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Penso, logo duvido

Por George dos Santos Pacheco
22/06/22 - 09:53

“A dúvida é o princípio da sabedoria.” (Aristóteles)

O que não falta por aí é alguém vendendo uma ideia, terráqueo. E para cada mercador, uma pequena legião empenhando até as cuecas para comprá-las. Tem de tudo: moda, política, comércio, doutrinação barata. Como a feira funciona em qualquer lugar, nos pontos de ônibus, por telefone, e principalmente pela TV, o meio por excelência para se propalar conceitos, fica muito fácil engambelar. O negócio é que, pobre do ser humano, é muito sensível a esse tipo de coisa, desde as cavernas. Não se aflija, porém, pois tenho a solução perfeita para você!

Quando eu era criança pequenininha lá em Barbacena, veicularam uma campanha publicitária na TV, de uma salubre marca de embutidos, em que um garoto faz um teste de olhos vendados, para descobrir qual presunto era da marca em questão. “Tá querendo me enganar, é?”, diz o menino, no meio do filme, antes de concluir, com o famoso bordão, reconhecendo o produto, com “S” de saudável. Eu não sei se foi a propaganda, se foi uma frustração infantil com o bom velhinho, o fato é que ao longo dos anos me tornei um maníaco por conspiração. Não que eu considere isso algo lá digno de loas e encômios, mas na medida certa, pode salvar muita gente da sórdida e vulgar burla.

Descartes marcou a visão do movimento Iluminista com a célebre frase “Penso, logo existo”, colocando a razão humana como única forma de existência. Mas eu acredito sinceramente que podemos ir um pouco mais além: “Penso, logo duvido, logo desconfio, logo discordo, logo retruco”. Eu sei que devo ser um interlocutor chato para caramba, mas não consigo, sinceramente, seguir em um caminho para o qual todos vão, sem ao menos questionar. E acredito, com ainda mais vigor, que se há unanimidade em alguma coisa, é bem possível que exista algo de errado – até que se prove o contrário. Nelsão que o diga.

Vê bem, cismado leitor. O atendente de telemarketing de uma instituição financeira qualquer liga no meio do expediente de trabalho para oferecer uma oferta imperdível. Imperdível? E você é o sortudo para o qual ele ligou? Tá de sacanagem, não é? O supermercado anunciou a promoção de um produto, mas é só hoje. Sério? Por quê? A mão de uma rua vai ser alterada para dar mais fluidez ao tráfego. Que bacana! Então é para beneficiar a população inteira, e não parte dela. Legal. O expediente da firma vai mudar para que os colaboradores possam sair mais cedo na sexta. Que patrão gente boa!

Falácia pura. Salvo em (nem tão) raras exceções, sempre há segundas, terceiras, ou quartas intenções, quando não um motivo escuso por trás dessas pseudofacilidades. E soma-se a essas pulcras ideias diárias e urbanas, as que nos legaram ao longo da vida e que admitimos sem refutar: Descobrimentos, Tiradentes, Independências, Repúblicas…

Quando a esmola é demais, o santo desconfia. Reste claro, porém, que nem a oferta precisa ser grande, tampouco é necessário santidade para desconfiar. Bastaria ser um pouco mais crítico.

Não existe uma só ideia que não seja minimamente discutível. E que conste dos autos, neste ponto concordamos em gênero, número e grau: na mesma medida, esta profusão de parágrafos pode e deve ser alvo de suspicácia. Por que não seria? É claro e evidente que não é para enlouquecer e ficar por aí procurando chifre em cabeça de cavalo, não se trata disso. Mas cautela e canja de galinha não faz mal para ninguém. Ou será que não?


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