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De novo, as chuvas

Políticas públicas de remendo não irão resolver as enchentes

Por Conrado Werneck Pimentel
10/01/20 - 15:17

Novamente estamos no período chuvoso mais traumático para os friburguenses e continuamos a assistir ruas inundadas e rios transbordando. Até o fim do período, certamente a cena se repetirá. Enquanto houver o crescimento e o descontrole das mudanças climáticas, continuaremos a rever essas cenas em loop, quando não relembrarmos de fato a tragédia que atingiu a cidade e a região serrana em 2011. Chegará o verão de 2021 e veremos tudo novamente. A pergunta, já desgastada – até quando? – parece já não bastar. Talvez seja mais interessante perguntar a nossas autoridades – passadas, presentes (?) e futuras – por quê?

Certo é que existem estudos hidrográficos que explicam bastante o porquê de sofrermos tanto com as chuvas de verão. O fato de a cidade ter sido estabelecida nas bacias do Rio Grande e Rio Bengalas é um ponto importante. Em um contexto em que as chuvas se adensam em períodos mais quentes – que tendem a se tornar rotina – é outro ponto. Mas não basta. Não basta olharmos apenas para mudanças climáticas ou questões naturais para tentar entender ou ao menos explicar os efeitos que castigam a cidade e a região Serrana.

Vale olharmos também – quem diria? – para a cidade em si. As galerias fluviais são as mesmas de qual século? Foram construídas pensando no crescimento da cidade (que, como na maioria dos casos brasileiros, de forma desordenada)? Levou em consideração o crescimento populacional, o descarte da água usada de forma irresponsável, o desmatamento e a ocupação de encostas? Contou com o crescimento de bairros sem tratamento de esgoto? A cidade foi pensada ou só serviu como espaço de remendo de problemas históricos e, quando possível, tirando proveito de suas potencialidades em forma de especulação imobiliária ou rentismo? Que cidade foi essa construída em torno de suas montanhas acinzentadas?

Tenho que, aqui, fazer o papel de advogado do diabo. É claro que há um século atrás era difícil prever o impacto de mudanças climáticas – talvez inimagináveis à época – ou até mesmo como uma sociedade como a friburguense seria capaz de ocupar o espaço que é dado como seu: sua cidade. Mas essa perspectiva não faz mais sentido nos dias de hoje.

Mas já, há pelo menos meio século, que existe uma coisa muito importante que é ignorada pela grande maioria de todos os governantes que já passaram pelo poder público: o planejamento urbano. Sem planejamento urbano não há crescimento sustentável possível, muito menos um que seja minimamente justo para a massa da população. Sem planejamento urbano não há qualidade de vida possível se não somente para alguns poucos (e sabe-se lá até quando). Com a gama de expertise que há no assunto – geógrafos, sociólogos, urbanistas, arquitetos, técnicos diversos – os gestores de ontem e de hoje continuam a preferir a política pública do remendo: tapar um buraco, limpar bueiros, ruas e vielas, fazer uma contenção de encosta aqui e acolá. São todas importantes – mas não decisivas na manutenção da qualidade de vida da população que não vise 4 anos de mandato, seja do Executivo ou do Legislativo. Jogam, indefinidamente para a frente, o problema que, com o passar do tempo, só irá aumentar, e ignoram o planejamento urbano.

Enquanto não houver uma política pública que leve a sério a manutenção da cidade para que, na década que se inicia, sejam mitigados os efeitos das chuvas, estaremos mais suscetíveis aos impactos das chuvas – sejam elas fortes ou apenas constantes. Enquanto não for cobrado do Executivo e do Legislativo que exerçam sua função – que administrem, de fato, a cidade – continuaremos sujeitos ao bel prazer das circunstâncias que permeiam e norteiam os poderes que, pelo visto, pouco estão interessados em resolver os problemas cotidianos da cidade. Tratar o problema em sua profundidade, em sua raíz, talvez seja mais frutífero do que insistir na política do remendo.


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