Quando o açúcar pode começar a fazer parte da dieta das crianças?
Consumo do açúcar natural dos alimentos é liberado após seis meses de vida, mas o refinado continua contraindicado mesmo depois dos dois anos
05/09/18 - 09:30
Um cenário chamou a atenção do Ministério Público Federal em outubro do ano passado. Índios venezuelanos da etnia warao, cada vez mais presentes no norte do Brasil, estavam desenvolvendo graves problemas de saúde, como desnutrição e diarreias crônicas. Na Venezuela, o acesso a alimentos de qualidade era difícil. Já aqui no Brasil, para onde vieram fugindo da fome, os pontos onde eles se abrigaram ficavam próximos a áreas de tráfico de drogas e prostituição, o que também complicava as condições desse grupo. As crianças eram as principais prejudicadas e houve até mortes entre essa população. O que estaria causando as doenças? Má alimentação, escassez, longas viagens? Não só isso. O MPF descobriu que o vilão principal vinha exatamente da mamadeira.
Os índios davam muito refrigerante para as crianças - algumas não chegavam a ter dois anos de idade - e era esse excesso de açúcar que estava causando as diarreias, sem que os pais se dessem conta. Mas, mesmo quem tem acesso à informação, vinda de todas as fontes possíveis, acaba introduzindo, talvez cedo demais, o açúcar na alimentação das crianças. Afinal, existe uma idade certa para isso?
Parte dos especialistas é radicalmente contra; outra é mais flexível. No entanto, todos afirmam que o açúcar pode se tornar um grande vilão da saúde da criança. Aliás, em excesso, faz mal tanto a adultos quanto a crianças, mas ainda mais aos pequenos, que estão em plena formação. Por isso é preciso estabelecer um certo equilíbrio na alimentação. Recomenda-se, por exemplo, que os pais deem preferência a frutas, pães, leite e vegetais, que já contam com açúcar na sua composição natural, já que o vilão maior é o refinado.
Presente em balas, biscoitos, chocolates, refrigerantes e sucos artificiais, o fato de ser refinado significa que o açúcar passou por um processo industrial que anulou todas as suas vitaminas, tirando também o seu valor nutritivo. Só que os pequenos gostam, e a oferta é muita. Vide as festas de aniversário dos coleguinhas, as programações nas escolas, as barraquinhas de festa, os comerciais entre os desenhos, oferecendo um mundo de possibilidades doces e coloridas. Como vencer nessa guerra?
É importante não desistir da missão, pois ceder fará mal ao bebê. Até o sexto mês, como é amplamente difundido, a regra é alimentar exclusivamente com o leite materno. Após essa etapa, os nutricionistas admitem a introdução de açúcar natural na dieta, mas, ainda assim, com ressalvas, por causa do pâncreas. O vilão, o açúcar refinado, fica proibido até que se completem pelo menos os dois primeiros anos de vida, pois entre os malefícios já citados estão ainda a formação de cáries e a alteração do paladar como consequências para a saúde.
Mesmo depois disso, o açúcar refinado fica contraindicado. Sendo extremamente necessário utilizá-lo, melhor dar preferência ao mascavo, que mantém vitaminas e minerais na sua composição. Mas é preciso que os pais também entrem nessa dança: não adianta querer educar a alimentação do filho se o exemplo que ele tem não for lá grandes coisas.