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Primeira consideração sobre a violência

Por Hamilton Werneck
09/03/20 - 15:10

Há quem busque a causa da violência entre os transtornos causados pela reação Schumann, experimentada pela primeira vez em 1952. Este cientista estudando as pulsações dos vertebrados e da atmosfera, medindo-as em hertz, constatou que havia um perfeito equilíbrio. Toda a atmosfera e os vertebrados vibravam a 7,2 hertz. O que ocorreu com o acompanhamento da atmosfera e dos vertebrados até o final do século XX e início do século XXI foi uma aceleração da pulsação da atmosfera que envolve a terra, chegando a 13 hertz, enquanto os vertebrados permanecem em 7,2. Tal disparate é considerado por muitos como a causa de reações humanas completamente inesperadas. Trata-se de uma hipótese, no entanto, como sabemos que as reações atmosféricas nos atingem, elas podem provocar reações diante desse tipo de descompasso.

Hoje, considerando-se as metodologias de ensino e os sistemas de aprendizagem, diante da neurociência que aprofundou a partir da década de noventa os estudos sobre o cérebro, sabemos que os ritmos são diferentes, crianças com raciocínio concreto não têm, ainda, a possibilidade de dar saltos abstratos. Mas, na década de cinquenta, por exemplo, por desconhecimento dessas questões, muitas crianças poderiam ser castigadas porque não estavam aprendendo. Esta situação é diferente no Brasil, conforme suas regiões, através dos tempos e, ainda mais diferente, quando a verificamos em outros países do oriente médio e Índia.

Por exemplo, a palmatória só foi banida do Maranhão depois do ECA e, mesmo assim, em municípios distantes da foz do Amazonas, ela ainda está dependurada nas paredes.

A violência explícita nas escolas brasileiras têm suas histórias através dos tempos, onde os mais antigos até aceitam esta metodologia tipicamente espartana como um bom método para a educação. É verdade que ao lado das escolas os pais batiam nos filhos, usando chinelos, a própria mão, réguas e varas, correias e cintas. Colocar de castigo com o rosto para a parede, ficar ajoelhado em caroço de milho, receber bolos de palmatória, beliscões de professoras com unhas afiadas, socos na cabeça e puxões de orelha eram métodos aplicados nas salas de aula que existiam e as famílias aceitavam plenamente.

Não se questionava a desvalorização que a escola atribuía à parte mais nobre do corpo, a cabeça e o rosto da pessoa. Batia-se justamente onde a autoestima era mais prejudicada. Também por estas razões muitas crianças com alguma dificuldade de aprendizagem abandonavam as escolas.

Em épocas de agricultura primitiva, onde a enxada era a ferramenta mais moderna, a saída da escola significava ir para o campo trabalhar duro e pesado.

O grande mal é o tempo ter passado e muitas pessoas ainda terem saudades dele e não se voltarem para mais estudos aprofundados a respeito.

A violência deve ser dissecada para que haja reflexão acerca de suas consequências. Quando uma menina foi morta no Estado de São Paulo por ter caído ou ter sido jogada de um andar elevado, a mídia apresentou casos graves, filmados em consultórios médicos onde radiografias davam conta de múltiplas fraturas em crianças que eram violentamente espancadas pelos pais. Uma radiografia alarmante mostrava as nádegas de uma criança de três anos e meio com uma queimadura arredondada, resultado de ter sido sentada na chapa quente do fogão à lenha por causa de enurese noturna. Enfim, barbaridades difíceis de serem imaginadas, porém, concretas. Uma distorção do poder paterno e materno.

Como o Estatuto da Criança e do Adolescente proibiu tais práticas para tristeza de muitos, claramente mais sádicos que pedagogos, as escolas criaram uma estratégia tão danosa quanto aquelas proibidas. Trata-se da violência velada. Um professor, com olhar ameaçador passa pelo meio das carteiras dizendo que escolheria alguém para responder às suas perguntas. Ao mesmo tempo informava que as perguntas seriam simples, porém, quem não soubesse a resposta seria de extrema burrice. O estado de medo diante desta situação representava uma violência velada que, ao mesmo tempo, poderia impedir um raciocínio correto.

Estas práticas ainda existem e há quem delas se vanglorie, perdendo tempo em sala de aula, momentos preciosos para alguém aprender e, não, para fabricar inimigos em potencial.

A passagem de uma sociedade matrística para patriarcal, na visão de Maturana, configura o aumento da violência. Para este escritor chileno a fase matrística não estabelecia a supremacia de um gênero sobre o outro, nem mesmo sobre os outros seres da natureza. A morte de um animal para ser consumido não envolvia o desperdício, nem a simples proteção de um rebanho. Esta fase supõe que todos precisavam sobreviver.

Visitando três tribos xavantes na região de Nova Xavantina, no Mato Grosso, presenciei algo parecido. Levamos alimentos para os indígenas, inclusive pão. Quando um menino indígena saiu com um pedaço de pão pelo terreiro da tribo, uma galinha corria e bicava o mesmo pão. Ele continuou a caminhada dividindo o alimento com a ave. Esta, a visão matrística. O pão não pertence ao menino, ambos podem reparti-lo, afinal, um dia a ave alimentará algum indígena. Na visão patriarcal as relações tornam-se diferentes, o homem passa a ter uma autoridade sobre os bens, a terra, as cabanas, os rebanhos e, inclusive, sobre a mulher. Estas relações passaram a ser envolvidas por violência. Assim, não se matava um animal por questão de alimentação imediata. Matava-se porque ele poderia ser um predador de um rebanho que tinha dono, estava cercado num redil e pertencia a alguém. Numa decorrência mais ampla, todas as conquistas para ampliar as terras e os reinos foram violentas. Enfrentamos guerras de todos os tipos com as imposições desde a cobrança dos impostos até as leis com base em crenças religiosas. Hoje, por exemplo, conforme a sharia, lei islâmica, uma mulher adúltera pode ser condenada à morte por apedrejamento, mas conforme as leis brasileiras, ela continuará viva, salvo se houver violência por parte de quem foi traído. A nossa legislação não estabelece pena, como antes fazia. Esta questão da fidelidade é uma postura que se refere à ética da pessoa, dentro da realidade legal do Brasil.


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