Padre suspeito de cometer crimes contra mulher em Nova Friburgo vai cumprir prisão domiciliar
A Me Too Brasil, que denunciou os casos ao Ministério Público e acompanha a vítima, lamentou a decisão
A juíza da 1ª Vara Criminal de Nova Friburgo, Simone Dalila Nacif Lopes, revogou a prisão preventiva do padre Alexandre Paciolli, que foi preso no último dia 3 em Fortaleza, no Ceará, por suspeita de cometer crimes de importunação sexual e estupro de vulnerável na cidade serrana do Rio.
Os casos teriam sido cometidos contra uma mesma mulher em agosto de 2022 e janeiro de 2023.
A decisão foi tomada nessa quarta-feira, 10, e estabelece que o padre passe a cumprir prisão domiciliar após o pedido da defesa, que justificou:
Em 20/03/2024, ou seja, há menos de 15 dias de sua prisão, requerente havia sido submetido a procedimento cirúrgico de grande porte em sua coluna, estando extremamente debilitado e correndo sério e grave risco de vida.
Além do estado de saúde, a defesa também alega que ele já “responde a processo junto a Arquidiocese do Rio de Janeiro, não podendo atuar no exercício de sua profissão, o que descaracterizaria a necessidade da prisão para garantia da ordem pública”.
De acordo com a decisão, o Ministério Público foi contrário à prisão domiciliar, reforçando que “os fatos imputados ao acusado são graves e a prisão deve ser mantida como forma de coibir eventos futuros”.
Nessa terça-feira, 16, o MPRJ informou que recorreu oficialmente à decisão, por meio da 1ª Promotoria de Justiça Criminal de Nova Friburgo.
De acordo com o órgão, “o denunciado não comprovou estar ‘extremamente debilitado por motivo de doença grave’, como alegou sua defesa ao solicitar a conversão da prisão”.
O recurso do Ministério Público ainda destacou que a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária não teve a oportunidade para que “informasse sobre a possibilidade de fornecer os cuidados pós-operatórios que o padre alega necessitar após uma cirurgia de coluna”.
Um outro ponto do documento cita a existência de outras pessoas que teriam sido vítimas de Alexandre Paciolli:
É válido frisar que o recorrido possui intensa ligação com o Vaticano, se deslocando para a cidade de Roma com frequência e facilidade, o que pode prejudicar a instrução processual, e que há outras tantas vítimas e testemunhas que se sentiram encorajadas a prestar depoimento após a prisão do denunciado.
Na decisão da 1ª Vara Criminal de Friburgo, a juíza argumentou:
O réu foi submetido à cirurgia de grande porte em 20/03/2024, necessitando de repouso e cuidados de higiene, sob risco de contaminação do sítio operatório, havendo, ainda, indicação de fisioterapia motora pelo período de 90 (noventa) dias.
Com a prisão domiciliar, Alexandre deve seguir algumas medidas cautelares, como se apresentar mensalmente à Justiça, levando o relatório médico detalhado.
Além disso, Alexandre está proibido de manter contato com a vítima e testemunhas por qualquer meio de comunicação.
Caso, o suspeito descumpra as regras, ele voltará para a prisão preventiva.
A Me Too Brasil, que denunciou os casos envolvendo o padre ao Ministério Público e acompanha a vítima, lamentou a decisão:
A organização lamenta a escolha, que prejudica o bem-estar emocional e psicológico da vítima, colocando-a em risco de intimidação, e alerta para a possibilidade de fuga do acusado. Inclusive, não há informações de que seu passaporte internacional foi apreendido, se possui passaporte missionário, ou se tem dupla cidadania.
Além disso, a Me Too informou que “cabe recurso da decisão”.
A organização que auxilia a vítima confirmou que o padre foi afastado pela Arquidiocese do Rio de Janeiro e que a Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio) criou uma comissão para receber denúncias contra o padre.
Tentamos contato com a PUC-Rio sobre o andamento dos trabalhos da comissão, mas ainda não tivemos retorno.
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