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Sobre o acaso...

Por Rachel Rabello
25/06/18 - 09:25

A tecnologia me acostumou a ter controle sobre tudo. Morando em Friburgo e estudando no Rio, costumo comprar as passagens pelo celular, não deixando espaço para o acaso. Mas ontem, temendo o trânsito da hora do rush no Rio, achei melhor não arriscar e comprar no balcão.  O trânsito estava mesmo especialmente conturbado - levei, do Maracanã à rodoviária, quase uma hora. Dentro do Uber - que peguei a fim de ganhar tempo e vencer - me acalmava pensando "vai dar tudo certo, pego o ônibus que tiver, a hora que for". O que me acalmava era pensar que, ainda que eu não tivesse controle sobre o trânsito, estava no controle da situação - não perderia a passagem e nem a viagem. Mas, ao chegar ao guichê da 1001, qual não foi minha surpresa quando o funcionário disse que não havia mais passagens - em nenhum horário. Algo diferente aconteceu em mim: não fiquei revoltada, como se esse fato fosse algo pessoal contra mim (lei de Murphy, injustiça divina, ou algo do tipo). Fiquei chateada, obviamente. Para viajar, deixei de ir a uma reunião que desejava ir e acabei não fazendo nem uma coisa nem outra. Fora a hora irrecuperável que perdi me deslocando até a rodoviária. Mas o que aconteceu - não haver mais passagens - era algo que não estava em minhas mãos. Eu não tinha controle nenhum sobre isso. Foi o tal motivo de força maior: o acaso. E essa manifestação de algo maior que eu e meus pequenos problemas e compromissos me fez sorrir, consciente da grandeza do universo e da pequenez da minha existência. Life is what happens to you when you're busy making other plans, ja disse John Lennon. Sorri porque a vida foi maior que meus planos. Sorri porque estava viva. E isso me bastou. 

No ônibus de volta a Copacabana, fiquei me perguntando como fazíamos antes do celular, antes do WhatsApp. Porque hoje, se combino um encontro com alguém em algum lugar, basta pisar lá para mandar mensagem perguntando onde a pessoa está ou avisando que estou sentada no banco x ou y. Não há mais espaço para expectativas. Uma vez marquei um encontro com uma amiga e meu celular descarregou, fiquei desesperada. Mas não havia porque me desesperar, eu estava no lugar marcado e na hora marcada. Era só esperar ou, caso ela não aparecesse, voltar para casa. Mas nos encontramos. Corri a ela e a abracei como se estivesse perdida no deserto e ela fosse minha salvação. Tudo isso me faz pensar como estou presa à necessidade de controlar tudo. Como o GPS nos tirou a liberdade de vagar pelo caminho errado - e nesse caminho errado, conhecer outros caminhos. Como o WhatsApp nos privou da gostosa (e torturante) expectativa da espera. Como o disckman, Spotify e variantes nos ensurdeceram para a melodia atonal da cidade. Quanto mais conectada a esses dispositivos, menos conectada estou ao aqui e agora. Não me entendam mal, não falo por "preconceito ou mania de passado". Como Paulinho da Viola, eu também aceito o argumento. Apenas estou sentindo a falta de um cavaco, de um pandeiro e de um tamborim.


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