Montanhista friburguense acha destroços do avião que colidiu com o Pico da Caledônia em 1964
Cinquenta e cinco anos depois, montanhista e filhos de Agenor Pereira, primeiro a chegar ao local do desastre em 1964, refazem o percurso até os destroços do avião
28/01/19 - 17:54
O montanhista friburguense Valmir Tavares, que há mais de 20 anos sobe o Pico da Caledônia para passear entre as matas e averiguar se a área está sendo preservada, registrou no último domingo, 27 de janeiro, os vestígios do acidente com o avião Vickers Viscount, que colidiu na montanha em 4 de setembro de 1964, causando a morte de 35 passageiros e quatro tripulantes.
O montanhista diz que encontrou vários vestígios da aeronave no local. “Vimos partes dos destroços com o nome do avião, pedaços de metais, e também encontramos palmilhas de sapato, meias, pedaço de pia e vaso sanitário.”
Cinquenta e cinco anos depois, montanhista e filhos de Agenor Pereira, primeiro a chegar ao local do desastre em 1964, refazem o percurso até o avião | Foto: Valmir Tavares
Nesta subida ao pico, Valmir foi na companhia de Gilson Pereira e Jacir Pereira, filhos de Agenor Pereira, morador do Caledônia que, na época, foi o primeiro a chegar ao local do acidente.
“Tentei fazer uma foto do Gilson Pereira parecida como a do seu pai conforme saiu na revista Manchete em 1964.”, diz Valmir.
Revista Manchete de 1964 com reportagem sobre o acidente. No canto inferior direito, a foto de Agenor Pereira, pai de Gilson Pereira e Jacir Pereira | Foto: Valmir Tavares
A colisão do Vickers Viscount
O avião fazia o voo Vasp 141 - de Recife a São Paulo, com escalas em Aracaju, Salvador, Vitória e Rio de Janeiro, e colidiu com o pico do Caledônia por volta das 16h30 do dia 4 de setembro de 1964. Há registros da comissão investigadora de que a tripulação informou, no mesmo horário, que estava sobrevoando Rio Bonito, porém estava a 35 quilômetros de sua rota original, em Nova Friburgo.
A aeronave chocou-se no lado oeste do Pico do Caledônia, a cerca de 1.950 metros de altitude, deixando 39 mortos e óbito de um oficial de salvamento. Na época, o resgate foi feito pela Marinha e pela Força Aérea Brasileira (FAB).
Manoel Carlos de Carvalho, friburguense e empresário da área Naval, conta que quando o acidente ocorreu ele tinha 19 anos e que ficou sabendo pelo rádio quando subia a serra em Cachoeiras de Macacu.
"Assim que cheguei em Friburgo, resolvi subir o Caledônia. Na época, não tinha estrada, era só trilha. E na subida já havia um monte de gente descendo com peças do avião. Para chegar até o local do desastre, foi muito trabalhoso, pois era muito íngrime", afirma.
Manoel diz que, na época, os moradores da localidade relataram que o estrondo do choque do avião na montanha foi muito alto e que os destroços se espalharam num raio de 500m.
"Nunca tinha visto nada parecido, eram corpos mutilados pendurados nas árvores, espalhados para todos os cantos. Se eu pudesse esquecer. É uma memória que não quero guardar", finaliza.
“Lembro que era criança quando isso aconteceu. As camionetes desciam lotadas da fuselagem do avião, ao mesmo tempo pessoas contavam o que viram, como pedaços dos corpos pendurados nas árvores. Um horror!”, diz nas redes sociais Eliane Calixto, que morava no Cônego na época.
Sobre o Pico da Caledônia
O Pico da Caledônia é a segunda maior montanha de Nova Friburgo com 2.257 metros de altitude. Possui uma das mais belas vistas do município e de outras localidades, como a Baía da Guanabara e uma parte da cidade do Rio de Janeiro. O local é sede para torres de transmissão de rádio, responsáveis pelas comunicações da Petrobrás, e atrai muitos montanhistas. É uma das maiores elevações da Serra do Mar.
Voo Vasp 141 colidiu com o Pico da Caledônia em 1964. Montanha é a segunda maior de Nova Friburgo, com 2.257 metros de altitude | Foto: João Luccas Oliveira