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"Ocorreu uma tragédia": como Nova Friburgo enfrentou outras crises de saúde, como a da gripe espanhola

Historiadora Janaína Botelho revela como o município da Região Serrana lidou com surtos, epidemias e pandemias de doenças contagiosas nos séculos 19 e 20

Por Matheus Oliveira
21/05/20 - 13:23
"Ocorreu uma tragédia": como Friburgo enfrentou outras crises de saúde, como a da gripe espanhola Imagem do Centro de Nova Friburgo em 2019. No passado, município já encarou outras crises de saúde, como a pandemia de gripe espanhola | Foto: Arquivo/João Luccas Oliveira

A pandemia do novo coronavírus mudou o dia a dia de todo o Brasil, inclusive o de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio. Ruas menos movimentadas, uso de máscaras, serviços e empresas fechadas, entre outras alterações de rotina trazidas pela quarentena, necessária para combater a propagação do covid-19.

Mas a situação não é novidade na história do município e, em entrevista ao Portal Multiplix, a historiadora Janaína Botelho conta como a cidade enfrentou outras crises de saúde, inclusive a pandemia de gripe espanhola, de 1918.

De acordo com Janaína, o Brasil enfrentou diversos surtos de doenças como tuberculose, varíola, cólera-morbo e febre amarela, no século 19. Entretanto, em Nova Friburgo, há registro apenas de casos de tuberculose naquela época.

Até meados do século 20, quando o antibiótico para a cura da tuberculose foi descoberto e passou a ser acessível à população, Nova Friburgo recebia, de forma intermitente, indivíduos que buscavam a recuperação da doença na salubridade do clima da serra.

“A Marinha, buscando o clima salutar de Nova Friburgo, chegou a construir, nas instalações do Sanatório Naval, um hospital para tratamento da tuberculose de seus marujos”, contextualiza.

Ainda segundo a historiadora, sem sistema público de saúde no país, cabia à Câmara Municipal da cidade cuidar do aspecto sanitário, de qualquer doença, através de normas do Código de Posturas Policiais.

“Cabia aos vereadores, a fiscalização do comércio de drogas/remédios nas boticas, do exercício da profissão de médicos, sangradores, cirurgiões-barbeiros e parteiras, zelar pela notificação imediata dos casos de varíola e cólera-morbo, estabelecer a obrigatoriedade da vacinação antivariólica, contratar físicos e cirurgiões do Partido da Câmara para o atendimento gratuito da população pobre, dos presos da cadeia e aplicação da vacina”, explica.

Quanto à febre amarela, apesar de não existir registro de contágio da doença em Nova Friburgo, a cidade recebia a elite carioca que fugia dessa epidemia, e ficava hospedada em hotéis e pousadas durante o verão, segundo Janaína.

Gripe espanhola

Depois da febre amarela, uma nova crise de saúde, dessa vez classificada como pandemia, surgiu no mundo, atingindo também a Região Serrana do Rio: a gripe espanhola.

Registros da Fundação Dom João VI, dão conta de que o primeiro caso em Nova Friburgo ocorreu em uma casa na rua General Osório, fazendo a doença se espalhar.

O prefeito interino do município, Francisco Caetano da Silva, convocou todos os médicos da cidade para ajudar no enfrentamento da doença e instalou, no antigo teatro Dona Eugênia, que ficava na rua Augusto Spinelli, uma enfermaria de emergência, segundo apontam documentos da fundação.

"Naquela época, não existiam medidas de distanciamento social ou fechamento do comércio. Se uma pessoa morresse em uma casa, os móveis eram queimados e se passava cal para desinfetar a residência", conta a historiadora Janaína Botelho.

Atual prédio do Sanatório Naval de Nova Friburgo. No século 19, local recebia doentes por tuberculose para tratamento. Já no século 20, centenas de prisioneiros de guerra acabaram sendo contaminados pela gripe espanholaAtual prédio do Sanatório Naval de Nova Friburgo. No século 19, local recebia doentes por tuberculose para tratamento. Já no século 20, centenas de prisioneiros de guerra acabaram sendo contaminados pela gripe espanhola | Foto: Divulgação/Marinha do Brasil

Outra situação emblemática da época, ocorreu em 1917, no Sanatório Naval, quando foram trazidos 600 marinheiros alemães, tripulantes de navios mercantes estacionados em portos brasileiros e que haviam sido detidos em razão da Primeira Guerra Mundial.

“Ocorre uma tragédia! Foram trazidos para o Sanatório Naval, 32 doentes acometidos por essa gripe, transferidos do Hospital Central da Marinha. Esses doentes acabaram infectando o acampamento dos alemães. Foram contaminados 276 dos 600 prisioneiros, tendo falecido alguns deles. No cemitério luterano, os túmulos dessas vítimas estão na ala esquerda, sendo todos iguais”, conta Janaína.

De acordo com os registros da Fundação Dom João VI, 129 pessoas foram enterradas no cemitério municipal, vítimas da gripe espanhola. No Brasil, estima-se que a doença tenha levado à morte de pelo menos 35 mil pessoas. O auge da pandemia durou de 1918 a 1920.

Epidemia de tifo

Mas se engana quem pensa que as crises de saúde em Nova Friburgo pararam por aí. Ainda no século 20, na década de 30, a cidade serrana enfrentou uma epidemia de febre de tifo e utilizou as instalações de um lazareto - estabelecimento construído no fim do século 19 para isolamento de pacientes com hanseníase - para receber os doentes.

Janaína detalha que um caminhão com toldo verde e colchonetes passava recolhendo os infectados para confinamento no local.

“A visita era proibida e raramente os adoentados se recuperavam. Muitos nem tiveram conhecimento onde os seus familiares foram enterrados, mas tudo indica que havia um cemitério nos fundos daquele prédio. Os doentes ficavam sob a vigilância de guardas à paisana que evitavam as fugas e aproximações de curiosos ou de parentes dos enfermados”, finaliza.


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