Desmatamento da Floresta Amazônica está atrelado a paraísos fiscais
Estudo da revista "Nature Ecology and Evolution" revela que empresas que atuam na região recebem recursos oriundos dos refúgios econômicos
15/08/18 - 11:36
Os paraísos fiscais -conhecidos por esconderem dinheiro oriundos de propina, facilitando a entrada de grandes quantias de capital estrangeiro por juros baixos- podem estar atrelados agora ao desmatamento da Floresta Amazônica no Brasil, de acordo com um estudo divulgado na última segunda-feira, dia 13 de agosto, pela revista "Nature Ecology and Evolution".
Segundo a pesquisa, um total de 68% do capital internacional recebido por empresas do setor de soja e carne com atuação na Amazônia entre 2010 e 2011 são oriundos de paraísos fiscais como lhas Cayman, Bahamas e Antilhas. Para se ter uma ideia, dos 26,9 bilhões de dólares (104 bilhões de reais) que a iniciativa privada recebeu no período, 18,4 bilhões de dólares (71 bilhões de reais) eram originários de paraísos fiscais.
A amostra analisou os dados das quatro principais empresas de carne (Bertin, JBS, Marfrig e Minerva) e cinco do setor de soja (Bunge, Cargill, Archer Daniels e Midland, Amaggi, Louis Dreyfus).
"Os setores de soja e carne bovina estão associados ao desmatamento na Amazônia, como estudos já mostraram. E um acesso maior ao capital permite o aumento do desmatamento. No entanto, com os dados disponíveis atualmente, ainda não é possível fazer uma conexão direta entre aumento do desmatamento e os paraísos fiscais", disse à DW Brasil Victor Galaz, pesquisador do Stockholm Resilience Centre, que liderou o estudo.
"O uso desses ambientes não é apenas um desafio sociopolítico e econômico, mas também, muito provavelmente, ambiental. O sigilo dificulta a capacidade dos pesquisadores de analisar como os fluxos financeiros afetam as atividades econômicas", diz o estudo, assinado por pesquisadores da Universidade de Estocolmo, Academia de Ciências da Suécia e Universidade de Amsterdã.
Os dados foram obtidos por meio do Banco Central do Brasil e concluiu que os valores chegam às empresas em operações como empréstimos, operação de leasing ou aluguel, pagamento antecipado das exportações e financiamento de importações.
O estudo também analisou informações da pesca ilegal na Amazônia e apontou que 70% das embarcações que realizam tal expediente (não declaradas e não regulamentadas), são registradas em paraísos fiscais.
Os especialistas apontaram ainda que os impostos baixos são um subsídio para as empresas que degradam de alguma forma o meio ambiente, gerando consequências como aquecimento global e destruição da biodiversidade.