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Ponte da saudade

Por Rachel Rabello
09/07/18 - 09:32

Quem sai da terra natal

Em outro canto não para

Só deixo meu Cariri

No último pau de arara

Luiz Gonzaga

Estes versos de Luiz Gonzaga estão dentro do contexto da seca no nordeste e da imigração de nordestinos para o sudeste. A canção traz a voz de um cearense que não quer deixar sua terra. Quando penso nestes versos, vejo que meu movimento é contrário: saio do sudeste em direção ao nordeste, como saí da capital do Rio de Janeiro para o interior do estado.

Não estou sozinha neste movimento. Muitos de meus conterrâneos deixaram a capital em direção ao interior ou mesmo ao nordeste. Os que não partiram, desejam ir. Se antes o Rio oferecia – ou parecia oferecer – melhores condições de vida, hoje só oferece a seca. Não tem água para fluir. Há uma superlotação, impossível agregar todo mundo. O mercado está saturado e conseguir se sustentar com o fruto do trabalho está cada vez mais difícil, há que ser malabarista. É como uma imagem que vi certa vez na internet. De um lado, o salto ornamental vencedor de uma Olimpíada do século XX, de outro, o vencedor de uma Olimpíada do século XXI (não tenho certeza das datas, por isso não especifico). O primeiro era simples: uma cambalhota no ar. O segundo, três cambalhotas. Encarei essa imagem como uma metáfora do que é preciso fazer hoje para sobreviver no Rio. Já não basta uma cambalhota, é preciso três. Falo do Rio por ser a realidade que conheço, mas imagino que não seja diferente em outras capitais do Brasil e do mundo.

Deixei minha terra natal há três anos em busca de melhores condições de vida. Hoje deixo Friburgo e vou para o Piauí. Será que em outro canto não paro? Prefiro não pensar sobre isso agora. O movimento é de chegada e não há sentimento pior que o de chegar sabendo a hora da partida.

De repente lembro das pessoas com doenças terminais. Não sei como conseguem viver com uma estimativa de vida. Como sou grata por não saber a hora de minha morte... Deve ser terrivelmente angustiante viver com essa sombra. Entretanto sabemos que a única certeza da vida é a morte. Isso todo mundo sabe, é senso comum, é clichê. Mas acho que a gente esquece, por isso achei que valesse a pena escrever aqui. Você se lembra que a única certeza da vida é a morte? Às vezes eu me lembro – algumas vezes é reconfortante, noutras é só sofrimento.

Há meses me despeço das ruas do Rio e de Friburgo. Olho para tudo com aquele nostálgico último olhar. Quando voltar, serei outra pessoa, assim como serão outras as ruas e as pessoas. Ah, peço que me perdoem a pieguice, mas não há nada mais piegas que a saudade, essa nossa herança lusitana... E hoje eu escrevo da Ponte da saudade.


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