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Escola de qual partido?

Uma escola acrítica é uma escola em descompasso com o tempo presente

Por Conrado Werneck Pimentel
23/11/18 - 12:43

O projeto Escola Sem Partido supõe uma dicotomia que simplesmente não existe. Não há escola com partido. O que o projeto em questão propõe é um silenciamento sobre fatos espinhosos da história do nosso país e da história da humanidade. Houve, de fato, trabalho compulsório forçado – mais conhecido como escravidão – no país durante a época do Brasil Colonial ou houve uma servidão voluntária? A chegada dos portugueses à Terra Brasillis foi acompanhada de um processo civilizatório humanístico ou foi devastador para os ameríndios que aqui viviam? O período de 1964 a 1985 pode ser considerado em termos democráticos ou ditatoriais?

O que se sucede no Brasil em plena operação Lava Jato (que ocorre já há 3 anos, vale lembrar) é um aproveitamento da perplexidade da sociedade brasileira para que haja a tentativa de recontar a historiografia de forma distorcida – o que gosto de denominar como fake views – e, aproveitando-se disso, mais confundem do que explicam. Pois tento, neste curto espaço, esclarecer. Aparentemente há uma vontade arbitrária em confundir, por exemplo, o que é ideológico e o que é ético. Pode-se considerar ético um sistema de valores que contempla, na mão de 5 famílias brasileiras, o monopólio dos meios de comunicação em massa? Pode-se considerar o mesmo quando o número de milionários no Brasil e no mundo aumentam, ao passo em que a desigualdade social e a extrema pobreza avancem? A própria organização política-econômica que vivemos se justifica pelo que valorizamos como sociedade – a competição acirrada e a exploração de tudo que está à mercê de ser explorada (a natureza e a sociedade, como um todo).

Pois é justamente esse o papel que a ideologia sob a qual vivemos faz: naturalizamos estas e tantas outras questões, como se assim o fossem desde que o mundo é mundo. Esta é parte da ideologia da democracia neoliberal em que nos encontramos (e tudo indica que irá se alastrar e se aprofundar). Não é, não foi e – aqui está o imbróglio – não precisa continuar a ser assim, desde que tenhamos um olhar crítico sobre as relações sociais e como elas se estabeleceram, sob quais forças se mantiveram e sob quais estruturas encontram apoio para que continuem existindo. E é justamente sobre isso que o Escola Sem Partido se arvora: em enquadrar todo o poder do conhecimento científico em uma visão de mundo estático e naturalizado: o mundo e a história das sociedades imutáveis, onde não houveram derramamento de sangue e perseguição com as justificativas que hoje nos parecem (ou deveriam parecer) as mais pífias possíveis – superioridade biológica, cultural, civilizacional.

Justamente por isso que o projeto da Escola Sem Partido tem sido cunhada por seus críticos, em contraposição ao projeto, como Escola Sem Mordaça, para defender seu modelo de liberdade de cátedra e de pensamento crítico. Posto que, sem estes, a escola torna-se simplesmente um reprodutor – mais profundo do que já é – das desigualdades sociais. O papel das escolas e do espaço livre para o debate de ideias é de suma importância para que alunos tornem-se cidadãos melhores e, por outro lado, que os professores possam aprofundar os conhecimentos que passam aos alunos.

A quem interessa que não seja discutido o poder que o homem exerce sobre a mulher em uma estrutura baseada no patriarcalismo? A quem interessa que o racismo brasileiro seja mais naturalizado ainda em suas relações sociais e em suas próprias instituições? A quem interessa, por fim, que a Constituição Cidadã em si não seja respeitada e não sirva como norte para que nossa sociedade se desenvolva como respeitadora da dignidade humana e da cidadania?

Isto não é “ideologização”, nem “doutrinação comunista”: é apenas resguardar o documento que nos rege como um Estado Democrático de Direito e assim deveria estar salvaguardado de qualquer tentativa de eximir pessoas públicas quaisquer de suas responsabilidades para com a sociedade brasileira.


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