Alta do preço do papel afeta setores gráfico e editorial em Nova Friburgo
Inflação da matéria-prima supera dois dígitos, segundo empresários desses segmentos

A inflação alta na economia brasileira não atinge apenas os alimentos e os combustíveis. O preço do papel disparou no mercado, afetando diversos setores, como gráficas, editoras e livrarias.
Em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, a Editora ‘In Media Res’, aberta em 2017, enfrentava anualmente um reajuste no valor do papel na faixa dos 10% a 15%, segundo a publisher Ana Beatriz Manier. Porém, este ano a alta se agravou.
“Já tivemos dois aumentos nessa mesma faixa (um em janeiro e outro em março) e temos a previsão de que esses reajustes continuarão bimestralmente”, afirma.
Recentemente, Nova Friburgo foi surpreendida pelo anúncio do encerramento das atividades da tradicional Livraria Arabesco. E a alta no custo do papel, que impacta diretamente no valor dos livros, pode dificultar ainda mais a vida do setor.
“Aumenta consideravelmente o preço final do produto, uma vez que a impressão gráfica responde por mais de 70% do nosso custo”, complementa Ana Beatriz.
Editora friburguense In Media Res conta com quatro selos de publicação, 80 autores e mais de 100 livros publicados | Fotos: Divulgação/In Media Res
Atualmente, restam pelo menos duas livrarias físicas na cidade: a Macondo, no Centro, e a Ecoarte, em São Pedro da Serra.
“Teve uma época que tínhamos umas cinco ou seis livrarias funcionando a todo vapor, e havia efervescência cultural na cidade”, lembra, com saudosismo, a aposentada Graça Simões, que por mais de 30 anos foi dona da Livraria Simões.
“É uma tristeza, porque além da inflação que está aí claramente, a falta de incentivo à cultura no país é gritante”, diz.
Por outro lado, o mercado de livros surpreendeu durante a pandemia. No ano passado, as vendas cresceram 29,3% e o faturamento subiu 29,2% no Brasil, segundo levantamento da consultoria Nielsen BookScan, divulgado no começo deste ano pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).
Mas a continuidade ou não dos aumentos no preço do papel, e também do frete, já que os combustíveis seguem subindo, promete ditar o futuro do setor, pelo menos no quesito vendas físicas.
A empresária Márcia Carestiato, dona da Gráfica Carestiato, relata que o aumento expressivo no preço do papel já tinha começado durante a pandemia, mas se agravou em 2022.
O segmento editorial – incluindo livros, folhetos, informativos etc. – representa apenas 10% da produção da gráfica, mas também sente em cheio essa alta.
Um reajuste de 35% nos papéis, como offset e couché, de uma das maiores empresas fornecedora de papel, a Suzano, estava previsto para março, mas um acordo da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) permitiu o parcelamento dessa alta.
“Uma parte agora em abril e outra mais para frente. Então, a verdade é que isso ainda não parou”, conta.
Por trás da inflação, existem alguns fatores como a demanda provocada durante a pandemia, o dólar alto – já que a celulose é cotada em dólar, o preço da energia e também do combustível.
“A gente ainda vê alguns reajustes de papel cartão – 15% em março, e isso acaba onerando também livros, papelaria, cadernos etc., e as embalagens, o que afeta diversos setores, como alimentício, farmacêutico, entre outros”, relata.
Quem pretende publicar livros deve se programar financeiramente | Foto: Reprodução/Portal Multiplix
No caso dos livros, Ana Beatriz Manier acredita que quem tem o projeto de publicar fisicamente vai achar um jeito de fazê-lo, assim como o leitor tradicional também continuará comprando.
“Terá que se planejar melhor financeiramente, sem abrir mão da excelência de serviços editoriais. (...) Quanto aos livros digitais, certamente eles ganharam espaço, mas não conquistaram o coração de autores e leitores pela falta de materialidade. É importante, ainda, ter o produto livro em mãos”, conclui.
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