Silêncio
(ficção)
Aprendi a ocupar pouco espaço, desde sempre. Aprendi a reduzir-me aos limites do meu corpo, espremendo-me ao mínimo de mim. Minha sensação era de ser enorme. Meus braços sempre foram tentáculos que derrubavam tudo, minhas pernas tropeçavam-se em si mesmas. Eu não sabia andar sem que meu corpo desforme atropelasse quem ou o quê estivesse em volta.
Economizei meus movimentos para esconder o meu desajeito no mundo.
Encolhi.
Só conseguia enxergar o que estivesse a dois palmos de mim: tornei-me capaz de distinguir o escuro da escuridão. Passei a ouvir apenas os sons ao meu redor: o cair de uma agulha, o roçar do lápis no papel. E a minha língua se enroscava dentro da boca. Minha voz sumiu. Os médicos diziam que era fraqueza no diafragma. Outros diziam que era histeria. Alguns diziam até que era tudo mentira.
Só eu não dizia nada.
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