdo para rede social. De fato, emocionalmente, o nosso dia se desenvolve por tudo aquilo que nós vivenciamos: na vida real ou na vida virtual. Mas parece que os personagens que as pessoas assumem nas redes sociais possuem muito mais destaque do que a verdadeira personalidade que elas têm.

A psicóloga Maria Clara explica que uma das tarefas da psicologia social é tentar entender os 'fenômenos da contemporaneidade ou fenômenos psicossociais' de outras épocas, com o mínimo de julgamento.

Os hábitos de nossa geração também eram considerados exóticos e esquisitos para nossos pais e avós. Houve uma revolução tecnológica das redes sociais e a gente ainda está lutando para compreender as alterações nos afetos, nos pensamentos, e o impacto que as redes sociais promovem em nossa vida.

Muitas pessoas preferem registrar o momento para mostrar para os outros do que viver o presenteMuitas pessoas preferem registrar o momento para mostrar para os outros do que viver o presente | Foto: Reprodução/Portal Multiplix

Maria Clara percebe que há uma confusão entre o 'like' e o afeto e, também, uma confusão entre viver e registrar o momento, dando a ele a conotação que a pessoa quer que ele tenha.

É claro que a gente pode perguntar se há um empobrecimento nas relações sociais. Isso é preocupante e tem sido bastante discutido, dentro da sociologia, da psicologia e do jornalismo.

Mas ela pondera: “É também uma nova maneira de expressar que você está vivendo um momento muito incrível e está compartilhando com alguém que não está ali com você.

Já o fotógrafo André Valentim acredita que para algumas pessoas, parece que é mais importante registrar o momento para mostrar para os outros do que 'viver o presente com o coração e interagindo com o próximo'.

Viver o presente é uma forma de desenvolver a nossa memória afetiva, fundamental no processo de desenvolvimento pessoal e de autoconhecimento.

André afirma que o reflexo desta maneira de viver só 'saberemos daqui a alguns anos'. Ele aponta que é fundamental aproveitar os benefícios que a tecnologia tem a oferecer, sem esquecer o que é simples e natural, “como olhar para o céu e saber onde nasce o sol”.

Ele ressalta que as imagens digitais ficam armazenadas em dispositivos como HDs, 'nuvens', pendrives ou no próprio celular. Mas André também questiona:

Se não tivermos acesso ao armazenamento, o que é que fica guardado dentro de nós?

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