Romeu apaixonado
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"A suprema felicidade da vida é ter a convicção de que somos amados." (Victor Hugo)
O homem estava sentado no pequeno sofá, absorto na leitura de seu livro, enquanto a mulher regava as plantas no quintal. O domingo era frio e brumoso, e um cafezinho quente seria muito bem-vindo naquele momento. Pensou em se levantar para prepará-lo, mas decidiu concluir o capítulo.
Nada feito, contudo. Nem café, nem capítulo. Eis que o garotinho desce as escadas correndo, aproxima-se do pai, com as faces coradas. Parecia fazer cálculos nos dedos. O que esse menino estaria aprontando?
— Oi, pai! – cumprimentou ele, chegando perto do homem.
— Oi, filho! – respondeu o pai, ainda tentando seguir, nem que fosse um singelo parágrafo.
— Me arruma dez pratas? – pediu ele, à queima-roupa.
— Dez pratas? Posso saber para quê você precisa de dez pratas? – perguntou, fechando o livro sobre o colo e encarando o menino com olhar intrigado.
— É para comprar um presente. Um presente para minha namorada – respondeu o garoto, baixando o olhar, encabulado.
— Ora, mas que novidade! Não sabia que tinha uma namorada! – comentou o homem, passando a mão nos cabelos do menino.
— Nem eu sabia, pai. Mas ela é tão bonita e cheirosa, divertida, ri das brincadeiras que eu faço… Acho que ela é minha namorada, sim! – disse ele com um sorriso tímido.
— Então, ela não sabe? – perguntou o homem, com bom humor.
— Não! É segredo! – respondeu o garotinho, cobrindo a boca com a mão para sorrir.
— E não acha que se você der um presente pra ela, vai revelar seu segredo? – lembrou o pai. O semblante do menino caiu.
— É verdade, né? Puxa vida! – disse ele, baixando o olhar.
— Isso não é bom?
— Não sei! E se ela não gostar de mim? – disse o garotinho, mais para si do que para o pai.
— Claro que ela vai gostar de você! – afirmou o homem, erguendo o rosto do menino com o dedo indicador. – Você é inteligente, bonito, obediente, penteia os cabelos, escova os dentes antes de dormir e ainda come brócolis! Quem não gostaria de você?
— Não sei, não. – disse ele, pensativo. – E se ela gostar de outro menino?
— Você só vai saber se falar com ela, não acha?
— Hum… acho melhor esperar. Obrigado, pai! – agradeceu o menino e se afastou, contando qualquer coisa nos dedos.
O garoto saiu em disparada para o quarto no andar de cima, mas voltou tão rápido que mal deu tempo de reabrir o livro. Ora, mas este menino é persistente mesmo! Vai longe!
— Pai, me arruma dez pratas? – pediu novamente, para surpresa do homem.
— Mudou de ideia? – perguntou ele, mais uma vez intrigado.
— Não! Dessa vez, vou comprar um presente para mamãe. Desculpe, eu sei que ela é sua namorada, mas ela é tão bonita e cheirosa, ri das minhas brincadeiras, cuida de mim quando eu preciso… Além disso, tenho certeza que ela gosta de mim! Mais do que qualquer outra menina!
— Eu acho que sim, meu filho! – disse o pai, abraçando o menino carinhosamente.
Da porta da cozinha, a mãe acompanhava tudo em silêncio, desde a menção ao termo "namorada". Sorriu e deixou uma lágrima emocionada escorrer pela face.
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