Adeus a Elza Soares! Friburguense relembra anos em que conviveu com a cantora
Fisioterapeuta Maria Lina fala, emocionada, sobre os dois anos em que ajudou na recuperação da artista, no Rio, seu legado cultural, o carinho com os fãs e o entusiasmo pela vida

“Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”, diz trecho da música 'Maria da Vila Matilde'. A canção é um dos destaques do disco 'A Mulher do Fim do Mundo', de Elza Soares, lançado em 2015. O álbum foi mais um de tantos marcos da carreira dessa que foi uma das maiores cantoras da história do Brasil.
Em suas letras e na musicalidade, trouxe o peso da experiência de uma mulher que passou por quase tudo nessa vida. Do sofrimento da violência doméstica e o racismo, passando pela perda dos filhos, ao sucesso de quem deu a volta por cima e cantou até o fim, mesmo que sob fortes dores na coluna.
A intensidade e o carinho de Elza foram duas características que mais marcaram a memória da fisioterapeuta friburguense Maria Lina, que cuidou da cantora por cerca de dois anos, entre 2014 e 2016, no Rio. Em entrevista ao Portal Multiplix, ela lembra, emocionada, do entusiasmo pela vida, que Elza nunca deixou de ter.
Elza Soares soube se reinventar e permanecer atual | Foto: Divulgação
“A Elza sempre foi muito animada e ela sempre teve muitos planos. Na época, ela falou para mim: ‘nós vamos lançar um álbum que vai se chamar 'A Mulher do Fim do Mundo', e a gente vai arrebentar’”, relembra Maria Lina.
E arrebentou mesmo. Com sua mescla de gêneros, como samba, rock, rap e eletrônica, o disco foi aclamado pela crítica nacional e internacional. Rendeu a Elza o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira. Deu vida à turnê 'A Mulher do Fim do Mundo', que Maria teve a oportunidade de assistir.
“Eu fiquei muito impressionada porque era muito rock and roll, muitos instrumentos. E ela era muito eclética. Ela falava que não julgava nenhum gênero musical e que respeitava todos os estilos”, conta.
Quando ela fez o show, ela me deu um ingresso e quando eu a vi no palco eu fiquei espantada. Porque eu só via ela na cama, basicamente, sentadinha e me esperando. Eu nunca tinha visto e não sabia do poder daquele show. Eu perguntei como ela estava e ela disse que estava com muita dor, mas não deixou isso atrapalhar.
Elza teve um problema de coluna após cair do palco durante um show, em 1999. Passou por pelo menos duas cirurgias, incluindo uma em 2014, quando precisou dos cuidados da fisioterapeuta friburguense, que conheceu em um spa em Nova Friburgo.
Maria Lina ia uma vez por semana à casa da cantora para uma sessão de fisioterapia que levava cerca de duas horas. Nos outros dias, Elza era auxiliada por um educador físico e um assessor, que a ajudavam a realizar os exercícios passados por Maria.
Nos últimos anos, Elza Soares se apresentava sentada ou deitada devido às dores na coluna | Foto: Divulgação
Porém, ao identificar que Elza precisaria ampliar a quantidade de sessões semanais, Maria teve que buscar outro profissional que pudesse atendê-la com a frequência que precisava, já que não poderia ir mais vezes na semana. Mas se engana quem pensa que a relação das duas terminou nessa ocasião.
“A gente ficou quase dois anos sem se falar. E um dia, eu estava num curso e o telefone tocou, e era ela querendo falar comigo. Ela queria saber de um namorado, se eu tinha ido encontrá-lo em outra cidade. Ela falou: ‘como ficou essa história, você conseguiu visitar esse namorado?’. E eu disse: “pô, Elza, que cabeça é essa que você tem?”, lembra Maria.
“Ela não era uma mulher de ficar abraçando, agarrando, mas era aquela pessoa confortável, sabe, gostosa de você chegar e ter aquele carinho meio de mãe. Ela era meio maternal. E isso ela mostrava para os fãs, pois ela realmente amava e tinha muito respeito por eles”, diz.
Elza Soares e Garrincha, com quem foi casada por 16 anos | Foto: Divulgação
Além dos fãs, Elza ainda mantinha o carinho por Garrincha, com quem foi casada por 16 anos. “Ela era muito encantada por ele, mesmo tantos anos depois. E ela mantinha um quadrinho pequeninho no quarto dela, do Garrincha, que um fã deu. Ela tinha muito apreço por ter sido presente de um fã.”
Elza e o reconhecimento de seu legado
Elza Soares faleceu na tarde de quinta-feira, 20, em casa, no Rio de Janeiro, de causas naturais, aos 91 anos de idade.
Na nota oficial publicada nas redes sociais da cantora, sua família e equipe destacaram a eleição de Elza como a Voz do Milênio, realizada pela Rádio BBC de Londres, em 1999. O título foi uma das tantas homenagens recebidas em vida por essa brasileira, cujo legado ultrapassa gerações.
“Eu fico triste (com a morte) e ao mesmo tempo fico feliz, pois acho que poucas pessoas da idade dela são homenageadas em vida. E eu acho que a gente tinha que fazer mais isso. E ela foi homenageada em prêmios, por escola de samba, foi a A Voz do Milênio. Eu acho que ela teve o reconhecimento devido sim, ela era feliz”, finaliza, emocionada, Maria Lina.
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