Internet: receitas milagrosas podem levar à morte
Rede está cheia de páginas que prometem curas, mas que podem agravar o quadro de doenças
Não é de hoje que vemos circulando pela internet receitas e dicas de como curar doenças com fórmulas caseiras ou supostos medicamentos. A rede está cheia de páginas que prometem curas, mas que, na verdade, podem agravar o quadro de doença das pessoas.
Com intenção de lucrar com a venda dessas supostas fórmulas ou simplesmente por crença popular, vídeos e textos sobre tratamentos sem nenhuma comprovação científica seguem sendo compartilhados.
O recente caso do MMS (sigla em inglês para Solução Milagrosa Mineral), que promete a cura do autismo reacendeu a discussão. Proibido em vários países e também aqui no Brasil, o produto é um composto químico equivalente a um concentrado de água sanitária. Além de não ter nenhuma eficácia sobre doença alguma, ainda pode causar diversos problemas de saúde, desde diarréias a danos graves nos sistemas digestivos e intestinais.
Outro caso que ficou nacionalmente conhecido foi o da fosfoetanolamina sintética, um suposto medicamento que prometia a cura do câncer. Desenvolvida pelo químico da Universidade de São Paulo Gilberto Chierice, a chamada “pílula do câncer” nunca tinha sido testada cientificamente em seres humanos. Apesar disso, as cápsulas foram entregues de graça para pacientes por mais de 20 anos.
Após muita repercussão nas redes sociais, o assunto chegou à grande mídia e também aos tribunais. Quando a USP cancelou a distribuição em 2014, muitas pessoas entraram na justiça para obter o direito de ter acesso ao suposto medicamento. Em 2016, o governo de São Paulo patrocinou um estudo sobre o medicamento que concluiu que a substância não causou melhora alguma em nenhum dos pacientes que participaram do estudo.
Além desses casos mais conhecidos, algumas outras receitas já são quase folclóricas na rede. Baba de quiabo para curar cinomose de cães, buchinha do norte para curar sinusite, entre outras, estão muito distantes das simples e tradicionais receitas de chás medicinais paliativos. Tais fórmulas, não só não têm eficácia, como podem causar abortos, hemorragias e até levar a morte de humanos e animais. Além dos aspectos de saúde, também existem as questões legais, como esclarece o advogado de Trajano de Moraes, Dimas Félix.
“No momento de realizar uma postagem, muitas vezes o internauta não se atenta que pode estar cometendo um crime e correr o risco de sofrer um processo por conta do conteúdo divulgado ou compartilhado, já que, dependendo do caso, a prática pode ser considerada criminosa e a polícia poderá rastrear as mensagens para chegar até os culpados. Não é permitido fazer afirmações falsas sobre sua identidade ou suas qualificações. Exemplos: prometer ‘curas milagrosas’ para doenças”, alerta o advogado.
Consultar um médico em caso de qualquer enfermidade ou intenção de uso de medicamento ou substância alternativa é fundamental, como ressalta o clínico geral Nilton Vieira.
“Na hora que uma mãe se vê diante de uma doença grave, como um câncer de um filho, por exemplo, infelizmente muitas pessoas sem caráter se aproveitam dessa fragilidade para oferecer curas ou medicamentos milagrosos. Vimos esse caso absurdo relacionado ao autismo, que é outro exemplo. A ciência está aí para nos guiar, mesmo diante do desespero de um problema grave. Por isso, é muito importante que o paciente ou seus familiares sempre sigam os conselhos de um médico, até mais de um. Na dúvida sobre um tratamento, é válido ouvir outras opiniões, mas sempre de profissionais capacitados”, orienta o médico.