A cada três agressões à mulher, uma é atribuída ao fim do relacionamento
Levantamento é da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro; Tecle Mulher oferece serviço de orientação e apoio à vítima, em Nova Friburgo
06/03/20 - 14:51
Um levantamento feito pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, divulgado nesta sexta-feira, 6, mostra os casos de feminicídio no estado. A pesquisa, com base em 107 processos em tramitação nos tribunais federais, mostra o panorama das vítimas.
A pesquisa analisa que a maioria das mulheres são atacadas em casa pelo atual companheiro ou o ex. Essas vítimas têm entre 21 e 40 anos e a cada três agressões, uma é atribuída ao fim do relacionamento. De acordo com a Defensoria Pública, ciúme, estupro e vingança também estão na lista de motivos.
Em Nova Friburgo, o Tecle Mulher, serviço de orientação e apoio à mulher vítima de violência, destaca que o machismo impera na sociedade desde os séculos antes de Cristo e que os casos de violência contra a mulher só começaram a ser percebidos no final do século passado. Desmistificar e descontruir o poder do homem sobre a mulher, não é uma tarefa fácil.
“Somente através dos movimentos de mulheres que as questões vêm sendo debatidas e demonstradas através das estatísticas alarmantes que hoje estão visíveis pela mídia. Até a constituição de 88, o homem tinha direito de bater na sua mulher com a finalidade de corrigi-la. A aceitação do homem pelos direitos iguais ainda é um conceito que somente através da educação poderá ser revertido”, disse a psicóloga Débora Spezanes.
Ainda segundo a pesquisa, a maioria das vítimas mantém algum tipo de relacionamento com o agressor, seja namoro, casamento ou união estável. Cerca de 62% desses casos eram de até cinco anos.
“Meter a colher” com a devida segurança ainda é uma questão muito complicada. Hoje, com meios de denúncia anônima através do 180 ou da Polícia Militar 190, onde existe a Patrulha Maria da Penha, são os meios mais corretos de ação. A pessoa, estando perto de onde ocorre o crime, sendo um vizinho ou conhecido, além de chamar a polícia, poderá tocar a campainha do local, perguntar se alguém precisa de ajuda e, enquanto isso, proporcionar tempo da vítima se proteger e solicitar ajuda”, explica Débora.
De acordo com a psicóloga, é importante dar conhecimento para que a vítima saiba dos locais em que pode solicitar ajuda, como, por exemplo, escrevendo para o Tecle Mulher por meio do site, no link “Saiba como agir!”.
“É voltado para dar fortalecimento moral, informação das questões dos direitos e da Lei Maria da Penha e ser encaminhada aos serviços apropriados de forma segura e legal; ir ao Centro de Referência da Mulher onde terá apoio psicológico e jurídico gratuitos e conseguirá ser acompanhada à Delegacia da Mulher para fazer sua denúncia e solicitar as Medidas Protetivas de Urgência”, destacou.
A pesquisa destaca que a maioria das mulheres já tinha sido submetida a algum caso de violência doméstica, que pode ou não ter sido registrado na delegacia. O estado justifica a falta de denuncia das mulheres por medo dos agressores ou por coação.
De acordo com Débora, a diminuição nas denúncias também acontece por causa das dificuldades em realizá-las, por mal atendimento à vítima nos serviços especializados e violência institucional nas delegacias e pontos de apoio.
“Existe uma visível diminuição dos serviços de proteção, assim como os profissionais que atuam na área não estão sendo capacitados para o entendimento do que seja a violência contra a mulher. Logo elas precisam voltar a conviver com o agressor, momento em que, muitas vezes, acabam perdendo a vida”, finalizou.
No Rio de Janeiro, existem apenas duas Casas Abrigo para as vítimas de violência doméstica. E no período entre a denúncia contra o agressor e a volta para casa, as mulheres acabam deixando de ser protegidas pelos serviços especializados.
Outros dados
- 39% dos crimes aconteceram a noite
- 34% de madrugada
- 73% deles foi no período de descanso as mulheres
- 72% na residência das vítimas