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As Cataratas, de Joyce Carol Oates

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Por Rachel Rabello
19/08/19 - 09:00

Em julho completei um ano como colaboradora do Portal Multiplix, que tanto vem inovando os meios de comunicação de nosso país. Nesse tempo, tive total liberdade para inovar também – experimentei diversas formas: crônicas, artigos de opinião, poemas, contos... Os últimos dois textos que enviei para meu editor foram resenhas de livros escritos por mulheres. A coisa fluiu tão bem que resolvi formalizar este espaço como um espaço de divulgação de literatura feita por mulheres e, mais uma vez, tive total apoio do Portal. Por conta disso, a coluna, que era quinzenal, passará a ser mensal, para que possa dar conta da leitura, deixá-la reverberar e germinar como resenha.

O livro deste mês foi escrito pela norte-americana Joyce Carol Oates, vencedora de diversos prêmios, membro da Academia Americana de Artes e Letras e professora da Universidade de Princeton. Uma das escritoras mais produtivas do mundo, Oates escreveu em média um livro por ano durante mais de 50 anos – seu último livro (até agora, pois Oates ainda é viva) foi lançado em 2010, aos 72 anos.

As cataratas (2004) é o seu trigésimo segundo livro. Escrita em terceira pessoa, a narrativa se passa nos anos de 1950 e conta a história de Ariah Littrell, uma musicista e professora de música, filha de um reverendo da igreja presbiteriana, onde dava aulas de piano. Sua criação rígida a levou a se casar, aos 29 anos – o que era considerado demasiado tarde para a época – com Gilbert Erskine, dois anos mais novo – outro escândalo? –, que também fora criado dentro da igreja e seguiria a vida religiosa: estudara para ser pastor e após o casamento teria sua própria igreja. Gilbert escolhera o local da lua de mel: as Cataratas do Niágara.

Talvez seja reducionista dizer que o livro conta apenas a história de Ariah. Na verdade, eu diria que o romance descreve as Cataratas e seus efeitos (hipnóticos) sobre moradores e turistas. Gilbert Erskine, no dia seguinte ao casamento, se lança em um salto mortal em direção às turbulentas águas das cataratas – local que atraía suicidas – e Ariah fica conhecida como a “noiva viúva”. É assim que conhece seu futuro marido, o advogado Dirk Burnaby, que, já fascinado, a auxilia na torturante espera pela confirmação do suicídio: o aparecimento do corpo do falecido esposo.

O avô de Dirk Burnaby também morrera nas cataratas, embora não se saiba se cometera suicídio ou se fora vítima de um acidente trágico – era equilibrista e cruzara as cataratas mais de uma vez, sendo a última a definitiva. Dirk sempre sentira um misto de atração e repulsa por essas águas, o que é um ponto em comum com Ariah.

O livro também passa por questões ambientais. Em determinado ponto da história, Dirk resolve lutar pelos direitos dos moradores de um bairro próximo a indústrias químicas que despejavam resíduos poluentes no canal Love, elemento que retrata o começo da consciência ecológica nos Estados Unidos.

O estilo de Oates é hipnótico como as Cataratas. Com minuciosas sequências descritivas, conseguimos visualizar perfeitamente as paisagens e personagens. E quase conseguimos esquecer de que estamos lendo um livro, é como se de repente estivéssemos imersos naquela história, qualidade rara a escritores de nosso tempo, que problematizam o fazer literário, sempre nos fazendo lembrar que estamos lendo um livro – o que tem seu valor e eu adoro. Mas, vezenquando, como é bom sentir-se assim, outrar-se, perder-se em outro mundo... O mergulho n’As Cataratas de Oates foi como tomar ar em meio à turbulência de nossos dias. Recomendo.


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