Crise faz com que friburguenses substituam carne bovina por salsicha e até pé de galinha
Preços sobem e açougues registram aumento na procura por alimentos que pesem menos no bolso
Quem nunca se deparou com pessoas na rua pedindo dinheiro ou um prato de comida? Cenas como essa têm sido comuns e, com a crise provocada pela pandemia da Covid-19, a vulnerabilidade social e alimentar de muitas famílias se intensificou.
A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar analisou a insegurança alimentar no Brasil com base no período da pandemia.
Com o levantamento, foi possível concluir que 55,2% dos domicílios brasileiros se encontravam em situação de insegurança alimentar, dos quais 9% conviviam com a fome, sendo pior essa condição nos domicílios de área rural (12%).
E para não deixar de comer alguma proteína, muitas pessoas apostam em substituições mais baratas, segundo Giselle Taranto, proprietária de um açougue que fica no bairro São Jorge, em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio.
“Nós notamos que as pessoas optam por substituir a carne de primeira pela de segunda, cortes de frango ou então salsicha”, diz.
Mesmo com essas substituições, a falta de emprego e renda fazem com que algumas pessoas busquem nos açougues produtos como pé e pescoço de galinha.
Em um estabelecimento que fica no bairro Vila Amélia, o açougueiro Reginaldo Luiz Moura, afirma que além da procura, o preço desses itens também aumentou.
“Aumentou bastante, pescoço e pé de galinha é o que mais sai. O pé está saindo na faixa de R$ 6,90 e o pescoço R$ 9,00”, relata.
Ainda de acordo com Reginaldo, algumas pessoas, normalmente moradores de rua, também pedem doação dos restos de carne, como as pelancas.
Em outro açougue que fica no centro da cidade, o açougueiro, Elcimar Bazilio, diz que a procura pelos cortes de galinha teve aumento.
“As pessoas tem procurado sim. Pé de galinha, pescoço e peito tiveram aumento na procura e muita gente tem pedido doação também", afirma.
Entretanto, a nutricionista Marina Mello alerta que esses alimentos possuem proteínas, mas não o suficiente.
“Eles possuem sim, proteínas, mas também tem muitos ossos, cartilagens, então nem sempre eles vão ser o suficiente para adequar a quantidade que a pessoa precisa ao longo do seu dia", explica.
"A proteína faz parte de várias funções importantes na manutenção da nossa saúde, como a imunidade”, complementa.
Inflação dos alimentos
O preço dos alimentos tem subido sucessivamente no Brasil desde o ano passado. Para se ter uma ideia, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o segmento de alimentos e bebidas acumula alta de 13,94% nos últimos 12 meses encerrados em agosto.
Porém, quando analisado item por item, a inflação das aves e dos ovos se destaca no mesmo período, com alta acumulada de 23,11%. E o índice fica ainda pior quando analisado o reajuste no preço da carne bovina, que é de 30,42%.
Fome no mundo
Conforme o relatório da ONU, o ano pandêmico está sendo marcado pelo aumento da fome em todo mundo e a estimativa das Nações Unidas para zerar a fome até 2030 não será alcançado por uma margem de quase 660 milhões de pessoas.
Desses 660 milhões, cerca de 30 milhões podem estar ligados aos efeitos duradouros da pandemia.
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