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O último verso

“Quero ver você não chorar, nem olhar pra trás, nem se arrepender do que faz" - Para Não Ser Triste, Edson Borges de Abrantes

Por George dos Santos Pacheco
07/01/21 - 08:46

Quando eu era garoto, teve uma propaganda de fim de ano na TV que me marcou até hoje. Era 1987. Airton Senna ganhara o GP de Mônaco, Drummond nos deixava e o Brasil era palco do maior acidente radiológico fora de unidades nucleares. Foi um ano bem agitado, mas nada, nada disso, nem mesmo a abertura do Fantástico, foi capaz de me impressionar tanto quanto aquele jingle publicitário.

Pois bem. O mote do comercial era um coral de crianças, vestidas com uma espécie de túnica, de tema natalino. A apresentação já havia começado e a música seguia irremissível; faltava, porém, um membro da cantata. As cenas que se seguiam mostravam o molequinho atrasado correndo pela cidade para chegar a tempo, mas ele só consegue comparecer, ofegante e feliz, para cantar o verso final: “pra você!”.

O que me impressionou tanto, cara pálida? As festas de fim de ano sempre assumem uma atmosfera mágica, quanto mais para uma criança. Eu tinha seis anos de idade e o garoto da TV era um pouco mais velho que eu, a identificação com o personagem era óbvia. Ora, parecia que ele não conseguiria chegar e aquilo era angustiante demais! Ele, contudo, não desistia, e era justamente isso o que emocionava (e emociona até hoje), a perseverança do menino que ficou satisfeito em participar tão somente com o último versinho. Terráqueos, meus olhos marejam toda vez que canto ou me lembro da tal musiquinha.

O que quero dizer – se é que quero dizer alguma coisa – é que aquela propaganda (e seu jingle poderoso) resume o que a gente precisa se lembrar não somente no fim do ano, mas todo santo dia: não desistir, mesmo que estejamos atrasados, mesmo que pareça não fazer sentido seguir em frente.

Mas todo fim de ano é a mesma coisa, caríssimo e festeiro leitor. Sempre tem propaganda, especial do Roberto Carlos (opa, nem sempre!), a gente pula sete ondinhas, se veste de branco, come romã, canta “hoje é um novo dia de um novo tempo que começou”, estoura espumantes e pede a Deus (mesmo sendo uma falta de respeito tratá-lo feito um gênio da lâmpada) que o próximo ano seja melhor. Fato é que tudo é muito estético, supersticioso e pirotécnico. Não é o ano que vem que precisa ser melhor (até porque os acontecimentos independem de nossa vontade), nós é que temos de ser melhores para o ano que se avizinha. Somos nós que precisamos ser novos.

Então, invés de pedir que o ano seja tal e coisa, coisa e tal, é muito mais honesto pedir mais paciência, mais força, mais resiliência, mais fé, porque com tudo isso a gente enfrenta qualquer barra (faz dieta, larga cigarro e o escambau). E na verdade, nem é o último verso que importa, mas continuar correndo até o fim.


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