Como lidar com o luto e a ausência de uma pessoa querida?
Pandemia do novo coronavírus afetou rituais importantes para quem precisa lidar com a morte, como velórios e enterros

O luto é um conjunto de emoções sentidas particularmente. Mesmo que a perda seja de um ente querido em uma família grande, por exemplo, o luto é único e está presente individualmente em cada pessoa. Porém, ele não está relacionado somente com a morte. O sentimento de dor também pode estar ligado ao fim de um relacionamento ou à perda de emprego, por exemplo.
O psicólogo Rafael Luz explica que o luto pode estar conexo com o psicológico, social e fisiológico do ser humano.
“O luto é uma experiência comum a muitas culturas. Apesar das variações individuais e culturais, vemos que ela é geralmente marcada pelas partes de negação, o luto propriamente dito e a superação. Trata-se de uma forma de experienciar e expressar o sentimento de dor e sofrimento relacionado a uma perda (morte de um ente querido, fim de um relacionamento, de um empreendimento etc.), de maneiras sociais, psicológicas e fisiológicas, e cada um encontrará um meio para isso”, explica.
E com a pandemia do novo coronavírus, como lidar com o luto? O Brasil, por exemplo, registra mais de 47 mil mortes pelo covid-19. Não são números, são vidas perdidas por causa da doença. E com a crise sanitária, velórios e enterros agora são restritos, os caixões não podem ser abertos e o sepultamento têm que ser breves, o que afeta a vivência do luto.
“Sobre essas recomendações sanitárias, sabemos que estas suprimiram a possibilidade das cerimônias de velório. Vemos que nas diferentes culturas, existem atos simbólicos que têm grande importância psicológica, tanto individual quanto coletiva, pois dão concretude à experiência, de modo a torná-la “palpável”, “concreta”, “mensurável”, e assim passível de superação. Esses atos – que vão desde lamentações públicas a até mesmo grandes festas – são formas de compartilhar e fortalecer vínculos”, destaca Rafael.
O psicólogo ainda diz que o velório pode ser considerado o maior exemplo de ato simbólico sobre a perda. Uma forma de marcar uma passagem, uma mudança. E quando isso é retirado, como na pandemia, provavelmente, segundo o psicólogo, isso dificultará a superação do luto.
“Concordo que não se deve abrir o caixão, por exemplo; mas será que não é possível pensar em alguma alternativa sanitária? Vi pessoas colocando uma foto em alta resolução e recente da pessoa falecida. Podemos também “inventar” novas formas de cerimônia do luto. O poder público deveria apostar em alternativas como essas. Todavia, cabe destacar que, no contexto da pandemia de covid-19, vivemos um luto antecipado: ou seja, essa experiência ocorre antes de haver uma perda próxima. E mais: inclui a nossa própria existência. É um luto antecipado de nós mesmos, já que somos todos vulneráveis ao vírus”, frisa Rafael.
O profissional ainda recomenda que é preciso encarar a realidade da perda, por mais dolorosa que seja.
“E isso inclui fortalecer vínculos familiares e sociais, abrir-se a mudanças e projetar um futuro sem a presença dela. Em resumo, a pessoa em luto deve possibilitar novas experiências de vida, criando novos significados a respeito do mundo e de si mesma. Durante a pandemia, é possível resguardar alguma aproximação com o entorno, desde que seguidas as recomendações sanitárias. Os recursos virtuais são uma boa alternativa”, finaliza Rafael.