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Abolição da escravatura: 131 anos depois, por que data não é comemorada?

Historiador, integrante do Coletivo Império das Negas e militantes do Centro Cultural Afro brasileiro YSUN-OKE e da Colônia PAN-Africana de Nova Friburgo comentam sobre a ocasião

Por Sara Schuabb
13/05/19 - 13:22
Abolição da escravatura: 131 anos depois, por que data não é comemorada? Abolição da escravatura no Brasil completa 131 anos nesta segunda, 13 de maio | Foto: Banco de Imagem

A abolição da escravidão no Brasil, por meio da assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel, faz nesta segunda-feira, 13 de maio, 131 anos. No entanto, essa data tem servido mais como motivo de reflexão do que de comemoração. Após a abolição, houve algum processo de integração digna da população negra ao meio social? E de que modo a escravidão impactou na vida dos descendentes dos negros escravizados?

Segundo o professor de História, formado pela Unirio, Carlos Bessa, a militância negra não comemora o dia da abolição da escravidão porque esse processo, ao mesmo tempo que demarcou a libertação, jogou os negros à marginalização. “A cidade do Rio de Janeiro é um exemplo emblemático e responde, em partes, essa problemática, pois, foi onde nasceram as primeiras favelas, o espaço relegado aos negros e pobres daquela sociedade. E não houve inserção do negro recém-liberto na sociedade republicana, pois, eles não estavam figurados no espaço devido da discussão de um projeto de Brasil que àquela altura buscava modernizar-se”, diz.

A fotógrafa Maiara Felício, do Coletivo Império das Negas, de Nova Friburgo, diz que não há o que comemorar no 13 de maio. “A Lei Áurea, ao contrário do que se pensa e do que é ensinado, não foi incentivada por um pensamento humanitário e sim por um interesse comercial internacional. Tanto que políticas reparatórias não foram implantadas para inserir o negro no meio social e fazer dele um cidadão legítimo”, diz.

Quanto ao impacto cultural, Maiara diz ainda que as famílias africanas, assim que trazidas para o Brasil, eram separadas e vendidas, e seus descendentes perderam qualquer resquício de cultura e conhecimento da própria história, como o sobrenome africano. Já em relação ao reflexo econômico, o povo negro não colheu nada do que trabalhou durante 300 anos.

“Além de não receber remuneração, ele também não gerou herança para seus descendentes. Pós-abolição, os negros foram sobreviver em terras em que não interessavam à elite e os que tentaram ficar em grandes centros foram enxotados para as periferias devido à higienização dos espaços urbanos. E, com a vinda dos imigrantes, a escassez de trabalho limitou o ex-escravo a se enquadrar em subempregos, realidade que pouco mudou dentro desses 130 anos. O reflexo mais nítido dessa sequela é 70% da população mais pobre ser negra.”

Escravidão em Nova Friburgo

Quanto ao número de negros escravizados em Nova Friburgo e sobre como viviam aqui há poucos dados. Mas, segundo Ilma e Eliane Santos, militantes do Centro Cultural Afro brasileiro YSUN-OKE e da Colônia PAN-Africana, os negros, na época da escravidão, eram de aproximadamente 70% da população de Nova Friburgo e os mesmos viviam como todo e qualquer escravo no Brasil, em senzalas e sob constantes castigos e muitos trabalhos.

Entendemos a importância da vinda de todos os povos no desenvolvimento de Nova Friburgo. Porém, uma vez que vivemos em uma cidade conhecida como a "Suíça Brasileira", toda a cultura ainda está muito mais voltada para os euros descendentes, sendo assim, a nossa participação cultural fica mais centralizada nas favelas, no carnaval e na gastronomia. Em relação à situação econômica, ainda hoje somos a base da pirâmide da sociedade friburguense na qual ganhamos menos e trabalhamos mais.

Na atualidade, segundo Carlos Bessa, dados do IBGE apontam aproximadamente 15 mil habitantes declarados pretos em Friburgo – que representam 8% de uma população de 190 mil - em comparação com os 72% declarados brancos, ou seja, cerca de 136 mil habitantes.

O historiador diz que é evidente que há uma espécie de apagamento da contribuição dos escravos e seus descendentes no município e existe uma negação das religiões de matrizes africanas. “No ínterim das comemorações dos 200 anos do município pouco se falou da contribuição do povo negro na construção e fundação da nossa região. A mentalidade coletiva, se assim posso dizer, do povo friburguense, ainda é permeada pelo mito da "Suíça Brasileira", das colônias alemãs, libanesa, etc. Ou seja, não há promoção de eventos que nos permitam conhecer nossas raízes, saber de onde vieram nossos ancestrais, de qual parte da África no período escravocrata”, afirma Carlos.

Como mudar essa realidade

Quanto às ações que podem ser desenvolvidas em âmbito municipal para que o racismo seja combatido, Carlos defende a discussão do racismo sistematicamente e a implementação de políticas afirmativas, que não foram feitas lá no início do século XX.

“Há muito trabalho, muitos percalços, muitas mazelas para combater. O Brasil é um país desigual, onde 54% de nossa população ocupa os piores lugares da nossa sociedade. Atualmente, a renda média dos cidadãos negros no Brasil é de R$ 1.500 enquanto a de brancos é de R$ 2.800, segundo dados de uma publicação da semana passada na revista Exame. Não dá para falarmos de democracia racial enquanto existir essa disparidade, por exemplo. Há muito o que se fazer”, finaliza Carlos Bessa.


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