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Um caldo grego, judaico e cristão

Por Hamilton Werneck
29/10/19 - 12:36

Não é só a cosmovisão grega e hebraica que diferem entre si, há que se considerar nesse caldo a influência cristã, na Idade Média, entre o século V e XII. Até este tempo a predominância era da cultura hebraica, ditando princípios, valores e comportamentos compatíveis com ensinamentos bíblicos. Foi ao final deste período que a Igreja cristã se aproximou da filosofia grega que representava uma grande corrente ideológica de que a teologia cristã necessitava para manter seus alicerces. Esta corrente é, marcadamente, contraria ao judaísmo e promotora do antissemitismo. A culminância deste processo de batismo da filosofia grega, foi o abandono do modelo hebraico e a definitiva adoção desta nova filosofia.

Como, então, organizar o mundo cristão com uma filosofia pagã, embora com muitos conceitos que se ajustam ao cristianismo? Como conviver o paganismo grego, por exemplo, em relação à sexualidade, com a moral cristã?

Esta conciliação entre pessimismo grego de um Ulisses que deixa Ítaca e, depois, tem saudade e volta, juntou-se à visão da culpa judaica, a mesma reforçada por Freud no século XIX e temperada pela moral cristã medieval, fortemente repressora de manifestações sexuais.

Nós somos o resultado deste caldo cultural que recebeu um bafejo de liberação no final do século passado, eclodiu com o movimento hippie retratado na peça teatral Hair e no festival de Woodstock. Após esses eventos, o mundo ocidental era outro. Tínhamos a liberação que além do muro de Berlim derrubado pela força do fax, muito mais que das picaretas, as drogas e o sexo. “Façam amor, não façam guerra”!

Enfim, a guerra do Vietnã desmontou os paradigmas conservadores nos Estados Unidos, como que fazendo reavivar uma cultura livre semelhante ao paradigma grego, posicionando-se contra a guerra, o alistamento militar, a bandeira americana e fazendo a instalação da cultura da incerteza.

Onde o contraste é maior? Na vida de Abrahão que saindo de Ur na Caldeia, caminhou para a terra prometida, sabia para onde ia e não olhava para trás. A saudade do passado, fazendo olhar para trás, era sinal de retrocesso que transformaria a pessoa numa estátua de sal!

As agendas conservadoras tanto nos Estados Unidos, como na Europa e América Latina tentam evitar esta liberação, no entanto, quando aprofundamos a análise do paradigma grego, verificamos o aumento dos conflitos e a impossibilidade prática de reverter o quadro.

E não adianta culpar governos ou dotar ministérios com poderes especiais para exercer controle e censura. Tudo independe de governos. A questão é muito mais ampla que parece.

Vejamos a visão antropológica nos dois paradigmas que estamos analisando: enquanto no mundo bíblico, defendido pelos cristãos e suas agendas, o homem é o resultado da criação divina que caiu em pecado e precisa ser constantemente resgatado, no mundo contemporâneo de educação laica, o homem é o produto da evolução da espécie e está preso ao seu destino. Enquanto na cosmovisão bíblica defende-se que a vida tem início na concepção, no mundo laico a ciência só dá valor ao que for provado cientificamente. E tudo isto tem um grande reforço desde a revolução francesa e com a filosofia de Auguste Comte, o positivismo.

Queiramos ou não, tenhamos interesse ou não, pensemos ou não que a mudança de governo possa afetar este quadro no ocidente, isso não passa de ilusão! Assim, temos que aprender a conviver e respeitar minorias, lutar constantemente contra todo tipo de crime de ódio, sabendo, inclusive, que a nova arca de Noé não aportará. O dilúvio não vai cessar.


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