Preço do gás faz consumidores improvisarem na hora de cozinhar na Região dos Lagos do RJ
Enquanto morador transforma o velho fogão em fogareiro em Araruama, dona de restaurante monitora de perto o consumo de gás do fogão industrial em Cabo Frio

Viver em tempos de crise não é fácil. Cozinhar em tempos de orçamento apertado, tampouco. Isso porque o preço do gás liquefeito de petróleo (GLP), o famoso botijão de gás, está em alta e já ultrapassou os R$ 100 em algumas cidades do Brasil.
A alta fez com que algumas pessoas se reinventassem na hora de preparar o almoço ou o jantar. É o caso do Alcimar Costa, morador do distrito de São Vicente, em Araruama. Assim como muitos brasileiros, ele resolveu enfrentar a crise e driblar o uso do botijão de gás. Alcimar improvisou um fogão antigo e transformou em fogareiro à lenha:
Eu tive essa ideia há mais ou menos uns 3 meses, quando eu fui comprar um botijão de gás e tinha aumentado, tinha passado para R$ 60. Aí eu vi que era hora de inovar, pensar em economizar.
Ele conta que cortou a parte de cima da estrutura, fez uma adaptação com tijolos e pronto, nascia um fogão à lenha funcional. Alcimar diz que não teve muito gasto para fazer a intervenção, e que já está colhendo os frutos da economia. "Agora essa é a rotina, a comida fica até com um sabor mais caseiro, além de economizar mais", relata.
Alcimar e seu fogão à lenha improvisado no fogão antigo | Foto: Arquivo Pessoal
Fogão à lenha exige cuidados
Vale destacar que o uso de lenha para cozinhar exige cuidados diferentes do que cozinhar da forma tradicional. A fumaça preta da lenha pode provocar intoxicação e asfixia. Além de aumentar potencialmente o risco de incêndio, se o fogão estiver posicionado próximo a cortinas ou toalhas de mesa, por exemplo.
Mas, Alcimar garante que toma todos os cuidados, inclusive, com o fogão adaptado sendo colocado na parte externa da casa.
Em virtude da crise econômica em que o país atravessa, Alcimar diz que gostaria que os governantes priorizassem as necessidades do povo. Necessidades essas que são deixadas de lado quando 'eles' se elegem:
“Que eles pensem um pouco mais no povo brasileiro, porque condições para isso eles têm. Mas, infelizmente, depois de eleitos, só pensam na própria situação”, finaliza.
Preços nas alturas
Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o valor médio do botijão de 13 kg no final de 2020 era de R$ 75,29, e em 2021 saltou para R$ 96,89.
Em algumas cidades, o preço ultrapassa os R$ 100, como é o caso de Araruama e Cabo Frio.
Dona de restaurante também passa aperto
Não é só o GLP que está mais caro. O gás natural encanado, usado em casas e restaurantes, por exemplo, também está em alta. Só nos últimos seis meses, o gás encanado aumentou 48%, o que tem pesado bastante na conta do consumidor.
Lucia Tavares, proprietária há 15 anos do restaurante Café Colonial, no bairro Braga, em Cabo Frio, utiliza o gás encanado em seu estabelecimento, e revela que de abril para hoje sua conta de gás praticamente dobrou de valor.
Eu pagava R$ 350, em média. Hoje, eu pago mais de R$ 600 por mês. É um absurdo! Como que repassa esse aumento para o consumidor? Tem que ter jogo de cintura, pois é muito complicado.
Ela também revela que utiliza alguns artifícios para economizar, como por exemplo, monitorar de perto o consumo de gás do seu fogão industrial.
Lucia mostra a conta de gás que praticamente dobrou de valor, chegando a quase 650 reais | Foto: Arquivo Pessoal
“Eu fico sempre de olho no fogão. Falo sempre com as meninas para controlarem a abertura da boca do fogão, para não ficarem tempo demais com o fogo aceso, essas coisas. Se não economizar, fica complicado”, frisa ela.
No Brasil, 91% das famílias usam gás de botijão para cozinhar, enquanto 8% usam gás encanado, segundo dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O que diz o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense
Em nota, o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, (SindiPetro-NF), diz que os preços do botijão de gás explodiram, desde que a Petrobras alterou a política de reajuste dos derivados em suas refinarias, passando a praticar o Preço de Paridade de Importação (PPI).
Desde então, o preço do GLP nas refinarias já aumentou mais de 260%, o que fez o botijão de 13 kg ultrapassar os R$ 100 nas revendedoras.
A Petrobras foi procurada pelo Portal Multiplix, mas até o fechamento da reportagem, não se pronunciou.
Senado aprova o vale-gás
Para tentar amenizar a situação, o Senado aprovou, na tarde de terça-feira, 19, um projeto de lei que cria um subsídio para a compra de botijões de gás por famílias de baixa renda no país. O projeto foi aprovado por 76 votos a favor e um contra.
Para receber o subsídio, as famílias precisam estar cadastradas nos benefícios Cadastro Único (CadÚnico) ou no BPC (Benefício de Prestação Continuada). O projeto prevê que as famílias recebam o valor correspondente a pelo menos 50% do preço médio do botijão de gás de 13 kg, a cada dois meses, e agora aguarda apreciação da Câmara de Deputados para sair do papel.
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