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Da lama ao caos

Os efeitos perniciosos da política no Antropoceno

Por Conrado Werneck Pimentel
30/10/19 - 15:00

Brumadinho. Amazônia. Litoral nordestino. Não há a necessidade de explicitar a que me refiro. Os três são desastres ambientais de altíssima magnitude que ocorreram somente este ano. Mas o Brasil coleciona uma amálgama de outros desastres: deslizamento no Morro do Bumba em 2010, tragédia na região serrana em 2011, rompimento da barragem em Mariana em 2015. Os seis casos aqui citados podem ter acontecido de diferentes maneiras, mas tem uma maneira comum: se não pelo descaso e pela negligência, pela ganância.

Os casos do Morro do Bumba e da região serrana do Rio fazem parte da ala do descaso: um crescimento populacional que não foi levado em consideração, sem uma política pública de habitação nem um planejamento de crescimento urbano. Mariana e Brumadinho fazem parte da ala da negligência: imperícia e ausência de fiscalização. O fogo na Amazônia e as manchas de petróleo no litoral nordestino são a soma dos dois acoplados à ganância. E essa mistura entre descaso, negligência e sede por dinheiro é devastadora. Por quantos anos ainda as águas do litoral brasileiro estarão envenenadas? Por quantos anos as florestas devastadas pelo fogo – e potencializadas pelo Presidente da República, de acordo com suas palavras do dia de hoje – levarão para se recompor? E as vidas que dali tiram sua subsistência e sua existência em si?

Voluntário ajuda a remover manchas de óleo em praia do NordesteVoluntário ajuda a remover manchas de óleo em praia do Nordeste | Foto: Divulgação/Agência Petrobras

Existem cientistas que apontam que estamos em uma nova era geológica – a era do antropoceno, onde o ser humano, com suas técnicas aperfeiçoadas de exploração da natureza, impacta diretamente sobre seu ritmo. Data-se de, pelo menos, desde 1950 as mensurações que sustentam essa tese. Se realmente estamos em um novo período geológico, é preciso que, como humanidade, mensuremos o efeito devastador de desenvolvimento dos nossos meios de produção e de consumo. Se essa tarefa não for realizada e continuarmos a ignorar os sinais de nossos tempos, seremos lembrados como uma geração movida pela cegueira ou, na melhor das hipóteses, como uma ignorância sem precedentes. Se estamos dispostos a matar rios e mangues, a queimar centenas de hectares de florestas e a poluir milhares de quilômetros de litorais, atrelados a um momento de constante impacto de energias sujas como o petróleo ou do excessivo uso de agrotóxicos, estaremos, a cada década, a cavar mais um pouco nossa cova – nossa e de nossos descendentes.

Todos os casos que apresentei acima nos dão um recado claro: ou mudamos nossa perspectiva de como nos portamos como espécie em um planeta finito, com responsabilidade para com nossos pares, suas dores e seus valores, ou iremos sucumbir, se não ante a barbárie, frente ao colapso do planeta em que vivemos. A crise ecológica que vivemos não é nada mais do que uma crise civilizatória, que precisa ser colocada em pauta para discussão de forma urgente. Não deveria ser minimamente aceito que um presidente de uma república incentive queimadas; não deveria ser aceito, em pleno século XXI, que pessoas morem em condições precárias em beiras de rio ou em encostas; não deveria ser aceito que não haja um plano emergencial para conter um derramamento de óleo em qualquer litoral de qualquer país.

Talvez não seja tarde para resgatar uma ideia de Marx, escrita em 1844: “a verdadeira dissolução do antagonismo do homem com a natureza e com o homem” só será possível com a naturalização do homem e com a humanização da natureza. Enquanto não houver uma mudança de perspectiva da inserção do ser humano na natureza – e da natureza no homem –, não haverá reconciliação possível, nem mesmo um futuro possível.

Diversas manchas de petróleo espalhadas por praia do Nordeste do BrasilDiversas manchas de petróleo espalhadas por praia do Nordeste do Brasil | Foto: Reprodução/Marcos Rodrigues (Agência Brasil)


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