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A outra

Por George dos Santos Pacheco
02/09/21 - 15:24

“Não quero mais seu amor, não pense que eu sou ruim. Vou procurar outro alguém, você não serve pra mim.” (Roberto Carlos)

Chegou em casa exausto. O dia fora corrido e tudo o que poderia ter acontecido, realmente aconteceu. Regularizações de imóveis, impostos municipais, filas intermináveis de bancos e cartórios, clientes insatisfeitos, a cafeteira que queimou, o office-boy que faltou ao dia de serviço – isso tudo sem contar que a imobiliária ficou sem internet a manhã inteira por conta de reparos na rede. E não se faz nada sem internet hoje em dia.

Por hoje, contudo, é só. Folgou a gravata e dirigiu tranquilamente até em casa. Ligou o autorrádio na única estação FM da cidade, relaxando com os “sucessos do momento”. Consultou o aparelho celular quando parou no semáforo: não havia nenhuma mensagem, nenhuma ligação perdida, nenhuma espécie de contato dela. Vai ver, tivera também um dia atarefado. Bem, não importa. Pensava apenas em tirar aquelas roupas suadas, tomar um banho quente e uma boa dose de café.

Abriu a porta dos fundos e já sentiu o cheiro da bebida fresca. Ah, como gostava disso nela!

– Querida, cheguei! – alertou como naquele antigo seriado dos dinossauros. Mas havia vozes no interior, um diálogo inesperado e inconveniente, é verdade. Intrigado, deixou a maleta de couro no chão e seguiu em frente. – Mas... mas o que significa isso? – balbuciou, estupefato.

– Veja amor, temos visita... – disse a esposa, com a voz carregada de sarcasmo, sentada ao sofá com uma xícara de café na mão. Ao seu lado, tão imperturbável quanto ela, a amante, ostentando uma estreita mecha de cabelo azul contrastando nos fios caramelo-dourados, também degustando um cafezinho. Olhou-o com altivez, o semblante vitorioso.

– O que está acontecendo aqui? – perguntou ele, ganhando tempo para pensar no que ia fazer ou dizer. Ora, cacetas!

– Você a conhece? Eu também. Não é irônico? – perguntou a mulher, passando a mão carinhosamente no ombro da moça, após um gole da bebida. Abandonou a xícara na mesa de centro logo em seguida. – Pois se não está satisfeito, vai ter que escolher entre nós duas! – intimou a esposa.

– Eu acho justo. – concordou a outra, dando de ombros.

– Mas eu... eu tenho amor pra vocês duas! – argumentava ele, sem parecer convincente.

– Deixa de ser mentiroso que há muito tempo que você não é lá essas coisas!

– Ah é, menina? Que alívio! Pensei que era só comigo.

– Ô, eu ainda estou aqui!

– Sabe, o que me incomoda mesmo é o porquê. Por que você fez isso?

– Ele disse que o casamento de vocês não ia bem.

– Não ia bem? A gente está (ou estava) numa das melhores fases de nossas vidas! Planejávamos inclusive ter um filho.

– Ah, seu patife!

– Quer saber, então, do que mais? No início eu queria mesmo era ficar com as duas. Sou safado por isso? Que seja, não me importo. Mas me apaixonei. – disse olhando carinhosa e estrategicamente para a amante e prosseguiu. – Afinal, ela é mais jovem do que você, mais divertida do que você, menos chata do que você, menos irritante do que você... – retorquiu, contando nos dedos, de maneira inquieta.

– Mas que babaca... – disse a mais jovem com asco.

– Ah, é? Então, se ela é tão boa assim, quem quer ficar com ela agora sou eu! – disse a mulher, encarando-a com um sorriso enigmático.

– Ô, ô! Que história é essa? – rezingou o homem.

– Pense bem, querida. Esse cara é um grande de um mentiroso e não podemos confiar nele. Aliás, não precisamos que ele “escolha” entre uma de nós duas. Nós escolhemos, oras. Além disso, o que temos a perder? – persuadiu-a segurando as mãos da moça ente as suas, ante a surpresa da jovem.

– Estão de sacanagem?

– Quer saber? Você tem razão, não somos obrigadas a passar por isso. Agora, por favor, me leve daqui... – concordou, puxando a ex-mulher de seu ex-amante pela mão.

– Esperem aí! Aonde vocês pensam que vão? – arguiu o homem num sorriso incrédulo, seguindo as mulheres na direção da porta.

– Aonde vamos não lhe diz respeito... – respondeu a traída, sem olhar para trás.

– Ô! Vocês não podem fazer isso comigo! Ouviram? – esbravejou, estacando ao meio da sala.

– Ah, querido, quem fez isso foi você. E que fique bem claro: espero não vê-lo aqui quando voltarmos. – afirmou, virando-se e balançando o dedo em riste em sua direção. A ex-amante limitou-se a lançar-lhe um olhar altivo, o semblante vitorioso...

Assistiu a mulher sair pela porta da frente com a outra, sem saber o que dizer, ou o que pensar – feito um cachorro quando o carro para. Suspirou exausto. Precisava de um banho quente e uma boa dose de café. Tudo o que poderia ter acontecido, realmente aconteceu.


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