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Orixás, negritude e combate à intolerância: entenda a relação com as escolas de samba e o Carnaval

O Portal Multiplix conversou com historiadora, sacerdote de umbanda, carnavalesco e ator que encenou Exu na avenida, pela Grande Rio

Por Natalia Amorim
29/04/22 - 16:35
Orixás, negritude e combate à intolerância: entenda a relação com as escolas de samba e o Carnaval A reportagem conversou com Demerson D`Álvaro, intérprete de Exu pela Grande Rio | Foto: Divulgação/Alexandre Durão

“Os caminhos estavam abertos”, assim descreve Demerson D´Álvaro a respeito de sua participação na Acadêmicos do Grande Rio, a grande campeã do Carnaval carioca deste ano. Sua encenação como Exu marcou a passagem da escola na passarela do samba. E justamente com o orixá considerado o senhor dos caminhos, das fronteiras e da prosperidade, para as religiões de matriz africana.

Integrantes importantes da agremiação conversaram com a nossa reportagem sobre a relevância e a responsabilidade de levar para a avenida o enredo deste ano 'Fala, Majeté! Sete chaves de Exu'.

“Recebi um suporte muito grande da equipe de coreógrafos da escola e também espiritual, da Mãe Rute, zeladora de santo da família. Ainda assim, fiquei muito receoso de subir naquela bola e fazer tudo o que precisava ser feito. Mas, deu tudo certo, e foi uma honra e uma responsabilidade muito grande viver esse personagem tão importante na avenida”, conta Demerson, que é filho de evangélica e neto de umbandista.

Gabriel Haddad, um dos carnavalescos da Acadêmicos da Grande Rio, mestre em Artes e também doutorando em História da Arte pela Uerj, foi categórico ao dizer que levar o enredo para a Marquês de Sapucaí este ano foi, acima de tudo, um recado contra a intolerância religiosa.

Gabriel Haddad ao lado de Leonardo Bora. Ambos carnavalescos da Grande Rio Gabriel Haddad ao lado de Leonardo Bora. Ambos carnavalescos da Grande Rio | Foto: Gabriel Haddad/Arquivo pessoal

Segundo ele, Duque de Caxias, cidade onde a escola está sediada, tem inúmeros terreiros de Umbanda e Candomblé e, ainda assim, é um dos locais que mais sofrem com a intolerância no estado.

“A nossa ideia é desmistificar essa ideia negativa ligada a Exu e, por isso, a gente apresentou as sete chaves, que seriam as sete facetas do Orixá na avenida. O objetivo foi fazer com que as pessoas pudessem reconhecer que Exu está presente no dia a dia e que é uma força poderosa, de felicidade. Foi muito importante promover a valorização de Exu para o mundo, através de uma escola de samba. Quem faz o mal é o próprio homem e não o Orixá”, disse o carnavalesco ao Portal Multiplix.

Demerson D`Álvaro considerou uma grande honra e responsabilidade encenar Exu na avenidaDemerson D`Álvaro considerou uma grande honra e responsabilidade encenar Exu na avenida | Foto: Divulgação/Grande Rio

Quem é o Orixá Exu?

Segundo o sacerdote de Umbanda, do ritual Bantu-Ameríndio, Wellington de Oxóssi, do Centro Espírita Umbandista Filhos de Oxóssi, em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, Exu é um Orixá cultuado pelo povo africano há milhares de anos.

De acordo com a cultura africana, é ele quem desenvolveu a comunicação entre os seres, é o senhor das encruzilhadas, aquele que livra os seres humanos dos perigos.

O sacerdote salientou que, segundo a tradição religiosa, a figura do diabo não existe. De acordo com ele, este é um conceito judaico-cristão e nada tem a ver com o culto.

“Exu é força, movimento da vida, um dos Orixás que estavam no ato da criação do universo e do nosso planeta. Devido ao seu jeito brincalhão, citado em alguns mitos, foi, infelizmente, mal interpretado e demonizado pelos leigos, até os dias de hoje”, explica. O sacerdote ressalta a importância de falar sobre o tema, e ainda complementa:

Cantar a história dos Orixás é lembrar que as religiões afro-brasileiras merecem respeito e que o povo negro merece ser reconhecido por tudo o que fez para a construção do nosso país.

A Grande Rio foi uma das escolas que falaram sobre o enredo afro na avenida A Grande Rio foi uma das escolas que falaram sobre o enredo afro na avenida | Foto: Divulgação/Eduardo Hollanda

Relação entre Carnaval, negritude e religiões de origem afro

A professora, doutora em História Política pela Uerj, pesquisadora da história social do samba e ainda jurada do Estandarte de Ouro do Carnaval deste ano, Angélica Ferrarez, diz que por causa da ancestralidade negra do Brasil, existem alguns eventos e espaços de atualização do nosso contato com os antepassados.

“Os terreiros, os quilombos, as escolas e a roda de samba, de capoeira, enfim, são diversos os espaços em que renovamos essa energia do fundamento. Por isto, samba e o terreiro bebem da mesma água da fonte”.

Segundo ela, a ligação entre o Carnaval e as religiões de matrizes africanas é um tema que não se esgota:

O terreiro e o samba são dinâmicos, sempre haverá fonte de inspiração para enredos. A tríade fé, festa e devoção conta bastante neste quesito. O desenrolar da vida das pessoas está relacionado ao universo religioso. É como contar parte importante da sua vida, da vida da comunidade que você partilha.

Ela conta também sobre a abordagem da resistência negra, frequentemente levantada pelos enredos das escolas de samba, e associa isso ao fato de a comunidade negra ter colocado em pauta o debate racial e de gênero em escala maior. Logo, o reflexo disso no Carnaval já seria esperado:

Esta festa já é propícia para que tais debates aconteçam. Em um momento de implosão social como o que estamos vivendo, a opção das escolas por temáticas raciais, só fortalece a luta em outra frente de batalha.

Angélica finaliza tecendo uma crítica à ânsia dos envolvidos na celebração por altos lucros financeiros, mas reforçando a importância do papel dela no contexto sociocultural.

“Por mais que este evento sirva à máquina capitalista e seja apropriado por diversos atores sociais, o chão desse evento, dessa manifestação artística, continua sendo ‘Ao povo, em forma de Arte’, para não esquecer Candeia”, pontua.

Veja outras notícias das Regiões Serrana e dos Lagos do Rio no Portal Multiplix.


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