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Você sabe quais povos indígenas povoaram Nova Friburgo e região?

No Dia Nacional da Luta dos Povos Indígenas, conheça um pouco sobre os povos originários que habitaram a região

Por Sara Schuabb
07/02/19 - 10:49
Você sabe quais povos indígenas povoaram Nova Friburgo e região? Quadro do pintor francês Jean-Baptiste Debret que retrata a cerimônia de dança de uma tribo de índios Puri | Foto: Reprodução/Internet

Muito se sabe sobre o estabelecimento de colonos vindos da Europa na fundação dos municípios da Região Serrana, mas pouco se sabe e é divulgado sobre os povos originários que viveram na serra fluminense e sobre os que resistiram desde a chegada dos europeus, em 1500. E nesta quinta-feira, 7 de fevereiro, Dia Nacional da Luta dos Povos Indígenas, nos perguntamos: que povos viveram ou passaram por esta região? Qual a importância dessa população ancestral em nossa história? Por que ainda continuam invisíveis e, em muitos casos, sendo expulsos de suas terras?

As informações sobre os povoamentos indígenas no interior do Rio de Janeiro remontam antes do século XVIII. E, como Nova Friburgo pertenceu a Cantagalo até 1818, a história da presença indígena na região se envereda com a do respectivo município. Segundo o historiador Carlos Bezerra, que fez um estudo sobre os povos originários de Cantagalo, por estas bandas há registros que existiram as aldeias dos Puris, Coroados e dos Coropós, enquanto os Goitacá e os Botocudos tinham a presença predominante no litoral do estado do Rio de Janeiro.

“Os Goitacá eram considerados entre os indígenas como mais bravos, e mais aptos à guerra e teriam então expulsado os Coroados, Puris e Coropós do litoral para o interior, o que nos leva a crer que podem ter vindo para a região serrana também.”, diz.

De acordo com o historiador, há notícias de estabelecimento missionário jesuíta a cerca de 15km da região do atual município de Cantagalo, no século XVIII, às margens do rio Bossarahi. E sobre o aldeamento, há poucos registros, mas certamente foi estabelecido antes de 1759, atraindo grupos indígenas que viviam na região chamados de Coroados.

Origem dos nomes Puri, Coroado e Coropó

Carlos Bezerra diz que o nome Puri é, na verdade, uma designação pejorativa dada a esse povo pelos seus vizinhos, os índios Coroados, com quem viviam em guerra. E o apelido acabou ficando como a identidade definitiva. Já o nome Coroado, também foi um apelido criado pelos portugueses por causa do corte de cabelo, com destaque circular na parte mais alta e posterior da cabeça, semelhante aos frades franciscanos.

Quanto à origem da palavra Coropó, não há registro mas existem descrições sobre eles datadas de 1818, por dois cientistas alemães, Spix e Martius, que diziam que eles tinham estatura mediana, de ombros e de queixos largos, muito magros, enquanto os Puris, vistos pelos mesmos viajantes, tinham o porte baixo, a pele de um vermelho-pardo, o cabelo negro de carvão, a cara larga e angulosa e os olhos pequenos. Já os Coroados foram descritos como robustos e com ombros largos, pescoço curto e grosso e os dentes muito alvos, com os incisivos bem alinhados e os caninos salientes.

Como era a vida desses povos indígenas?

Ainda segundo Carlos Bezerra, esses três povos, além de criar galinhas e possuir cachorros, praticavam agricultura. No século XIX, os Coropós, já em contato com a população regional do norte fluminense, cultivavam milho, abóbora, banana, cará, feijão e algumas árvores frutíferas.

Já os Coroados se destacavam com as tarefas agrícolas, dominavam a culinária e eram considerados bons oleiros e ceramistas. Fabricavam potes, vasos, jarros e utensílios, como peneiras de vime, cestas de palha de várias formas e tamanhos, semelhantes às fabricadas pelos Tupis, e cuias.

Nas descrições sobre o modo de vida desses povos, os Puris e os Coroados são apresentados sempre como excelentes caçadores, que utilizavam os mais variados métodos de caça, com o uso de alçapão, arapucas, laços, armadilhas e arcos. Os Puris moravam em cabanas cobertas de palha e os Coroados, em malocas coletivas com construção bem elaboradas, que abrigavam cerca de 40 pessoas.

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Indígenas da região eram vistos como inferiores e primitivos

Em relação aos primeiros habitantes da Região Norte Fluminense, a historiadora Janaína Botelho, diz ter encontrado informações relevantes na tese “Ouro, posseiros e fazendas de café”, de Mauro Leão Gomes. Janaína diz que Leão Gomes registrou a impressão dos viajantes sobre os indígenas no Centro-norte fluminense com a observação feita pelo naturalista Von Tschudi, que percorreu as províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo no período de 1857 a 1859.

"Tschudi encontrou no caminho alguns ranchos miseráveis de índios. Relata que em nenhum deles havia plantação e que nas habitações encontrou os indígenas numa inércia, sempre prontos a pedir esmola. Ele se referia aos índios Coroados da Aldeia da Pedra, onde hoje é Itaocara, fundada em 1808, pelo missionário capuchinho Tomás Civitta Castella. O aldeamento ficava próximo à vila de São Fidélis, na região de Cantagalo."

Conforme a tese de Leão Gomes, a historiadora reforça que a impressão de Tschudi revela a visão que predominava na sociedade brasileira do século XIX sobre os indígenas, com base em princípios ideológicos que os consideravam inferiores e primitivos, e por essa razão mantinha os índios restritos em suas aldeias, submetendo-os aos valores civilizatórios ocidentais.

Nessa tese, ainda há relatos de que o conde Adalberto da Prússia, que percorreu a província do Rio de Janeiro em 1842, teve contato com a aldeia dos Puris, próxima a Cantagalo, e registrou, com seu olhar eurocêntrico, que os índios eram indolentes e não faziam outra coisa senão dormir, comer, caçar e pescar.

"De acordo com Leão Gomes, o príncipe prussiano não percebia que as lavouras dos índios se encontravam na floresta, em meio às clareiras. Na realidade, viviam não apenas da coleta, mas também cultivavam parte dos alimentos que consumiam. Diversas espécies de plantas alimentícias e medicinais, bem como árvores frutíferas foram cultivadas nas florestas pelos indígenas."

Para Leão Gomes, as culturas ameríndias desenvolveram técnicas sofisticadas de adaptação ecológica, que utilizavam de forma sustentável recursos dos diversos ecossistemas da floresta. No entanto, o que prevaleceu foi a forma de cultivo do campesinato europeu. Em sua tese ele diz: "esta mudança na maneira de viver e produzir representava a extinção do modo de vida do saber ecológico destes habitantes da floresta. Os Puris realizavam trabalhos para alguns fazendeiros da região de extração de madeira e transporte das toras. Nos locais onde se abatiam as árvores formavam-se roças e pastagens. Na medida em que a cultura de alimentos foi penetrando pela floresta, os indígenas eram forçados a se retirar. Impunha-se ao índio a assimilação ou a rendição. Dessa forma, paulatinamente, os índios foram sendo expulsos da província do Rio de Janeiro."

Indígenas no Brasil

De acordo com o Censo de 2010 do IBGE, o país tem 896,9 mil indígenas em todo o território nacional.

Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), existem 225 povos indígenas além de 70 tribos vivendo em locais isolados e que ainda não foram contatadas.

Em relação às línguas, foram identificas 274 línguas, sendo a Tikúna a mais falada - 34,1 mil pessoas. Dos 786,7 mil indígenas de 5 anos ou mais, 37,4% falam uma língua indígena e 76,9% falam português.


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