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A democracia em crise e a crise de representatividade

⁢O sistema político brasileiro está combalido, mas não será resolvido com autoritarismo

Por Conrado Werneck Pimentel
21/06/18 - 09:36

Quando representantes diretamente eleitos pelo povo se desacoplam da realidade, vivemos o que o sociólogo Emile Dhurkeim chama de anomia – um momento em que há a perda de identidade e de referências de regras morais e sociais para que haja a harmonia da sociedade – ou a heteronomia.

Este vazio atual no qual estamos imersos deu seu primeiro sinal mais claro nas manifestações de 2013, mas existiam já há muito tempo. Seu ápice se deu na votação do impeachmeant da ex-presidente Dilma Rousseff. Quando televisionado, vimos deputados e senadores usarem Deus e a família para justificarem seus votos. Agora, a situação persiste no governo Temer com ministros implicados em operações da Polícia Federal ou que já estão sob investigação de órgãos públicos.

Esse desencaixe da casta política brasileira frente a realidade nua e crua da sociedade – que pode ser vista também simplesmente como uma sucessão de incoerências – faz com que práticas moralizantes sejam ansiadas por parte da população, como se assim esse afastamento pudesse ter fim.

Qual é o custo deste distanciamento?

Tamanha crise de representatividade é vista por uma parcela da população – que parece crescer a cada greve, a cada prisão de políticos e empresários – como a falência do governo civil. Todos os grandes marcos históricos do país tiveram como figuras presentes – quando não centrais – os militares. Da Proclamação da República ao Estado Novo, passando pelo Golpe de 64 e a própria redemocratização. Não é por menos que essa parcela da população grite aos quatro ventos a necessidade de uma intervenção militar para que a ordem seja restabelecida. Tal ideia é rechaçada nos mais diversos meios – inclusive o dos próprios militares –, mas a descrença com o sistema político tal qual se encontra é grande o suficiente para que estas ideias militaristas se disseminem em um campo que tem se mostrado fértil para a solução dos problemas pelos quais passamos.

Tudo indica que dificilmente veremos quadros políticos renovados em toda e qualquer instancia da institucionalidade brasileira. Há fortes indícios de um recrudescimento de pautas progressistas frente à descalabros que estão sendo disseminados – e comprados – que, ao cabo e ao rabo, são o que nos impedem de discutir a política no sentido público e comum. Como discutir política de drogas quando ainda temos que fazer a defesa dos Direitos Humanos? Como discutir o aprofundamento da democracia e novas formas de fazer política quando ainda temos que defender a democracia em si? Estes são desafios que à primeira vista se mostram a nós como desalentos frente ao grande trabalho que ainda precisa ser feito dentro de uma sociedade estruturada sobre o sistema escravocrata, paternalista e militarista, mas é um caminho pelo qual obrigatoriamente teremos que percorrer para que tais estruturas sejam finalmente sepultadas. E um passo a ser dado é rever a história recente do país.

Quando os discursos moralizantes mostram um poder de mobilização da sociedade maior do que propostas públicas, laicas e comuns, é um forte indicativo de que o próprio sentido da res pública – a coisa do povo – está defasado. É o momento em que a esfera privada de relações sociais se esgueira para dentro de políticas públicas e tornam-nas facetas de preferencias individuais dos cidadãos, ao invés de serem o retrato da busca por uma sociedade mais justa e igualitária.

O que temos que ter em mente é que o conceito de democracia não é algo fechado em si – muito pelo contrário, ele deve não só ser respeitado como continuamente aprimorado para que a distância entre aqueles que governam e a realidade do povo brasileiro não se torne abissal ao ponto de querermos retroceder a formas ditatoriais de governo.


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