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Os últimos baby boomers no mercado de trabalho

Por JC do RH
10/12/19 - 10:29

Muito se tem escrito sobre as diferentes gerações que hoje coexistem no mercado de trabalho corporativo; e a “genealogia” mais aceita, baseada no ano de nascimento de cada indivíduo, é: os Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964); a Geração X (entre 1965 e 1980); a Geração Y, ou “Millennials” (entre 1980 e 2000); e a Geração Z (de 1990 até 2010, havendo uma sobreposição com os Millennials, em função de posicionamentos em comum). Ainda encontramos raríssimos representantes dos chamados Tradicionais (nascidos antes de 1946) em atividade; e sabemos que, em breve, chegará ao mercado de trabalho uma nova geração, já batizada de ALPHA (os nascidos a partir de 2010). Mas quero falar especificamente dos Baby Boomers, que hoje representam apenas 3% do total dos trabalhadores em atividade em corporações médias e grandes. Uma geração que está, portanto, “de saída” do mercado de trabalho corporativo, ao menos aquele mais formal.

Os Baby Boomers são em geral descritos – talvez com certa superficialidade - como possuindo padrão de vida estável, preferência por qualidade (em vez de quantidade) e sendo pouco influenciados por terceiros. Só para contrastar, a geração seguinte, “X”, é marcada pela ruptura com as regras e valores das gerações anteriores, em uma constante busca por mais liberdade, busca essa que inclusive vem moldando as gerações seguintes, a “Y” e a “Z”. Ser um “revolucionário”, um “transformador do mundo”, como são definidos os integrantes da Geração X, é muito mais importante e charmoso, sem dúvida! A propósito: o nome que se dá a esse processo é EVOLUÇÃO; e é muito bom que seja assim...

Então – perguntaria o leitor -- por que perder tempo escrevendo sobre uma geração que, quando muito, nos remete “...às últimas ararinhas azuis avistadas na natureza...”, uma forma poética (ou eufemística) de mencionar uma extinção inevitável que se aproxima? Simples: porque foi a geração Baby Boomer que conduziu a mais importante de todas as transições que ocorreram no mundo do trabalho durante o século XX: a transição do passado para o futuro. Explico essa minha opinião a seguir, espero que com a necessária objetividade.

A geração Baby Boomer foi aquela que herdou um universo do trabalho marcadamente tradicional (ou seria “arcaico”?). Quando eles começaram suas carreiras, as estruturas hierárquicas, as formas de comunicação, os métodos de trabalho, as posturas esperadas de cada um, os códigos internos, a cultura, a tecnologia e os equipamentos, tudo ainda era muito parecido com o que existia no início do século XX. Isso sem falar nas pessoas, pois os Boomers conviveram com chefes e colegas cujas mentalidades e atitudes ainda refletiam muitas dessas regras e burocracias antigas, que seriam quase impensáveis nos dias de hoje. E era isso o que os chefes ensinavam durante a maior parte do tempo, pois as inovações (ou, jocosamente, as “novidades”) eram vistas com uma certa dose de desconfiança.

E, de repente, com a chegada e a enorme difusão das novas tecnologias e da microinformática, lá se foram para sempre as máquinas de escrever, o TELEX, o FAX, o PAGER...; e, junto com eles, sumiram (sem deixar saudades) muitas burocracias empoeiradas, hierarquias obsoletas e métodos de trabalho que já não faziam mais sentido. E os Baby Boomers tiveram, no meio de suas carreiras, que reaprender a trabalhar. Eles, que não haviam nascido em um mundo digital, foram aos poucos se adaptando; uns mais, outros menos. E assim foram realizando sonhos e projetos e consolidando suas carreiras. Traziam consigo muitas coisas boas que absorveram do passado, da época “tradicional”: conhecimento técnico, bons valores e já alguma experiência acumulada. Ao mesmo tempo, ainda eram jovens e abertos o suficiente para aprender coisas novas, acompanhar o início da era digital. Começava então a transição do antigo para o novo, de uma forma nunca vista no século XX.

