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Desinteligência natural

Por George dos Santos Pacheco
14/05/25 - 09:57

"Hasta la vista, baby" (T-800)

Não faz muito tempo, a internet foi invadida por imagens no estilo do estúdio de animação japonês Studio Ghibli, elaboradas pelo gerador de imagens da Inteligência Artificial ChatGPT. A inovação, é claro, rapidamente se tornou uma tendência, e a ferramenta atraiu um milhão de usuários em uma hora; todos converteram ao menos uma fotografia ao formato anime. Eu fiz, você fez, aqueles que nos precederam e todos os demais. Foi como naquele samba imortalizado na voz do Jamelão: "Atrás da Verde e Rosa só não vai quem já morreu".

O que o pessoal do ChatGPT não esperava era que o octogenário criador do estúdio, Hayao Miyazaki, não fosse gostar muito dessa conversa. De fato, não é de hoje que a criação e o desenvolvimento de IA repercutem de maneira negativa entre estudiosos, pois levantam questões éticas, além de problemas sobre direitos autorais e apropriação dos estilos artísticos de criadores. Em 2014, Stephen Hawking declarou que "essas máquinas avançariam por conta própria e se reprojetariam em um ritmo sempre crescente. Os humanos, limitados pela lenta evolução biológica, não conseguiriam competir e seriam desbancados". Já Nick Bostrom, filósofo de Oxford, afirmou que "a chamada superinteligência pode levar a humanidade à extinção".

Confesso, terráqueo, que também não sou lá muito simpático a esse conceito de inteligência artificial. Fazendo uma analogia, é como no diálogo Fedro, de Platão, onde ele discute com Sócrates e Fedro sobre a invenção da escrita e seus efeitos sobre a memória e o conhecimento. Em determinado momento, ao examinar a conveniência ou inconveniência da escrita, Sócrates narra ao seu interlocutor o mito de Teuth, que, entre muitas invenções, como o jogo de damas, os números, a geometria e a astronomia, também criou a escrita. Esta, segundo o deus egípcio, tornaria os homens mais sábios e com melhor memória. No entanto, o rei a quem Teuth permitiu distribuir tais invenções questionou a eficácia da escrita da seguinte maneira:

"[...] essa descoberta provocará nas almas o esquecimento de quanto se aprende, devido à falta de exercício da memória, porque confiados na escrita, é do exterior, por meio de sinais estranhos, e não de dentro, graças a esforços próprios, que obterão as recordações. Por conseguinte, não descobriste um remédio para a memória, mas para a recordação".

Acontece que no texto original, o termo utilizado é phármakon, que significa tanto remédio quanto veneno, veja só.

Esse questionamento proposto por Platão deveria ter se estendido não apenas à escrita ou às inteligências artificiais. Não me recordo, por exemplo, de ter visto nos livros de história qualquer objeção quanto à invenção da roda, da lâmpada, do telégrafo, do rádio. Não me lembro de ninguém questionando se os celulares, os telejornais, os grandes empresários, os políticos, os conglomerados industriais ou a televisão se tornariam mais inteligentes que os homens e poderiam, no futuro, destruir a raça humana.

Dois pesos, duas medidas? A verdade é que toda inovação tecnológica tem como seus mais atilados agentes a preguiça e o instinto de sobrevivência, legítimos frutos de nossa desinteligência natural. Não deveríamos ter aceitado qualquer novidade pacificamente, mas sim, ter questionado seus efeitos a curto, médio e longo prazo. Contudo, nós terráqueos somos sem-vergonhas mesmo e agora já é tarde, o leite já foi derramado; não há como voltar atrás. Basta para nós orar, rezar ou acender vela, torcendo para que uma dessas máquinas não caia do céu apontando um trabuco para nós, porque a vida não é um filme e nem sempre o mocinho vence no final. Hasta la vista, cara pálida.


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