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A gente era feliz e não sabia

Por George dos Santos Pacheco
30/03/22 - 09:28

“Se um homem fala ou age com o pensamento puro, a felicidade o acompanha como uma sombra que jamais o deixa.” (Buda)

No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho. Pois é, Menino de Itabira, há quem passe por um bosque e só veja lenha para a fogueira. Não é difícil topar por aí com um macambúzio terráqueo chutando pedrinhas entre muxoxos melancólicos, afinal, cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração. Mas ora bolas. Tá bom, mas tá ruim ou tá bom, mas pode melhorar? O que este pretenso libelo aspira é encontrar a causa, motivo, razão ou circunstância de a gente nunca sentir-se pleno o suficiente e viver enxergando cascalho pela senda. Por que, meu Deus, por quê?

Desde os úteros procuramos a satisfação, a felicidade, é da nossa natureza e não há como fugir ou negar isso. Embora sejam conceitos não sinônimos, em nosso dia a dia, não nos bastam os pequenos júbilos, momentos ou conquistas efêmeras que nos garantem bem-estar. Contudo, o que é a felicidade, enfim? É algo que projetamos ou que existe, de fato?

Para o budismo, a felicidade não depende de fatores externos, mas unicamente de nós mesmos. Para o cristianismo, a felicidade vem de Deus e está em Deus, sendo um conceito bastante amplo porque implica um modo de viver em Deus. Para Aristóteles, o que realmente realiza o homem e o faz feliz é a posse ativa da sabedoria prática, que o permite agir do modo certo na situação adequada, o que implica discernimento e lucidez, algo propriamente humano e que não depende dos outros para terem valor. Embora existam variados conceitos de felicidade, eles estão mais ou menos alinhados. E assim como diversos são os conceitos, muito mais são as interpretações – e aí é que mora o perigo.

Meu São Drummond de Andrade, rogai por nós! Venderam-nos uma versão deturpada da felicidade. Isso mesmo, o termo adequado é “vender”. Onde estiver seu tesouro, também ali estará o seu coração, e o Sistema sabe muito bem disso. Vivemos em um planeta, um país, um estado, uma cidade, e uma família, profundamente capitalistas e comerciais. Em tudo há um interesse político, econômico e comercial – e com o produto felicidade não seria díspar.

Nessa toada, para ser feliz é preciso ter um carro zero quilômetro, câmbio multitronic e o escambau; uma TV Smart de quinhentas polegadas e “trocentos” megatons; um celular de última geração com tela dobrável, amassável, câmera absurda e processador hardcore; comer nos melhores restaurantes; beber aquela cerveja lager da modinha; usar um copo térmico que virou onda; gastar dinheiro demonstrando desapego… e, por último e não menos importante, ostentar tudo isso na rede social (oxalá tenha um monte de curtidas na postagem!). Para esmiuçar mais, só escrevendo outra crônica. E a gente não tem tempo para isso.

Acusem-me de comodista e pouco ambicioso, mas fato é que não carecemos dessa parafernália toda para sermos felizes, aliás, precisamos de um patrimônio muito mais simples para um sorriso de orelha a orelha. Felicidade é um abraço, um beijo dos filhos, da esposa, dos pais, dos irmãos; Felicidade é um ter teto para dormir; Felicidade é ter o que comer; Felicidade é ter um emprego decente; Felicidade é andar descalço quando quiser; Felicidade é tomar um banho de chuva quando puder; Felicidade é ser respeitado; Felicidade é respeitar; Felicidade é poder garantir para alguém tudo isso e muito mais. Felicidade é deitar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilo. Vê, meu camarada, é simples ser feliz, nós é que complicamos demais.

É claro e evidente que somos em maior ou menor escala, doutrinados a pensar na felicidade como um produto, mas a doutrinação não é passiva, aceitamos se permitirmos. O remédio talvez fosse exercitar nosso espírito crítico e reflexivo para discernir essas coisas, mas vá lá, quem tem tempo para isso?

O título da crônica está errado. Deveria ser “A gente é feliz e não sabe”. Infelizmente, muitas vezes só damos conta do que nos traz felicidade quando o perdemos. Focamos mais no destino da viagem, do que na paisagem do caminho, na companhia, no vento no rosto. Momentos felizes não estão no passado, nem no futuro. Por isso, felicíssimo terráqueo, não se cobre tanto. Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade, não é, Menino de Itabira? E mesmo que a sua vida não esteja lá uma Brastemp, os dias vão pra nunca mais. Além disso, “Felicidade é só questão de ser” - e só.


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