Mas eis que, ao longo desse processo, juntou-se a eles a primeira geração que já podemos chamar de moderna, no sentido da Revolução Digital (ou da Informação): a Geração X. De repente, os Baby Boomers se perceberam (nem todos, é verdade...) tendo que fazer a conexão entre o passado e o futuro, um futuro muito diferente, e que se aproximava cada vez mais rapidamente. Pela primeira vez, no mundo corporativo moderno, não havia uma geração “mais antiga”, que apenas ensinava, e outra “mais jovem”, que apenas aprendia; havia duas gerações que cooperavam, que ensinavam uma à outra, e que aprendiam juntas. Os conhecimentos tradicionais, muitos deles ainda válidos, chegavam à Geração X após serem reformatados e modernizados pelos Boomers. Eles aceitaram as mudanças, as adotaram na medida em que lhes era possível, e assumiram a missão de preparar o futuro. Nesse sentido, foram como uma espécie de ponte.

Refletindo sobre o significado desse papel de “ponte”, lembrei-me de que certa vez eu li que há duas formas de se pensar em uma ponte, sendo a diferença entre elas o propósito de sua existência: afinal, a ponte existe para quê? Se considerarmos que o propósito da ponte é o de unir dois lugares que antes eram separados, isso é obviamente correto; mas, pode-se dizer, incompleto. Vista dessa forma, a ponte gera a possibilidade de mudarmos de lugar; mas não gera a mudança em si. Ou seja: se construirmos uma ponte e ninguém a atravessar, a razão mesma de sua existência não se realizará. O propósito da ponte só se completa quando incorporamos as pessoas ao raciocínio. Não basta unir os locais: a ponte (claro, no sentido figurado usado aqui para descrever o papel da Geração Baby Boomer) desperta a curiosidade e incentiva as pessoas a se mudarem, a irem ao outro lado, a conhecer o que não conhecem. Mesmo sendo estática, ainda assim mobiliza a todos; e permite um ir e vir constante entre dois “universos” distintos. Nesse caso, o mundo do trabalho “do passado” e o mundo do trabalho “do futuro”. Foi isso que os Boomers, de alguma forma, conseguiram fazer.

Exatamente por isso, por eles terem guiado com segurança essa transição do passado para o futuro, a rápida transformação do tradicional em digital, é que entendo que vale a pena escrever para reconhecer e destacar o valor dos Boomers. Eles, que se orgulham, sim, de serem “ararinhas azuis”, mesmo que sejam as últimas. E que em breve, no universo corporativo, serão parte apenas dos livros, das memórias e dos arquivos de alguns. Quando o último Baby Boomer se for da sua última empresa, só restará o que, antes, era chamado de futuro. Provavelmente, novas pontes não serão mais tão necessárias, pois embora a transição entre gerações se acelere cada vez mais, as linguagens, códigos e crenças se tornam, dia após dia, mais próximas e comuns entre elas, e mal se nota a mudança das gerações. Isso nada mais é do que uma nova tradição se consolidando, a “tradição digital”, dado que a história da Humanidade é cíclica.

Uma recomendação final: àqueles que puderem, recomendo que aproveitem ao máximo o convívio com os últimos Baby Boomers que ainda estão no mercado de trabalho. Eles agora são bem poucos, é verdade; mas sabem muito. Às vezes a qualidade se sobrepõe à quantidade, lembram? Os Boomers não apenas assistiram enquanto o mundo mudava, rápida e inexorávelmente, diante de seus olhos: foram eles que tornaram possíveis essas mudanças, suavizando os impactos e conflitos geracionais, e assim conduzindo o processo de forma segura. Eles possivelmente ainda têm alguns ensinamentos a transmitir; e, certamente, ainda têm tempo - e muita disposição - para continuar a aprender o que lhes falta. Desconfio fortemente de que seja isso o que cada um deles queira, de fato. Até quando? Não sei. Mas, provavelmente, até o fim: até que a última ararinha azul se vá, tranquila, para o merecido descanso de quem cumpriu com o seu dever.


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