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A terceira pessoa

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Por George dos Santos Pacheco
06/12/23 - 09:05

“Quem conhece os outros é sábio. Quem conhece a si mesmo é iluminado.” (Lao-Tsé)

Caminhando pelas calçadas da Alberto Braune, dentro de um ônibus cheio, sentado no banco da igreja na hora do sermão do padre, ou esperando para atravessar a rua, com um olhar atento e bem treinado, não é muito difícil avaliar e deduzir detalhes sobre uma pessoa, idade, crenças, gosto musical, por exemplo. A maioria de nós faz isso instintiva e descaradamente sempre que tem oportunidade, cheio de razões e propriedades. Aconselhar, então, somos mestres – ainda que não nos tenham pedido a opinião. Que vergonha.

Inversamente proporcional à habilidade extrassensorial e quase mediúnica de falar dos outros é a de falar sobre si mesmo. Quem nunca gaguejou, balbuciou ou mastigou mingau na hora de se apresentar numa entrevista de emprego ou de expor ideias e características para a família da namorada? “É fácil falar de mim, difícil é ser eu". Exatamente, terráqueo.

Na Língua Portuguesa existe a figura das pessoas do discurso, que são aquelas que conjugam os verbos e são representadas por pronomes: a primeira pessoa (quem fala), a segunda (com quem se fala) e a terceira pessoa (de quem se fala). Pois de acordo com um estudo canadense, falar sobre si mesmo em terceira pessoa é uma maneira de se distanciar das próprias experiências para descrever e compreender os nossos comportamentos e sentimentos, como se fossem de um outro alguém. Tal prática, o ileísmo, muito utilizado como recurso estilístico na literatura, foi nomeado no século 19 pelo poeta inglês Samuel Taylor Coleridge, e também poderia ser útil como argumentação retórica, como fazia o imperador romano Júlio César e muitos outros líderes políticos. Pelé, Marilyn Monroe, Alice Cooper, e Deanna Durbin, também praticavam o ileísmo, a fim de afastar sua personalidade pública do seu eu real, o que pode parecer pedante para muitos (e louvável para alguns outros). O caso de Donald Trump... bem, o caso dele é um mistério insolúvel.

Não se sinta confuso, cara pálida. Não priemos cânico. A fronteira entre a soberba e o louvor é, de fato, uma linha demasiado tênue. A ferramenta terapêutica, segundo especialistas, serve para maior controle e estabilidade emocional, na compreensão de si mesmo e busca por mudanças significativas frente aos problemas, sem causar potenciais sofrimentos que a simples imersão nas emoções envolvidas pode causar.

Não se engane, contudo, meu senhor: a prática, quando opcional, pode soar arrogante, infantil e inclusive representar um narcisismo velado, uma estratégia do inconsciente para encobrir o próprio egocentrismo. Quando não, um transtorno mais grave, como bipolaridade e esquizofrenia.

Como recurso terapêutico é excelente, não há dúvida. Assim como não há dúvida que falar dos outros, avaliar, inferir suas características, aconselhar sem pedido, é muito mais fácil, e chega a ser abusivo e mal educado, seja na Alberto Braune, numa crônica, dentro do ônibus e principalmente dentro da igreja. Afinal de contas, quem nos deu esse direito? Ô costumezinho feio esse, rapá. Tem vergonha disso não? Eu tenho.


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