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Traumas infantis podem impactar a vida adulta

Pais devem sempre estar abertos ao diálogo com os filhos sem que haja mistérios

Por Isadora Jaron
31/03/21 - 16:13
Traumas infantis podem impactar a vida adulta Uma criança privada de experiências, de brinquedos, tende a desenvolver uma atividade cerebral menos rica | Foto: Banco de Imagem

Em pleno século 21, ainda é comum ver na sociedade famílias que tratam com violência seus filhos, seja física ou mentalmente. Gritos, xingamentos, puxões de orelha, palmadas e até agressões mais intensas são formas de “educar” as crianças, nesses ambientes familiares. Um estudo realizado pela Universidade de Alberta, no Canadá, mostra que o estresse traumático na infância pode impactar a vida adulta. Desenvolver transtornos e condições de saúde, podem afetar não só a si próprio, mas às pessoas ao redor.

Para falar sobre isso, o Portal Multiplix conversou com a psicóloga e mestre em psicologia e professora universitária aposentada da Universidade Federal Fluminense (UFF), Eliana Vianna.

“Quanto mais estimulações a criança tiver e mais coisas para mexer, abrir, fechar e explorar, mais desenvolvimento cerebral ela terá. Uma criança privada de experiências, de brinquedos, que não convive com outras crianças e que não vai à escola, tende a desenvolver uma atividade cerebral menos rica, porque a função cerebral é também, principalmente, o resultado das experiências que a criança tem”, explicou.

Eliana ainda destacou que uma coisa é o cérebro e outra é o psiquismo. O cérebro é um órgão do nosso corpo que responde por toda a organização do funcionamento corporal. E o aparelho psíquico, que seria a mente, é uma função que se desenvolve frente às nossas experiências. Vai se organizando de acordo com a idade e se modificando.

“A nutrição também é importante, porque a célula nervosa se alimenta de proteína, então existem muitos estudos que mostram que a subnutrição infantil provoca uma diminuição do que seria o potencial cerebral. É importante ter bastante experiências para favorecer essa atividade cerebral e essas experiências que a criança tem, com materiais, com pessoas, é que deixam as impressões emocionais. Quando eu tenho um encontro com uma pessoa, eu tenho uma determinada troca emocional, afeto é o que resulta dessa troca”, frisou.

E é nessa troca, caracterizada pela emoção, que a criança é afetada, positiva ou negativamente e que podem ser marcadas por um pouco de confusão entre a realidade e a fantasia, criando os “traumas”. Quem nunca conheceu uma pessoa e logo de cara se familiarizou e se identificou com o outro? Em contrapartida, também há a experiência daqueles que se conhecem e o “santo” não bate.

“Na criança muito pequena há uma certa confusão entre a fantasia e a realidade. Freud, inventor da psicanálise, descobriu que você pode se lembrar de uma coisa que não aconteceu. Pode se lembrar, na verdade, de uma emoção que você teve, frente a uma determinada situação que te reportou a uma outra. Esse sentimento (de se afastar) provavelmente acontece porque esse contato te reportou, por alguma razão, aparência física, tom de voz, a maneira de vestir, a uma pessoa anterior a qual você teve uma experiência que foi desagradável”, esclareceu Eliana.

A psicóloga ainda disse que durante as sessões de psicanálise infantil, com os desenhos e as coisas que contam, as crianças têm uma lembrança de algo que aconteceu há muito tempo ou que efetivamente não aconteceu e ela completa essa experiência com outras coisas, fazendo uma mistura e criando uma realidade.

“Não é mentira, é que na memória dela ficou um pedaço de uma experiência meio solta e ela completa essa experiência com outras coisas, faz uma mistura e cria uma realidade. A criança ainda não tem essa “maturidade” de não confrontar os fatos”, acrescentou.

Eliana explicou que na infância há uma possibilidade maior delas serem afetadas por experiências com as quais não soube lidar direito. Se a criança tem várias vivências negativas, essas memórias vão sendo registradas, ajudando a construir as percepções da vida adulta.

“Às vezes a mãe fala alguma coisa e só porque está com uma cara um pouco feia ou fez uma expressão um pouco zangada, a criança já fica apavorada achando que vai acontecer alguma coisa e a mãe só estava de mau humor. Mas a criança interpreta como sendo alguma coisa de ataque a ela e guarda aquela emoção como uma emoção muito difícil e isso aparece anos mais tarde quando a pessoa vai fazer um processo terapêutico. E pouco importa o que a mãe fez ou não, o que importa é a memória que ficou daquela pessoa e que vai sendo o tijolinho da construção da vida psíquica dela”, salientou Eliana.

E educar sem agressão é possível. De acordo com Eliana, é importante que os pais estejam sempre abertos ao diálogo com os filhos e que não haja mistério e nenhuma sombra.

“É justo nessa liberdade de se expressar e de dizer o que está sentindo que a organização psíquica vai se fazendo. Uma família onde tenha muitas áreas cinzas, não podendo falar sobre determinados assuntos, não é legal. É importante que os pais deixem o diálogo aberto”.

E em relação aos adultos, buscar o processo de autoconhecimento é fundamental.

“É o maior presente que você pode se dar, porque isso vai fazer com que você consiga reviver as questões e dificuldades. Acontece que não é muito simples, porque é como se tivesse posto um curativo e tivesse que arrancar. Não sabe muito bem como está o machucado e às vezes dói arrancar o curativo, mas não tem outro jeito. Precisa ter coragem para rever isso aí, mas o resultado pode ser muito compensador. A qualquer tempo você pode entrar no processo de autoconhecimento, mesmo na velhice”, apontou Eliana.

Em 2014, passou a vigorar no Brasil a Lei da Palmada, alterando o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), bem como o Código Civil Brasileiro, estabelecendo como direito da criança e do adolescente a não submissão a qualquer forma de castigo.

“Você pode ser denunciado se bater no seu filho, ele é sujeito de direito, tem direito a muitas coisas, inclusive, à proteção. Mas essa mentalidade da lei não está 100% absorvida pela sociedade, ainda tem quem pensa que o filho é propriedade e pode fazer o que quiser, inclusive espancar. O respeito à criança, as suas necessidades, delicadeza para com as suas emoções, isso tudo é importante. Eu não posso fazer com o meu filho o que eu quiser porque ele é meu filho. Muito pelo contrário, o fato dele ser seu filho dá a você a grande responsabilidade de ser delicado, gentil e fazer o melhor que você puder. A criança tem menos defesas, está mais vulnerável. Então, vamos ser gentis com as crianças”, finalizou Eliana.

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