Caiu! Secretária de Saúde de Nova Friburgo deixa cargo após vazamento de áudio
Decisão foi tomada no início da noite depois de reunião entre Tânia Trilha e o prefeito Renato Bravo
11/06/19 - 19:37 | Atualizada em 11/06/19 - 20:10
A secretária de Saúde de Nova Friburgo, Tânia Trilha, deixou o cargo nesta terça-feira, 11. A decisão foi anunciada no início da noite. Segundo a assessoria de Comunicação da prefeitura, a saída de Tânia foi acertada após reunião entre a então secretária e o prefeito Renato Bravo. O nome do novo titular da pasta ainda não foi divulgado.
“O Prefeito Renato Bravo realizou uma reunião, na noite desta terça-feira, 11/06, com a Secretária de Saúde Tânia Trilha. No encontro, ficou acertado que, a partir de agora, Tânia deixará o cargo”, diz o comunicado.
A decisão ocorre menos de 24 horas após o vazamento de um áudio envolvendo Tânia, na noite de segunda, em uma conversa com o ex-diretor do Hospital Raul Sertã, Arthur Mattar Gremion. O áudio viralizou nas redes sociais.
No áudio, com apenas 16 segundos, a secretária dá ordens com relação ao caso de um paciente.
Arthur, meu querido, olha só, eu preciso só que resolva. Que opere o paciente ou que ele morra, entendeu? Pra gente se ver livre do problema. É só o que eu preciso, porque eu tenho que cumprir uma decisão judicial. Você me ajuda nisso? Obrigada, meu querido.
Tânia Trilha é professora e advogada, tendo assumido a gestão executiva da Saúde em setembro de 2018, após a saída do então secretário Christiano Huguenin. Antes, Tânia havia sido subsecretária de Saúde. Também já teve passagem pelas secretarias de Educação, Fazenda e Logística, e Infraestrutura, em governos anteriores.
Postagem em rede social
Em nota publicada em uma rede social, Tânia confirmou a saída da secretaria e justificou o contexto do áudio. Confira a íntegra do posicionamento abaixo:
“Comunico a quem interessa possa que acabei de pedir a minha exoneração do cargo de Secretária Municipal de Saúde de Nova Friburgo.
Resposta ao áudio.
Em 23/01/2019, recebemos um mandado judicial para internação de um paciente no CTI. Como de costume, falamos no grupo restrito da Direção do hospital Raul Sertã, em que participavam eu, o Diretor Médico na ocasião, Arthur Mattar, a Diretora Geral e a Subsecretária de Atenção Hospitalar, vez que sempre conversávamos de forma privada em tal grupo, sobre o direcionamento das condutas a serem realizadas. Ressalvando que as condutas médicas não eram de minha competência, pois o médico dirigente, era o Dr. Arthur, que no caso do referido paciente, ele mesmo já havia nos informado da situação de risco de morte e que só teria vaga no CTI do nosso hospital se alguém morresse, ou seja, se tivesse “alta celestial”, palavras frequentes do Dr. Arthur.
O paciente, segundo o Diretor Médico, tinha a saúde completamente debilitada, necessitando fazer uma cirurgia e o mandado determinava a internação dele no CTI. Nosso hospital não tinha leito de CTI vago. Autorizei de pronto a internação dele em um hospital privado da municipalidade, arcando a administração pública com o custo e demais despesas necessárias à acomodação do paciente no CTI, prática reiterada, por vezes, pois nossa gestão prima sempre pela vida. Prática essa que aprendi em casa com a minha família e a pratico no dia a dia por aqueles que comigo convivem, sendo fácil comprovar.
Após horas e horas de discussão que se prolongou até o dia 24/01, a respeito da situação do paciente, se primeiro seria feita a cirurgia e depois a sua remoção para o CTI, ou vice versa, aguardando posicionamento do Diretor Médico quanto ao contato com os profissionais que realizariam a cirurgia e quanto a decisão se o paciente estava estável o suficiente para suportar o procedimento, eu disse com ênfase às frases veiculadas no áudio de forma isolada, buscando não a morte do paciente, mas a resolutividade da circunstância.
Entendo que a conduta de divulgar um áudio de um grupo privado de Direção descontextualizada, é um ato criminoso e no mínimo antiético que não merece crédito, pois se vale de um momento político e de julgamento daqueles que desconhecem a minha postura integra, profissional e acima de tudo humana. Sendo certo que as medidas judiciais cabíveis serão tomadas.
Tânia Trilha."
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Arthur Mattar
Arthur Mattar Gremion Soares foi diretor-técnico do Hospital Municipal Raul Sertã entre novembro de 2018 e maio deste ano. Ele pediu demissão do cargo e entregou carta à Câmara de Vereadores da cidade comunicando seu desligamento. Na carta, o ex-diretor não apontava claramente os motivos de seu desligamento, mas indicava que não compactuava com a gestão da Secretaria Municipal de Saúde, na qual, segundo ele, “os valores judiciais são mais importantes que os humanos”.
No documento, o ex-diretor destacou também que, por respeito ao seu juramento médico e aos seus princípios, e por entender que não conseguiria mudar o quadro atual do local, decidiu sair do governo, o qual classificou como “gestão incompetente e onde uma lei vale mais que uma vida”.
Posição do Cremerj e da Comissão de Saúde da Câmara
Durante a tarde, o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) chegou a publicar nota de repúdio em seu site, denunciando o ocorrido no Hospital Raul Sertã, em Nova Friburgo, alegando que a suposta atitude da secretária feria os princípios fundamentais do Código de Ética Médica e da Constituição Federal.
O Cremerj ainda afirmou que ingressaria com representação de improbidade administrativa no Ministério Público do Rio de Janeiro, por violação do princípio da moralidade administrativa.
A Comissão de Saúde, Prevenção e Combate ao Uso de Drogas da Câmara Municipal, por meio de seu presidente, vereador Wellington Moreira (MBD), também se posicionou sobre o caso e ingressou com um requerimento no MPRJ solicitando a exoneração imediata da secretária de Saúde