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"O voo do marreco"

Por George dos Santos Pacheco
24/01/24 - 09:10

“Julgar-se-ia bem mais corretamente um homem por aquilo que ele sonha do que por aquilo que ele pensa.” (Victor Hugo)

Quem nunca sonhou em voar? Não voar como Dumont e os irmãos Wright sonharam, mas levantar voo por si mesmo, como um pássaro, navegando pelo céu impunemente, sem compromisso ou responsabilidade feito Ícaro. Coisa maravilhosa é sonhar! Ingressar nesse mundo fantástico onde tudo é possível, onde o descabido passa despercebido, é comum, é normal, é banal.

Eu já passei por essa experiência diversas vezes, mas… é estranho. Em meu caso, sempre caminhava pelas calçadas do centro de Friburgo, em meio a tantos outros que se acotovelavam, apressados com seus compromissos, indo e voltando, alienados, cheios de sacolas nas mãos ou dedilhando smartphones. Em dado momento, dava uma pequena carreira, seguida de um salto, e sustentava-me no ar por alguns ínfimos minutos, bem baixo, próximo às cabeças dos transeuntes. Logo depois eu caía, um pouco ofegante, um pouco surpreso, um misto de estupefação e orgulho. Os outros nem se importavam com o meu voo, aquilo não era nada demais, apesar de ninguém ali ter aquela capacidade.

Anos e anos foi assim: o mesmo sonho, o mesmo voo curto, como o de um marreco, meio atrapalhado, mesmo que eu quisesse muito mais, mesmo que eu quisesse ir muito além. Mas na noite passada foi diferente, muito diferente. Foi fantástico, descabido…

Dessa vez eu caminhava pelas ruas da cidade, e da mesma forma, dei uma carreira e um salto. Meu corpo ficou extremamente leve e levantei voo, com os braços esticados à frente, os punhos cerrados, sobrevoando as outras pessoas na calçada por algum tempo – aquele intervalo de tempo impossível de se medir em um sonho – e repentinamente subi em velocidade, acima dos postes, desviando dos cabos elétricos, alcançando o topo dos prédios, e além! Disputava o espaço com alguns pássaros que desviavam de mim assustados, o vento tocando meu rosto delicadamente em um belo e limpíssimo céu azul, de sol radiante.

Em minha mente estava claro que não se tratava de um voo propriamente dito, mas de um grande salto, e que eu me equilibrava apoiando-me em colunas de ar quente ou frio, planando, perdendo altitude em alguns momentos, desviando novamente dos fios e voltando a voar com segurança logo em seguida.

Era incrível, porque eu via coisas que eu jamais imaginei que fosse ver, eu vi tudo por ângulos totalmente diferentes, paisagens que estavam ali, do outro lado dos morros o tempo todo, e que eu não tinha conhecimento: lagos, florestas, e pessoas. Pessoas que me ignoravam, como se fosse natural um homem voar. Ninguém se surpreendia por minha causa, ninguém apontava para o céu, questionando se era um pássaro ou um avião.

E então eu desci, ainda maravilhado por tudo aquilo, ofegante, feliz e sorridente como os loucos. Pousei – ou sei lá que nome podemos dar a isso – em um bar de um amigo meu (na verdade, eu nem sabia que ele tinha um bar, mas sim, era ele por trás do balcão), encostei-me em uma janela, e já estava servido de um copo suado de cerveja. E ele fazia troça comigo, junto a outro cliente ao balcão.

– E esse braço murcho aí, Super-homem? – ria-se do só então percebido uniforme tosco e folgado do Superman, confeccionado em malha de algodão desbotada, a já manjada cueca vermelha por cima da calça, e a capa meio embolada por cima do ombro esquerdo. E eu dizia:

– E daí, cara? Eu sei voar, eu aprendi a voar. Você sabe voar? Eu sei! – afirmava sorridente e cheio de orgulho, bebericando minha cerveja.

E acordei, súbito, ainda maravilhado por tudo aquilo, ofegante, feliz e sorridente como os loucos.

Querido leitor, você sabe o que significa isso? Isso não significa coisa nenhuma, meu senhor. Não precisa significar nada, basta o sonho e nada mais. Mas que foi muito legal… ah, isso foi!


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