Dados mostram que vacinas vencidas foram aplicadas em Bom Jardim, Cachoeiras, Cordeiro, Friburgo e Sumidouro

Municípios da Região Serrana do Rio de Janeiro estão entre as cidades que tiveram aplicação de doses da vacina da AstraZeneca fora da validade. O caso foi revelado nesta sexta, 2 de julho, por reportagem do jornal Folha de S. Paulo, com base em dados do Ministério da Saúde.

No total, de acordo com o jornal, pelo menos 26 mil doses com prazo de validade vencido foram aplicadas em 1.532 cidades do Brasil.

Na serra fluminense, os municípios são: Bom Jardim, Cachoeiras de Macacu, Cordeiro, Nova Friburgo e Sumidouro.

Nas cidades citadas acima, as doses vencidas foram aplicadas no dia 14 de abril deste ano, de acordo com os dados levantados pelo jornal de São Paulo. No caso dos municípios da serra do Rio, todas foram de um mesmo lote: 4120Z005.

Segundo o levantamento da Folha de S. Paulo, 70% das doses ministradas no país após a validade são desse lote, cujo código pode ser conferido no comprovante de vacinação.

Ainda de acordo com o jornal paulistano, outras 114 mil doses, também da AstraZeneca, foram distribuídas a estados e municípios ainda na validade, que já expirou. Entretanto, ainda não se sabe se foram descartadas ou se continuam sendo aplicadas.

Locais de vacinação

Os dados levantados pela Folha mostram que a quantidade de doses vencidas aplicadas por município da Região Serrana é baixa em relação ao volume total de vacinados. Confira abaixo os locais em que elas foram aplicadas.

• Bom Jardim – 2 doses aplicadas no dia 14 de abril – Centro de Saúde José Alberto Erthal;

• Cachoeiras de Macacu – 3 doses aplicadas no dia 14 de abril – Centro Municipal de Saúde Dr. Mario Simão Assaf;

• Cordeiro – 2 doses aplicadas no dia 14 de abril – Centro de Saúde de Cordeiro;

• Nova Friburgo – 1 dose aplicada no dia 14 de abril – Centro de Saúde Silvio Henrique Braune;

• Sumidouro – 7 doses aplicadas no dia 14 de abril – Centro de Vigilância em Saúde.

O que dizem os municípios

A reportagem do Portal Multiplix buscou informações com as prefeituras dos municípios da Região Serrana que constam na lista da Folha.

A Prefeitura de Bom Jardim informou que aguarda manifestação e orientação tanto da Secretaria Estadual de Saúde quanto do Ministério da Saúde para seguir suas diretrizes.

Já a Prefeitura de Cordeiro disse, por meio de nota, que a validade dos lotes é checada antes do início da vacinação, e que nenhum imunizante dos lotes citados na reportagem da Folha foi aplicado após o vencimento.

A Prefeitura de Nova Friburgo comunicou, também em nota, que os lotes mencionados na matéria do Jornal Folha de São Paulo recebidos por Nova Friburgo não foram utilizados fora da validade, e foram aplicados em fevereiro e abril, respectivamente, dentro do prazo para aplicação segura.

O município informou ainda que o Conselho Nacional de Secretarias de Saúde esclareceu que no início da vacinação, nos meses de janeiro e fevereiro, o Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização apresentava muita instabilidade, o que não permitia alimentação rápida dos dados das doses aplicadas, com consequente atraso na digitação.

Em Sumidouro, a prefeitura disse, por nota, que o lote citados pela Folha foi recebido em janeiro e as doses aplicadas em fevereiro, quando os imunizantes ainda estavam dentro da validade.

O Portal Multiplix ainda aguarda resposta de Cachoeiras de Macacu. Assim que a prefeitura responder, esta matéria será atualizada.

O que diz o governo estadual

A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que os lotes citados pela reportagem da Folha foram enviados aos 92 municípios fluminenses muito antes do término do prazo de validade, e que antes da distribuição, as doses são separadas por uma equipe que também checa a temperatura e a documentação.

Ainda segundo a SES, a Subsecretaria de Vigilância e Atenção Primária à Saúde está apurando junto às secretarias municipais de Saúde se houve algum erro de registro das doses no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI).

O portal também aguarda posicionamento do Ministério da Saúde.

Outras cidades negam

Outra reportagem, publicada no portal UOL, mostra que outros municípios brasileiros que constam na lista levantada pela Folha de S. Paulo negam terem aplicado as vacinas após a validade.

É o caso de Maringá, no Paraná. Pelos dados, 3.356 pessoas teriam tomado o imunizante contra Covid-19 vencido. A prefeitura disse ao UOL que ocorreram divergências de dados no Sistema Conecte SUS. Belém, no Pará, e Salvador, na Bahia, também negaram ao UOL que teriam aplicado vacinas após a validade.

O que fazer?

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) emitiu nota em que informa que quem tomou o imunizante fora da data de validade, como apontado pelos dados da reportagem da Folha de S. Paulo, não precisa se preocupar com efeitos colaterais ou problemas à saúde. Contudo, deve retornar ao posto de saúde para receber a vacina novamente.

“A administração de dose vencida não implica risco à saúde. No entanto, como não há certeza se pode haver prejuízo a eficácia, recomenda-se repetir a dose. Ainda não é possível afirmar se a dose adicional pode aumentar a possibilidade de eventos adversos”, diz trecho da nota da SBIm.

Sobre o levantamento

Para concluir o levantamento, o jornal Folha de S. Paulo cruzou dados do DataSUS (o sistema de informações do Ministério da Saúde) e da Sage (Sala de Apoio à Gestão Estratégica), a partir do número do lote das vacinas. Segundo o jornal, foram consideradas todas as imunizações do país contra Covid-19 até 19 de junho.

Além do lote aplicado nas cidades da Região Serrana, outros lotes vencidos também foram utilizados em todo o país. As doses, de acordo com a Folha, foram distribuídas de janeiro a março pelo governo federal a todos os estados, antes do vencimento. Elas somam 3,9 milhões de doses, das quais 26 mil foram, posteriormente, aplicadas já vencidas.