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Livro desmitifica a narrativa de que Nova Friburgo é a “Suíça brasileira”

De autoria da escritora Márcia Lobosco, obra chama atenção para a importância de valorizar também as narrativas de outros povos formadores do município

Por Sara Schuabb
02/05/19 - 10:34
Livro desmitifica a narrativa de que Nova Friburgo é a “Suíça brasileira”  Reprodução de foto de um desfile de crianças, em Nova Friburgo, por ocasião do 3º Encontro Suíço-Brasileiro, em 1987 | Foto: Reprodução

Por ter sido a primeira cidade a receber imigrantes da Suíça, por decreto de Dom João VI, que, na época autorizou a vinda de cerca de 1.800 colonos suíços para a região, em 1818, Nova Friburgo, município da Região Serrana do Rio, tem o título oficial de “Suíça brasileira” desde 4 de setembro de 2017. Segundo a professora e escritora Márcia Lobosco, esse mito surgiu apenas 30 anos após o fim da escravidão, em 1918, trazendo em si um apagamento do negro em sua narrativa histórica até a atualidade.

Publicado em março desde ano, “A Suíça brasileira não é aqui: construção identitária de professoras no município de Nova Friburgo”, pela editora Sagga, o livro é baseado na dissertação de mestrado de Márcia, que objetivou compreender trajetórias de professoras negras em Nova Friburgo.

Sem desmerecer os historiadores que vêm realizando estudos aprofundados sobre a imigração suíça na cidade, a escritora chama atenção para a importância de desmitificar esse rótulo, na medida em que é preciso valorizar também as narrativas de outros nove povos que participaram da construção da cidade, inclusive as dos africanos, cuja presença é minimizada na historiografia local.

Ela diz que, em Nova Friburgo, há gerações vivas que são diretamente descendentes de negros que foram escravizados e isso interfere nos aspectos econômicos e sociais da vida desses indivíduos, aliado ao preconceito construído ao longo de anos.

Márcia Lobosco no lançamento do livro “A suíça brasileira não é aqui: construção identitária de professoras no município de Nova Friburgo”Márcia Lobosco no lançamento do livro “A suíça brasileira não é aqui: construção identitária de professoras no município de Nova Friburgo” | Foto: Reprodução/Redes Sociais

Confira a entrevista:

Portal Multiplix – Na sua opinião, por que é preciso desmitificar a ideia de que Nova Friburgo é a "Suíça brasileira"?

Márcia Lobosco - Nova Friburgo tem competentes historiadores que, há alguns anos, vêm trazendo à tona estudos sérios sobre a colonização suíça na cidade. A alcunha de “Suíça brasileira” foi construída com propósitos específicos num tempo histórico determinado - a celebração do centenário de Nova Friburgo. Desmitificar esse mito é importante para que possamos contar a história de muitos povos que estão na formação da cidade, incluindo os africanos, cuja presença é apagada ou minimizada nesse processo.

Portal Multiplix - De que modo essa narrativa, que vem sendo repetida há décadas, interfere na percepção mais aprofundada de nossa história e na construção de nossa identidade?

Márcia Lobosco: Uma narrativa que privilegie um povo em detrimento dos demais, interfere na percepção de diversidade e na valorização de uma pluralidade étnico-racial. Olhar para seu povo no presente e procurar contar sua história retrospectivamente eleva a autoestima da população de uma cidade e contribui para a construção de um futuro pensado para todos, indistintamente.

Portal Multiplix - O que sua obra pretende mostrar?

Márcia Lobosco: Meu livro é a publicação da minha pesquisa de mestrado que objetivou compreender trajetórias de professoras negras em Nova Friburgo, num recorte espacial delimitado. Minha intenção foi conhecer a construção de identidade dessas mulheres como professoras, numa vivência em uma cidade que tem a desorganização “Suíça brasileira”, onde há uma população negra que não se encontra visivelmente em certos ambientes, especialmente se olhadas as comunidades escolares. Na entrevista realizada com as professoras ficam declarados variadas formas de racismo. Então, busco, com isso, trazer à tona essa que é uma realidade brasileira. Infelizmente, Nova Friburgo também é exemplo disso.

Portal Multiplix - Os negros ainda são, de certo modo, invisíveis na história de nosso município?

Márcia Lobosco - Ao mesmo tempo em que a escravidão parece distante no passado, o tempo desde a abolição é curto do ponto de vista histórico. Há, ainda, gerações vivas que são diretamente descendentes de negros que foram escravizados e isso interfere nos aspectos econômicos e sociais da vida desses indivíduos.

Junte-se a isso o preconceito construído ao longo de anos. A assinatura da Lei Áurea não significou a valorização da gente preta. Efetivamente, significou muito pouco em benefício para o negro que, estando livre de ser forçado ao trabalho escravo, em sua maioria não tinha estudo nem profissão e não teve oportunidade imediata de trabalho remunerado numa sociedade em que a “pessoa de cor” era preterida em relação ao branco em todas as camadas e setores sociais. Nova Friburgo comportou-se também desta forma, com o agravante de, apenas 30 anos após o fim da escravidão, criar seu mito de “Suíça brasileira”, trazendo um apagamento do negro na sua narrativa histórica.

Sobre a autora

Márcia de Souza Silva Lengruber Lobosco é professora da rede pública e privada, formada em pedagogia e letras, com cursos de especialização nas áreas de linguagens e educação e mestre em relações étnico-raciais. É idealizadora do Café Literário, que acontece em Nova Friburgo desde 2012, e foi premiado pela Cátedra de Leitura da PUC-Rio em 2018. Também é mediadora no Clube de Leitura Vivências. Algumas de suas reflexões podem ser encontradas em seu blog “Reflexões: Educação, Vida e Contemporaneidade”.


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