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Infectologista sobre o kit Covid: “a gente está chegando às raias da loucura de tão grave que isso é”

Médica Délia Engel alerta sobre perigo do tratamento precoce contra a Covid-19, que não tem eficácia comprovada e pode gerar danos graves à saúde

Por Bernardo Fonseca
29/03/21 - 13:55
Infectologista sobre o kit Covid: “a gente está chegando às raias da loucura de tão grave que isso é” Médica infectologista alerta para os riscos do chamado "tratamento precoce" contra a Covid-19, que não tem eficácia comprovada | Foto: Reprodução/Agência Brasil

Levante a mão quem nunca recebeu aquela mensagem no WhatsApp ou viu alguma postagem de um amigo ou parente, jurando que um tal “tratamento precoce” contra a Covid-19 existe e está ao alcance de todos? Reunindo alguns medicamentos, como hidroxicloroquina, ivermectina, annita, zinco, vitaminas C e D, e até antibiótico, como azitromicina, o chamado “kit Covid” ajudaria a prevenir a contaminação pelo vírus, ou amenizaria os sintomas de quem está infectado. Mas, fatos são fatos e, infelizmente, a ciência é categórica: ainda não há como tratar o novo coronavírus de forma antecipada. Para prevenir casos graves, somente com vacina.

“O kit-Covid é uma criação alegórica de drogas que, num primeiro momento, se pensou que poderiam fazer algum efeito, como a cloroquina”, explica a infectologista Délia Engel. “Alguns trabalhos científicos que foram publicados, mas eram ruins em termos de qualidade, tentaram identificar se esses remédios eram eficazes. Com o tempo, provou-se que não. Mas as coisas foram criando um vulto como se fosse realmente um kit salvador, quando na verdade não é”, alerta.

E, mais de um ano após o início da pandemia, ainda há quem insista em comprar esses medicamentos, e muitas vezes tomá-los em altas doses. “Há muitos meses que a gente já tem certeza absoluta, por bons e criteriosos trabalhos científicos, que eles não têm eficácia”, reforça.

Todo medicamento tem efeitos colaterais, mas a automedicação e a hiperdosagem podem trazer consequências graves. “A cloroquina pode provocar arritmia, por exemplo. No caso da ivermectina, estamos vendo pacientes tendo evolução gravíssima de complicações de problemas de fígado, inclusive para transplante. E no caso da Covid, posso dizer que nenhuma dessas drogas prestam. Não servem para nada”, desabafa a infectologista.

Délia acredita que há uma confusão criada pelo governo federal quando segue propondo o Kit Covid e a ciência fica correndo atrás dizendo “pelo amor de Deus, não acreditem nisso, pois não adianta”. Tanto o presidente da República quanto o próprio Ministério da Saúde foram e são entusiastas do kit. E não para aí. O próprio Conselho Federal de Medicina (CFM) não condenou a prescrição do chamado tratamento precoce, e libera médicos para receitarem de acordo com a consciência.

Entretanto, outras entidades, como as sociedades brasileiras de Infectologia, de Pneumologia, de Pediatria, assim como a Associação Médica Brasileira, vêm alertando que não existe tratamento precoce e alertam para os riscos do uso dos remédios do kit. “O fato de colegas médicos seguirem prescrevendo o kit Covid é muito prejudicial. Estamos vivendo um momento muito triste no Brasil”, enfatiza.

A pessoa muitas vezes se sente insegura ao ser acompanhada por um médico que não vá passar o kit Covid. E ele às vezes vai na farmácia sozinho e compra. Não pode sair tomando remédio como se fosse água. Automedicação nunca. A gente está chegando às raias da loucura de tão grave que isso é.

Outra preocupação que surge com o uso indiscriminado de medicamentos sem eficácia, incluindo antibiótico, é com o surgimento de bactérias mais resistentes. “Vai modificar a flora pulmonar da pessoa, por exemplo, e quando ela adoecer de uma pneumonia bacteriana, o antibiótico comum pode não ser mais útil”, explica.

Ao invés de ajudar, o uso dos remédios do kit Covid pode atrapalhar o tratamento e a recuperação de quem, eventualmente, for contaminado pelo coronavírus. “Além do efeito colateral, é um problema para quem tem Covid grave, pois, se eventualmente a pessoa precise ser internada em UTI e desenvolve uma pneumonia, por exemplo, você já começou a usar remédio antes, e complicou a eficácia contra o que pode surgir”.

“Infelizmente, não existe tratamento precoce. A gente acompanha o doente e, no momento certo, a gente tem medicações apropriadas e direcionadas. Eu recebi um dia desses uma receita de tratamento precoce de 16 itens, que faz o paciente gastar o que ele não tem para comprar um monte de remédio que não vai fazer a menor diferença se ele tomasse os medicamentos ou só água”, finaliza.

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