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O mundo está ficando chato

Por George dos Santos Pacheco
28/05/25 - 09:23

"Nada é permanente, exceto a mudança." (Heráclito)

O mundo está ficando chato, terráqueo. Muito chato. Pior a emenda que o soneto. É verdade que éramos ligeiramente atrasados, mas as coisas do passado pareciam ter mais charme, mais sabor, sei lá… mais poesia. É isso, encontrei a definição perfeita para o que queria expressar: as coisas estão perdendo sua essência poética. Não notaram?

Acompanhe meu raciocínio, cara pálida. Os nomes dos automóveis, por exemplo. Antigamente, os veículos eram chamados por termos bem brasileiros (ou latinos adaptados), e isso criava uma conexão mais próxima entre o tupiniquim e o produto. Brasília, Belina, Corcel, Elba, Uno, Pampa, Gol… Putzgrila! Gol, cara. Existe nome mais emblemático do que esse? Hoje em dia, ele se chamaria VW1980 ou Goal; soa elegante e moderno, não é?

E os planetas, então? Ah, faça-me o favor. O nosso sistema solar possui os nomes mais bacanas para planetas de todo o universo, justamente porque foram nomeados há tanto tempo que a Pedra da Caledônia nem existia. Atualmente, quando se anuncia a descoberta de um novo corpo celeste, o nome da nova entidade astronômica é algo como GJ 1214 b, TOI 700 ou K2-18b. E ainda dizem que é similar à Terra e pode abrigar vida. Similar, uma ova!

Cadê a graça nisso tudo? Nada mais é permanente. Quando eu era garoto, os dinossauros ainda eram lagartos, o apresentador de programas era o Chacrinha, o papa era João Paulo, a rainha era Elizabeth e o herói era o Rambo. Naquela época, não tínhamos toda essa parafernália tecnológica, mas éramos mais felizes. Brincávamos na rua, escrevíamos cartas, andávamos a pé, fazíamos piqueniques. Era necessário memorizar o telefone da moça, senão, fim de papo. O futebol era apenas futebol e bastava um gol para ser divertido, não era preciso fazer aposta alguma. Como não havia streaming, os filmes que assistíamos eram na TV aberta e tudo bem ter intervalos comerciais; era a oportunidade de ir ao banheiro ou beber água. Hoje em dia, ninguém mais tolera isso. E o rádio? Nós ouvíamos rádio. Quem escuta rádio atualmente?

Por falar em rádio e TV, os programas humorísticos se reduziram a uma pálida caricatura do que já foram, com arremedos do stand-up comedy – e, para ser sincero, a profissão de comediante deve estar com os dias contados, pois com a consolidação do orwellesco movimento do "politicamente correto", não se pode mais fazer piada com nada.

É claro e evidente que muita coisa mudou para melhor, mas não sei exatamente no que nos tornamos. Ainda existem a corrupção, a fome, a guerra, a desigualdade social e a manipulação ideológica da sociedade. Com tanto plástico, redes sociais, globalização, smartphones e a digitalização desenfreada de tudo, nos transformamos em algo estranho, frio e insensível. Apoéticos.

O mundo está ficando chato, meu senhor. O processo começou há muito tempo, mas ficamos tão empolgados com a pirotecnia dos algoritmos, bytes, inteligências artificiais, LEDS e neons, que mal percebemos. Tudo isso gerou um efeito em cascata, numa velocidade espantosa, onde uma coisa levou à outra e jamais voltaremos ao ponto inicial, nem mesmo próximo disso. E isso é muito chato.


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