Maio Laranja: a importância de combater o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes
Entenda quando alguém é vítima e como identificar alguns padrões de comportamento comuns aos abusadores

Somente nos primeiros três meses deste ano, 591 crianças foram vítimas de estupro no estado do Rio de Janeiro. O número representa um aumento de mais de 13% em relação ao mesmo período de 2020. E no total do ano passado, foram 2.202 registros. Os dados são do Instituto de Segurança Pública (ISP).
De janeiro a março deste ano também aumentaram os casos de aliciamento, assédio, instigação e constrangimento de crianças para atos libidinosos, de dez para 17 casos. Em todo o ano passado, foram 49.
No primeiro trimestre de 2021, houve estabilidade na quantidade de registros relativos à importunação sexual: 34. Contudo, nos 12 meses do ano passado, foram 88 casos.
Já quando o assunto é o favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual, foram nove registros em todo o ano passado e um no primeiro trimestre de 2021.
Todos os números citados acima demonstram que o abuso e a exploração sexual infantil ainda ocorrem, e são mais frequentes do que muitas vezes se imagina.
Para trazer consciência sobre esse tema, existe o Maio Laranja. E há também uma data nacional para a causa, o dia 18 deste mês, em memória à menina Araceli Crespo, de 8 anos, que foi sequestrada, violentada e assassinada em 18 de maio de 1973.
“O abuso sexual é um conceito guarda-chuva, pois contempla muitas questões”, explica o psicólogo e professor universitário Felipe Lemos Josué. “Não necessariamente é um estupro violento, mas pode ocorrer da forma de interações inadequadas entre adultos e crianças/adolescentes, ou entre próprios adolescentes mais velhos com crianças”, conta.
Existem diversas formas de abuso sexual contra uma criança ou adolescente | Foto: Banco de Imagem
Outro ponto importante é que não é necessário ocorrer contato físico para que seja caracterizado abuso. “Pode ser verbal, olhares constantes para as partes íntimas, constrangimentos a essa criança ou adolescente com fins sexuais”, detalha Felipe.
Em geral, o abuso é majoritariamente cometido contra meninas, mas os meninos também podem ser vítimas. Muitas vezes é praticado por parentes próximos, como pai, padrasto, tio ou avô.
No caso da exploração sexual, é preciso que haja uma relação em troca de algo ou mesmo a prostituição do menor de idade.
Sinais podem ajudar a identificar um caso de abuso ou exploração sexual
Quando uma criança ou adolescente passa por uma situação de abuso ou exploração, ela pode demonstrar por meio de alguns sinais.
O psicólogo Felipe Josué relata que em boa parte das vezes, a vítima sinaliza que algo não está bem, como se retrair ou silenciar, não querer ou não se sentir confortável para ir à casa de um potencial abusador, como um familiar ou vizinho, por exemplo. “É preciso ficar atento a mudanças repentinas de comportamento”, orienta.
“É importante respeitar a criança quando ela manifesta uma certa repulsa por alguma pessoa ou quando ela tem mudanças bruscas de comportamento, isso são alguns sinais.”
Perfil dos abusadores
É possível falar num perfil de potenciais abusadores ou exploradores sexuais? Para Felipe, existem alguns padrões muito atrelados a quem eventualmente pratica esses crimes.
Como exemplo, pode ser citada a aproximação afetiva com a vítima. Além de tratá-la muito bem, há a questão do toque exacerbado e da conquista gradativa da confiança da criança.
“A criança se sente aconchegada no colo de um adulto que a ama, que a trata bem, que a protege, e ela vai tomando gosto por esse toque acolhedor, e com isso vai aprendendo o que é a proximidade”, explica. “Geralmente, a figura que se aproxima com o intuito de abusar, usa disso”, complementa.
Também há o perfil da relação de segredo e ameaça. “Os abusadores podem dizer ’Se você contar isso para alguém, eu vou matar sua mãe, vou matar seu pai’ e a criança vai proteger os pais, e acaba mantendo o segredo, por exemplo”.
Duvidar e não acolher a vítima pode gerar ainda mais danos à saúde mental
Acolher a criança quando ela revelar que sofre algum tipo de abuso é importante. Muitas vezes, os pais acham que é bobeira ou duvidam que um parente poderia praticar o que é relatado. “Isso pode ser mais prejudicial do que o próprio abuso porque a criança vai se sentir totalmente isolada, sozinha, sem ninguém que a proteja”, explica.
Na dúvida, uma saída pode ser o encaminhamento da vítima para atendimento com profissionais especializados, como psicólogos. “Esses profissionais podem se aproximar de maneira respeitosa, criteriosa, a fim de verificar se esta criança está ou não sofrendo algum abuso e orientar tanto as crianças quanto as famílias”, recomenda.
“A partir daí a gente pode tomar as intervenções que sejam necessárias, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que orienta a nossa prática na proteção e na garantia de direitos”, revela.
Pais também sofrem e costumam se culpar; acham que não protegeram a vítima suficientemente | Foto: Banco de Imagem
Por outro lado, muitos pais acabam sendo mais impactados do que a vítima. “Muitas vezes, os pais chegam mais destruídos que a própria criança”, relata Felipe. “É a sensação de culpa de que não protegeu."
Os impactos para a vida da criança a médio e longo prazo vão depender de como essa criança ou adolescente será acolhido. Caso tenha o encaminhamento adequado, a vítima pode conseguir seguir em frente sem grandes traumas.
“Mas é claro que se a criança não tem essa proteção adequada, ela vai se deparar com ‘fantasmas’, né? Problemas com sono, ou que vai ter uma certa hipersexualidade, ou que vai ter, assim, uma repulsa à sexualidade, ou ao próprio corpo. Vai ter o seu desenvolvimento afetivo e sexual prejudicado. Pode desenvolver transtornos de ansiedade, agressividade e até depressão”, explica o psicólogo.
A quem recorrer?
Abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes são crimes previstos em lei. Além de procurar ajuda psicológica, é possível buscar auxílio no Conselho Tutelar. Para denúncias, dá para recorrer à Polícia Civil (197) ou à Polícia Militar (190). Os abusos também podem ser denunciados pelo Disque 100 nacional, uma central telefônica vinculada ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, por onde é possível obter orientação de como agir e tratar a situação.
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