Pandemia prolongada e saúde mental

Estamos nesse início de ano vivendo mais uma onda de casos de Covid. Pós-festas de fim de ano, vimos o número de casos aumentar exponencialmente em cidades que já estavam com um funcionamento mais flexível e que agora voltaram ao perfil de quadros diversos de isolamento. A variante ômicron se espalhou rapidamente e veio para mostrar que ainda seguiremos em pandemia por um tempo.

Felizmente, o que temos acompanhado é que nessa variante, apesar da transmissão mais rápida, os casos tem sido mais brandos e com risco reduzido de hospitalização se comparados com a variante delta, segundo dados recentes da OMS (de dezembro/21). Porém todo cuidado segue sendo igualmente necessário.

Diante deste cenário, é natural que as pessoas voltem a se sentir vulneráveis, com medo, inseguras de se expor ou de sair de casa, ir ao trabalho, pois está presente a possibilidade real de contaminação.

O que estamos vivendo é um esgotamento emocional diante do prolongamento e indefinição de tempo de retorno à vida "como ela era”. Estamos passando por algo extremamente atípico e invasivo e que nos parece uma história sem fim, causando sentimentos negativos diversos.

Tais receios e as restrições podem gerar efeitos psíquicos comuns, mas que precisam de atenção. Alterações de humor, perda de memória e concentração, falta de foco no trabalho remoto, alteração da rotina do sono, sensação de impotência e ansiedade são alguns dos possíveis sintomas decorrentes dessa vivência pandêmica.

Nada disso é preocupante caso seja pontual e temporário - afinal, a pandemia é um difícil desafio para todos -, porém requer uma auto-observação se houver uma persistência ou agravamento de algumas sensações.

Há alguns recursos possíveis para atenuar essa vulnerabilidade psíquica como estabelecer uma rotina equilibrada (organizar horários, fazer exercícios físicos, dentre outros hábitos saudáveis), evitar notícias alarmantes, manter contato com pessoas que lhe deem acolhimento, além de não se cobrar uma proatividade imediata, para assim poder ir retomando aos poucos a rotina fora de casa, conforme as recomendações médicas e de saúde pública.

Caso a insegurança paralise e impeça um retorno às atividades normais, causando prejuízos diversos, busque ajuda profissional. As psicoterapias ajudam na autorregulação, trabalham para que o indivíduo identifique o que está sentindo e possa ativar seus próprios recursos em diferentes situações de ameaças psíquicas, promovendo uma boa saúde mental.

Cada indivíduo deve poder avaliar e respeitar o seu próprio tempo, manter o autocuidado e não entrar em um ciclo patológico de isolamento emocional. Contar com a rede de apoio e priorizar pessoas que lhe ajudem a se sentir mais seguro é importante para o retorno aos ambientes sociais e de trabalho. Ainda não acabou, mas seguimos juntos nos cuidados; é dever de todos para todos.