O todo é maior que as partes

“Um bom exemplo é o melhor sermão.” (Benjamin Franklin)

Eu sei que posso ser acusado de confuso e contraditório, afinal, não é de hoje que defendo aqui, lá e acolá, o poder das palavras, chegando a colocar em plano oposto os números. Ora, por acaso você já viu alguém por aí empenhando qualquer outra coisa que não a palavra, a fim de credibilidade? “Te dou minha imagem!”, ou “Te dou meu número!”. Claro que não, terráqueo!

Convenhamos, porém, que igualmente proporcional ao poder da palavra, é a exatidão do número. Se há certeza de algo, confirma-se com um “tão certo como dois e dois são quatro", sem direito a prova real, nem nada. Fim de conversa. Nosso problema, então, deixa de ser da ordem da neurolinguística, gramática ou ortografia, e torna-se um problema matemático.

Acompanhe meu raciocínio, cara pálida.

Não raro, alguém me pergunta, numa dessas conversas próprias, impróprias, e aparentes, como criar o hábito de leitura nos filhos. A resposta surpreende, o sorriso se desvanece, muda-se de assunto descaradamente. Talvez esperassem uma pílula milagrosa, algo mágico... um pó de pirlimpimpim, quiçá. Mas anotem isso em seus cadernos, porque é importante e vai cair na prova: se desejamos um determinado tipo de comportamento em nossos filhos, sejam hábitos de leitura, alimentação saudável, julgamentos mais éticos, honestidade e valores justos, inicialmente, é necessário adotar a postura desejada. Voilà! Caso contrário, nada feito. A premissa é válida e é quase um postulado euclidiano, atentíssimo terráqueo.

Por que os pequenos adoram uma TV? Por que não largam o celular ou tablet? Relógios, controles de aparelhos? Por que usam palavrões? Primeiramente porque tem acesso a tudo isso.

Segundamente, porque veem os pais utilizando as mesmas coisas. Então, se a intenção é estimular hábitos saudáveis, precisamos adquirir também estes hábitos. Ninguém pode dar aquilo que não tem. E isto aqui é certo, como dois e dois são quatro. Não existe coerência em cobrar algo que não praticamos, seja dos filhos, dos políticos, do dono do mercado ou de quem quer que seja.

Agora vá lá, sendo os números e palavras, individualmente, importantes assim, imaginem juntos? Se o exemplo doutrina muito mais que o conselho, a prática, por assim dizer, deve(ria) refletir o discurso, e vice-versa. Dessa maneira, são uma dupla formidável, diria até perfeita. Uma questão de lógica que não se pode refutar.

Como vê, terráqueo, não sou tão confuso e contraditório assim. Ser pai é ser um porto seguro, um conselheiro, um amigo, (o churrasqueiro do final de semana), mas acima de tudo, ser pai é ser exemplo, um bom exemplo. E isto está acima de palavras e números. Como é que pode apenas três letrinhas serem tanta coisa? São muitas e apenas uma. É o todo maior que as partes.