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Tragédias como a de 2011, na Região Serrana, podem se repetir? Como prevenir?

Segundo professora da UFRJ, que estuda encostas no Brasil há 40 anos, a probabilidade da mesma quantidade de chuva ocorrer novamente na região existe, só não se sabe quando

Por Sara Schuabb
11/01/19 - 11:23
Tragédias como a de 2011, na Região Serrana, podem se repetir? Como prevenir? Tragédia que marcou a Região Serrana faz oito anos | Foto: Reprodução/Internet

Janeiro não é um período de boas lembranças para muitos moradores da Região Serrana do estado do Rio de Janeiro. Nos dias 11 e 12 deste mês completam-se oito anos em que Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis e mais quatro cidades da região foram assoladas pelo desastre climático de 2011, que resultou em mais de 900 mortos e 190 desaparecidos, de acordo com dados oficiais dos governos locais.

Diante da previsão, pelos principais institutos de meteorologia, de um verão com índice de chuvas acima da média e de um contexto em que as mudanças climáticas estão em discussão global, surgem questionamentos como: há chances de termos uma nova tragédia climática na região em decorrência de variações climáticas? Será que estamos preparados para enfrentá-la?

De acordo com a coordenadora do Geoheco/Laboratorio de Geo-Hidroecologia e Gestão de Riscos da UFRJ, Ana Luiza Coelho Netto, que há 40 anos dedica-se a estudos de encostas no Brasil, existe grande probabilidade de ocorrer a mesma quantidade chuva novamente na região, mas não se sabe quando. "Pode ser neste verão, no próximo, daqui a 50 anos. Não importa quando será, o importante é que estejamos preparados e com condições de evitar a quantidade de mortes que ultrapassou o que foi oficialmente divulgado”, afirma.

Centenas de vidas perdidas e municípios arrasados pela água e pela lamaCentenas de vidas perdidas e municípios arrasados pela água e pela lama | Foto: Reprodução/Internet

A coordenadora da UFRJ diz que a Região Serrana está em uma posição geográfica que recebe frentes de massas de ar que vêm carregadas de umidade do Atlântico, impulsionadas por frentes frias, o que favorece as ocorrências de chuvas, inclusive as mais intensas, com mais de 100mm, capazes de causar deslizamentos e inundações rápidas, especialmente em períodos chuvosos, úmidos, como o que vem ocorrendo desde novembro do ano passado.

Além disso, os dados pluviométricos da Região Serrana apontam que o regime de chuvas vem mudando gradualmente desde o século passado. "As chuvas estão se concentrando de novo. Há estiagens mais frequentes, prolongadas, aliadas ao fato de chuvas mais concentradas no verão", diz.

Influência do aquecimento global

Em uma escala de milhares de anos, mudanças climáticas sempre ocorreram no planeta Terra, com intervalos variados. Tivemos quatro glaciações nos últimos dois milhões de anos. E foi há 11.500 anos que ocorreu um aquecimento global com períodos mais úmidos alternados com períodos menos úmidos na Região Sudeste do Brasil. Os últimos mil anos foram os mais úmidos, mas com grandes variações decorrentes de intervenções humanas e desmatamentos. Atualmente, as variações climáticas apontam tendência ao aumento das estiagens e concentração maior de chuvas no verão , como indica o aumento na frequência das chuvas superiores a 100 mm ao dia.

Hoje, a maioria dos cientistas afirma que o aquecimento global está ocorrendo, pois há evidências em nível mundial, como o rápido degelo das áreas de altitudes mais altas e o surgimento de ilhas de calor em aglomerados urbanos. Porém, dessa vez, os humanos também estão contribuindo para agravar esse ciclo natural da Terra.

"Atualmente, estamos em um processo acelerado de mudança no regime climático, de chuvas, em decorrência do processo de crescimento de cidades, da industrialização e da devastação das florestas - a cobertura vegetal, que historicamente vem sendo removida, como por exemplo, no Vale do Paraíba há mais de 300 anos, com a expansão do plantio do café. E também na mata Atlântica, que foi removida em grande extensão, continuamente, no Rio de Janeiro e em São Paulo", explica.

Estamos preparados para enfrentar um novo desastre?

Desde 2011, diversas ações foram realizadas nas cidades atingidas. Obras de contenção e recuperação de encostas, mapeamento de áreas de risco, ampliação das estruturas de monitoramento do clima, instalação de sirenes, criação de pontos de apoio, de níveis de alerta e do envio de SMS comunicando às populações sobre perigos, entre outras medidas.

Nova Friburgo conta hoje com 39 sirenes em diversos bairros da cidadeNova Friburgo conta hoje com 39 sirenes em diversos bairros da cidade | Foto: Reprodução/Portal Multiplix

Os governos federal e estadual responderam também com legislações que levaram os municípios a elaborarem cartas de risco. Porém, segundo a professora da UFRJ, ainda não há conhecimento aprofundado sobre a superfície dos terrenos.

De acordo com Ana, ainda estamos muito aquém de uma preparação adequada para evitar um desastre em decorrência de variações climáticas, com chuvas pesadas. Como prevenção, ela diz que é fundamental que sejam desenvolvidas metodologias de referência que orientem os procedimentos para a redução dos desastres em regiões mais suscetíveis, como as montanhosas.

Além do clima, tragédia de 2011 foi provocada pela falta de planejamento urbano e preparo para lidar com adversidadesAlém do clima, tragédia de 2011 foi provocada pela falta de planejamento urbano e preparo para lidar com adversidades | Foto: Reprodução/Internet

Até 2011, a maior tragédia climática do país havia ocorrido na Serra das Araras, também no estado do Rio de Janeiro, no ano de 1967, quando um volume enorme de chuva causou uma devastação gigantesca e deixou centenas de mortos.

“Os governos não deveriam ter apagado da memória do estado do Rio de Janeiro o que ocorreu em 1967 e, certamente não poderiam ignorar a possibilidade de novas ocorrências como, de fato, se repetiu em 2011. Tivemos evoluções após 2011, mas ainda não temos condições de responder demandas relevantes para enfrentamento das próximas tempestades extremas de verão”, afirma.

É preciso evitar novas mortes

“Essas chuvas intensas podem ocorrer em qualquer verão e devemos estar preparados para enfrentá-las e não esperar que a casa caia. Mas, se não pudermos evitar que a casa caia, que sejamos capazes de evitar as mortes. A vida é uma só, e não podemos ficar na janela esperando que as pessoas morram por fenômenos que podem ocorrer e estão aumentando de frequência nos verões da Região Sudeste e em outras regiões do país”, conclui.


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