O Mediterrâneo é aqui: produtor planta mais de mil oliveiras e quer fabricar azeite em Nova Friburgo

Depois do dilúvio universal, quando Noé solta uma pomba e o pássaro retorna com um ramo de oliveira, como descreve a Bíblia, foi como se estivesse trazendo em seu bico uma mensagem de esperança.

Nativa da parte oriental do mar Mediterrâneo, a oliveira é uma planta milenar e é considerada símbolo de paz, sabedoria e prosperidade.

E se apenas um ramalhete pode ser o símbolo de bom agouro, imagine centenas dessas árvores.

Esse é o plano de Leandro Caiaffa Orsay, um especialista em ciências náuticas que comprou terras em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, para realizar um sonho: uma plantação de oliveiras.

Ano passado, Leandro plantou 1.300 pés das árvores seculares que também são consideradas sagradas, por causa de uma origem mitológica.

Os gregos acreditavam que essas árvores tinham qualidades divinas e puniam quem ousasse arrancar uma oliveira.

Leandro tem uma atração pelas oliveiras e seus frutos que ele nem sabe explicar muito bem:

Desde criança, eu gostava das oliveiras, um pouco por causa do meu avô, então tem uma razão sentimental. Mas tenho uma ligação a mais e sempre tive uma vontade de cultivar a árvore que produz as azeitonas.

Em sua propriedade na região dos Três Picos, Leandro já colheu suas primeiras azeitonas, que ele fez algumas conservas para sentir que gosto tem o sonho de criança.

Até colher os primeiros frutos, Leandro estudou sobre o cultivo e qual é a altitude perfeita para a planta se desenvolver. E depois de preparar a terra para receber cada muda, ele foi pessoalmente buscar as mais de mil árvores de oliveira, no sul do país.

Leandro foi até o sul do país para buscar mudas | Foto: Leandro Caiaffa Orsay

A viagem de bate e volta num local tão distante foi uma aventura, mas Leandro não abriu mão de acompanhar toda a viagem de árvores tão especiais e cheias de histórias e lendas.

O projeto de Leandro vai além da mitologia, dos símbolos e dos significados sentimentais. O prático de navio do Rio Amazonas quer navegar em outros mares: ele pretende produzir 20 mil litros de azeite por ano na cidade serrana.

Leandro plantou algumas variedades de azeitonas, como a acrópole, arbequina, arbosana, coratina, frantoio, manzanilla e koroneiqui. Cada uma produz um azeite que harmoniza com determinados tipos de alimentos.

Quero fazer azeites de cada tipo de azeitona e combinar algumas para produzir um ‘blend’ especial.

Para produzir a quantidade de azeite planejada, Leandro precisa ainda esperar até o ano que vem. Porque as oliveiras têm o tempo certo de frutificação e uma data anual de colheita, com algumas condições necessárias.

Para a oliveira dar seus frutos, é preciso duas situações: dias frios e tempo seco. A árvore entende o perigo e com medo de morrer, floresce e gera as azeitonas.

Leandro quer produzir mais de 20 mil litros por ano | Foto: Leandro Caiaffa Orsay

As oliveiras são assim, com imagens simbólicas e muita importância para as práticas religiosas e esportivas, além do uso na medicina e na gastronomia.

Os gregos usavam o azeite em cerimônias religiosas e em rituais. Ele era usado para abençoar a cabeça dos reis, dos nobres, dos cardeais e de soldados vitoriosos.

Nas Olimpíadas, o óleo das azeitonas era passado em todos os participantes da competição durante a celebração dos jogos. Os vencedores dos jogos eram premiados com uma vasilha de azeite.

Também foi muito importante para o uso medicinal: ele era utilizado antigamente para tratar os ferimentos, curar problemas de estômago, otites e pele.

A origem do azeite, segundo a mitologia grega, tem diferentes versões. Uma delas é de que a árvore teria surgido de uma das disputas pelas terras onde hoje se encontra a cidade de Atenas.

Poseidon teria feito surgir um belo e forte cavalo com um golpe de seu tridente.

Enquanto a deusa Palas Atena, vencedora da disputa, teria então trazido uma oliveira, capaz de produzir óleo para iluminar a noite e suavizar a dor dos feridos, fornecendo alimento rico em sabor e energia.

Leandro foi até a Grécia e conferiu a beleza das oliveiras locais | Foto: Leandro Caiaffa Orsay

As oliveiras estão presentes nos mais diversos momentos da humanidade, do início ao fim da vida, na região onde elas eram nativas.

Em funerais, os mortos eram enterrados e sobre seu leito eram colocados raminhos de oliveira com intuito de proteger as almas.

As pessoas que acompanhavam o funeral tinham coroas de ramos de oliveira para se protegerem do mal.

Também marcavam presença no imaginário dos povos antigos no pulsar da vida. As mulheres que desejavam ser mães, para passar por uma gestação tranquila, deviam procurar a sombra de uma oliveira para passar algum tempo ali e ser abençoada.

Todas as histórias em torno das oliveiras e a magia da transformação em um óleo tão apreciado, circulam pelo mundo há muito tempo. E revelam a longevidade dessas árvores.

Existem registros de que algumas oliveiras presentes em Israel tenham mais de 2.500 anos de idade. Em Portugal por exemplo, tem uma oliveira de 2.850 anos.

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